São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

Próximo Texto | Índice

IGREJA

Law é principal líder católico e primeiro cardeal dos EUA a cair por causa de casos de abusos sexuais em sua arquidiocese

Crise causa renúncia do arcebispo de Boston

DA REDAÇÃO

O cardeal Bernard Law, figura central no pior escândalo que atingiu a Igreja Católica nos EUA, renunciou ontem, com a aprovação do Vaticano, ao posto de arcebispo de Boston após meses de críticas pela forma com que lidou com os abusos sexuais cometidos por padres da sua arquidiocese.
Law, 71, é o principal líder católico e o primeiro cardeal norte-americano a cair por causa dos escândalos sexuais que atingiram a igreja recentemente.
O papa João Paulo 2º, 82, aceitou a renúncia depois de ele ter-se reunido com Law ontem de manhã. O papa nomeou o bispo Richard Lennon para administrar a arquidiocese temporariamente.
"Estou profundamente grato ao Santo Padre por ele ter aceitado minha renúncia ao posto de arcebispo de Boston", afirmou Law, em um comunicado divulgado pelo Vaticano.
"Rezo fervorosamente para que essa ação possa ajudar a Arquidiocese de Boston a experimentar a cura, a reconciliação e a unidade de que tão desesperadamente precisamos", disse Law.
"A todos aqueles que sofreram por causa de meus erros, eu peço desculpas e peço perdão."
Lennon assume o posto em um momento extremamente delicado. Mais de 400 vítimas estão processando a arquidiocese, e Law adotou medidas para um pedido de falência.
A crise em Boston foi agravada pela admissão por parte de Law de que ele não havia tomado medidas concretas contra ao menos um padre acusado de abusos sexuais que depois foi transferido a outro posto onde teria cometido novos abusos contra coroinhas.
O papa ficou "profundamente entristecido" com tudo o que aconteceu, segundo uma autoridade do Vaticano que não quis se identificar. Law era um dos conselheiros mais próximos de João Paulo 2º nos EUA.
Em abril, Law ofereceu sua renúncia em uma reunião com o papa, mas ele rejeitou a idéia.
Law permanece como cardeal, o que significa que ele poderia assumir outro posto, além de conservar o direito ao voto numa eleição papal.
Vítimas de abusos, leigos e até mesmo alguns padres pediam a renúncia de Law depois de ele ficar à frente da Arquidiocese de Boston durante 18 anos.
Chris Coyne, porta-voz da Arquidiocese de Boston, disse que a renúncia foi "apenas mais um momento de tristeza por tudo o que aconteceu na grande tristeza e na dor que atingiram a arquidiocese, começando com a tragédia monumental do abuso de crianças por padres e com o fracasso e as falhas da administração em lidar adequadamente com aqueles abusos".
Law tinha ficado no Vaticano a semana inteira, mas longe dos jornalistas e dos fiéis, alimentando boatos sobre uma renúncia iminente. O cardeal viajou de Boston a Roma, sem anúncio prévio, para discutir com autoridades católicas seu futuro e assuntos relacionados à sua arquidiocese.
Nos últimos dias, novas revelações vieram à tona com a liberação de milhares de páginas dos arquivos da arquidiocese.
Entre os piores casos documentados nos arquivos estão o de um padre que batia em sua governanta, o de outro que trocava cocaína por sexo e o de um terceiro padre que afirmava ser Cristo para convencer adolescentes que se preparavam para virar freiras a manter relações sexuais com ele.
Vítimas de abusos acusaram Law de estar mais preocupado com sua reputação pessoal do que de lidar honestamente com o escândalo.
O substituto de Law, Lennon, declarou que estava rezando pelas vítimas de abusos sexuais e prometeu "trabalhar em prol da cura, enquanto igreja, e ampliar a missão de Jesus Cristo em nossa comunidade".
"Estou grato pelas boas ações que Sua Eminência, o cardeal Law, praticou por nós, como arcebispo, e pela amizade que eu tenho com ele", afirmou Lennon. "Peço que rezemos por ele, que continua a serviço da igreja."


Com agências internacionais


Próximo Texto: Leia a íntegra da nota de renúncia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.