São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2000


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DESASTRE AMBIENTAL
Cianeto que vazou de mina acaba com fauna e flora do rio Tisza; Iugoslávia quer compensação
Veneno "mata" afluente do Danúbio

France Presse
Mineradora Aurul, em Baia Mare (noroeste da Romênia), onde se suspeita ter ocorrido o vazamento de cianeto


HERVÉ KEMPF
do "Le Monde", em Bucareste

Um vazamento de cianeto na Romênia causou uma catástrofe ecológica no rio Tisza, que passa pela Hungria e deságua no Danúbio, em solo iugoslavo.
"As consequências são trágicas. Cerca de 15 toneladas de peixe foram removidas do rio Tisza", disse Branislav Blazic, ministro do Meio Ambiente da Iugoslávia.
Ele disse que a fauna do rio está "morta" e que o país buscará compensação pelo derrame deveneno.
"É um dos maiores desastres ecológicos da história da Europa", afirmou Philip Weller, do Programa Danúbio do Fundo Mundial para a Natureza.
Toda forma de vida parece destruída ao longo de centenas de quilômetros do rio Tisza.
A poluição começou com o vazamento de perto de 100 mil m3 de uma mistura rica em cianeto, dia 31 de janeiro, de uma mina na Romênia: um dos reservatórios da empresa Aurul (ligada à australiana Esmeralda Explorer), em Baia Mare, se rompeu, deixando a água envenenada poluir os rios Szamos e Tisza. O cianeto atingiu a Iugoslávia e chegou ao Danúbio anteontem.
Uma fonte oficial húngara indicou que ainda é cedo para fazer um balanço do desastre, mas que 90% dos peixes, plantas e outros organismos já haviam morrido no Tisza.
"Toda a cadeia alimentar do rio está morta", segundo Gyorgy Torok, diretor adjunto da Agência Fluvial do Baixo Tisza. Estudos de laboratórios romenos mostraram que a concentração de cianeto era, no dia do acidente, 800 vezes maior que os níveis permitidos. Em 12 de fevereiro, em Szeged, na Hungria, a 700 km de Baia Mare, o nível de cianeto ainda era 130 vezes superior ao autorizado.
O acidente arruinou a pesca no Tisza e afetará o turismo, que vinha se desenvolvendo rapidamente ao longo do rio.
Karoly Pinter, do Ministério da Agricultura húngaro, diz que não é o cianeto que vai causar o problema mais grave. A concentração de cianeto já havia voltado a níveis aceitáveis, anteontem, na Hungria. "O cianeto pode ser diluído, mas metais pesados, muito tóxicos, como o mercúrio, se misturaram à lama das margens do rio. Esses metais desintegram-se muito mais lentamente e envenenam o ambiente por muito mais tempo", disse.
Na Iugoslávia, toneladas de peixes mortos foram retirados do rio, e as autoridades proibiram a utilização de suas águas e a pesca. Além disso, há uma outra ameaça: as águas do Tisza eram usadas para irrigar as plantações, o que não poderá mais ocorrer.
O ministro iugoslavo Blazic disse que a Romênia deve responder pelo acidente diante da Corte Internacional de Justiça de Haia. A Hungria pediu à Romênia que "reforme seu sistema de controle de abusos do meio ambiente".


Tradução de Márcio Senne de Moraes


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