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CAÇA ÀS BRUXAS
Site recolhe informações sobre professores e instituições que "impõem aos alunos" opiniões "antiamericanas"
Direita dos EUA monitora acadêmicos "não-patriotas"
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
Um clima de caça às bruxas ronda os departamentos de estudos
sobre o Oriente Médio nas universidades americanas.
Na esteira dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, setores conservadores do meio acadêmico e político dos Estados
Unidos têm se lançado à procura
de professores e instituições considerados "não-patrióticos".
Um exemplo é o Fórum do
Oriente Médio, sediado na Pensilvânia. A organização, por meio do
site www.campus-watch.org, recomenda uma lista de professores
e universidades que, na avaliação
do grupo, servem aos interesses
da segurança e da política externa
americana no Oriente Médio.
O site também recolhe informações sobre estabelecimentos que
divulgariam mensagens antiamericanas. Os relatos são fornecidos
por alunos.
O criador do Campus Watch,
Daniel Pipes, defende a elaboração desse tipo de lista para prevenir a divulgação de doutrinas que
pregam o "extremismo" e a "intolerância". Ele argumenta que boa
parte dos profissionais dedicados
a estudos árabes ou islâmicos nos
EUA oferece uma visão distorcida
e parcial para os estudantes.
"Acadêmicos [dos departamentos] sobre o Oriente Médio impõem as suas opiniões aos estudantes e, às vezes, esperam que esses alunos abracem esses ideais,
punindo aqueles que não o fazem
com notas mais baixas", diz em
texto do site Campus Watch.
O que poderia soar como uma
iniciativa isolada de identificação
de profissionais "antiamericanos" encontra respaldo em alguns
congressistas americanos. Atualmente está em estudo no Senado
uma lei que prevê reformas no sistema de regulação dos departamentos de estudos internacionais
das universidades.
Um dos pontos polêmicos do
projeto é a criação de um comitê
para monitorar as atividades desses departamentos. O texto, já
aprovado pela Câmara dos Representantes (deputados), diz que
o objetivo da criação do órgão é
"fazer recomendações que promovam a excelência dos programas de educação internacional".
Essa e outras propostas podem
ser incorporadas ou não ao texto
final que o Senado deve apresentar ainda neste semestre.
Pipes é, aliás, um dos maiores
defensores desse projeto. Como
membro do Instituto da Paz dos
Estados Unidos, o fundador do
Campus Watch tem grande acesso aos congressistas. O instituto é
uma entidade apartidária pertencente ao Congresso dos EUA.
O professor Rashid Khalidi, do
setor de estudos árabes da Universidade Columbia, em Nova
York, vê a legislação com apreensão. "Esse comitê tem a intenção
de impor uma agenda restrita aos
estudos sobre o Oriente Médio.
Essa idéia tem sido apoiada por
um grupo de macarthistas que se
mostram inimigos da real liberdade acadêmica", disse à Folha.
A referência ao macarthismo
diz respeito à política de perseguição aos suspeitos de pertencer ao
Partido Comunista nos EUA nos
anos 50, liderada pelo senador
americano Joseph McCarthy. Um
dos instrumentos dessa política
era a elaboração das chamadas
"listas negras".
Khalidi afirma ainda que a criação desse grupo de supervisores
seria uma interferência governamental direta que poderia ser usada barrar a liberação de recursos
para departamentos considerados "antipatrióticos".
Barbara Petzen, do Centro de
Estudos do Oriente Médio da
Universidade Harvard, também
critica um monitoramento ostensivo no meio acadêmico. "Do jeito
que está, essa lei é uma tentativa
de impor uma visão de direita e
pró-israelense nos departamentos de estudos do Oriente Médio",
diz. "Nosso trabalho é preparar os
estudantes para lidar com as
nuances das questões do Oriente
Médio. A realidade não pode ser
só preta ou branca."
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