São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Oposição libanesa acusa a Síria pelo ataque a Hariri, reivindicado por grupo obscuro supostamente ligado à Al Qaeda

Atentado mata ex-premiê em Beirute

Joseph Barrak/France Presse
Em Beirute, bombeiros correm no local da explosão que matou Rafik Hariri, crítico da presença síria no Líbano quando era premiê


DA REDAÇÃO

Um atentado matou ontem Rafik Hariri, premiê do Líbano de 1992-98 e de 2000-04, provocando temores de que a já deteriorada situação política do Líbano se aprofunde. Outras nove pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas no ataque, em Beirute.
Não está claro quem foi o responsável pela explosão de 300 kg de TNT, tampouco se sabe se foi um carro-bomba, um suicida ou um explosivo colocado na rua.
Duas hipóteses circulavam na região sobre o autor: a Síria ou aliados sírios, pela oposição de Hariri à presença síria no Líbano, ou um grupo ligado à Al Qaeda, devido às ligações do premiê com a monarquia saudita -inimiga da rede terrorista.
A segunda hipótese surgiu após um obscuro grupo divulgar a imagem de um homem barbado e com vestes árabes reivindicando o ataque e dizendo que "Hariri foi morto por ser um tirano". O homem foi identificado como Abu Adas, palestino que vive em Beirute. Autoridades disseram que ele saiu de sua casa ontem pela manhã e não retornou mais.
A possibilidade de envolvimento da Síria foi levantada pela oposição libanesa. Especulava-se também que Israel ou os EUA estivessem por trás para desestabilizar o Líbano. Não estava descartada ainda a possível responsabilidade de inimigos políticos e empresariais do premiê.
Hariri, antes aliado da Síria, tornou-se um opositor da influência de Damasco na política libanesa. No momento do atentado, ele retornava de uma sessão no Parlamento na qual eram discutidas as regras da eleição parlamentar libanesa, em maio.
Em 2004, Hariri renunciou ao cargo de premiê pela segunda vez após se opor à prorrogação do mandato do presidente do Líbano, Emile Lahoud, seu rival político. Hariri comparte da opinião de parcela crescente dos libaneses que rejeitam a manutenção de tropas sírias no país e do controle sobre a política. Há cerca de 15 mil soldados sírios no Líbano hoje.
Michel Aoun, ex-premiê libanês durante a Guerra Civil (1975-90), acusou a Síria de ser responsável pelo atentado. "Esse regime imposto pela Síria [Lahoud] está por trás da morte", disse.
O presidente libanês, buscando desvincular-se do atentado, disse que a morte de Hariri foi "um dia negro na história libanesa". O governo pediu cuidado à imprensa.
Mas, ontem mesmo, opositores da presença síria protestaram diante da Universidade Americana, em Beirute. À noite, o Exército libanês entrou em estado de alerta e tropas saíram às ruas.
O ditador da Síria, Bashar al Assad, condenou o atentado, classificando-o "como um crime horrível", e pediu que a população libanesa não desse ouvidos "aos que querem conturbar o cenário".
No EUA, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse que o presidente George W. Bush estava "chocado e revoltado".
O sírio-americano Murhaf Jouejati, do Instituto de Oriente Médio, em Washington, disse à Folha que houve ajuda externa para o ataque, acrescentando que "é previsível que a Síria acuse Israel e vice-versa". Segundo ele, o mais grave é que ninguém saberá ao certo quem são os responsáveis, e a situação pode se deteriorar, com vinganças de todos os lados, lembrando o período que antecedeu a Guerra Civil (1975-90).
A jornalista americana Helena Cobban, articulista do diário árabe "Al Hayat", de Londres, afirmou à Folha que "existe também a possibilidade de que o ataque tenha sido orquestrado por uma campanha para desestabilizar o Líbano com o objetivo de colocar os libaneses contra a Síria".
Em notas, os governos do Brasil e do Estado de São Paulo lamentaram a morte de Hariri.

Colaborou Gustavo Chacra, da Redação


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