São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Índice

FINAL FELIZ

Nove casais diziam ser deles a criança que foi arrancada dos braços da mãe pelo tsunami

DNA revela pais verdadeiros do "bebê 81"

DA REDAÇÃO

Enfim o "bebê 81" encontrará sossego. Não bastasse ter sido arrancado dos braços de sua mãe pelo tsunami que atingiu o sul da Ásia em dezembro, nove casais passaram a disputar sua guarda após a tragédia, afirmando serem seus pais. Finalmente, o resultado de um teste de DNA revelou seus pais verdadeiros.
O "bebê 81", ou melhor, Abilash Jeyarajah, é filho de Jenita e Murugupillai Jeyarajah, disse ontem o juiz do Tribunal de Kalminai (leste do Sri Lanka).
Após ter sido arrastado pelas águas que varreram o Sri Lanka em 26 de dezembro, deixando 31 mil mortos, o bebê foi encontrado sobre uma pilha de escombros e levado ao hospital de Kalmunai, com ferimentos leves.
Apelidado de "bebê 81" por ter sido o paciente número 81 a dar entrada naquele dia no hospital, Abilash, hoje com quatro meses, mal sabia que seus tormentos estavam apenas começando.
Todos os demais bebês do hospital tinham pais ou família conhecidos, exceto ele. A notícia se espalhou. Em pouco tempo, dezenas de casais, ainda sob o impacto do desespero de terem visto seus filhos arrastados pelas águas, acorreram ao hospital. O problema é que não apenas seus pais verdadeiros, mas um total de nove casais, passaram a afirmar que o "81" era seu filho.
O fato é compreensível: no Sri Lanka, o tsunami matou cerca de 12 mil crianças -40% do total dos mortos. Em vez de aceitar a realidade, era menos doloroso para alguns ver no "81" o seu filho. No entanto, nenhum casal foi mais insistente em suas alegações de paternidade do que os pais verdadeiros de Abilash.
Quando souberam que, devido à disputa pela criança, ela não lhes seria entregue, Jenita e Murugupillai primeiro ameaçaram se suicidar. Em seguida, juntaram uma multidão de pessoas e marcharam todos para o hospital, determinados a voltarem para casa com o bebê.
O casal foi preso, sob acusação de tentar "roubar" a criança. Eles foram liberados em seguida, mas o bebê passou a receber proteção da polícia.
Começou então a luta na Justiça. Dos nove casais que clamavam serem os pais da criança, Jenita e Murugupillai foram os únicos que preencheram uma requisição formal de guarda do bebê. Mas para a Justiça isso não bastava, pois eles não possuíam documento algum que pudesse provar suas alegações.
Segundo o casal, o motivo disso era simples: tudo o que possuíam, inclusive os documentos, foi levado pela água. O tribunal decidiu então que o bebê só sairia do hospital se exames de DNA determinassem que Jenita e Murugupillai eram de fato seus pais verdadeiros.
Após quase dois meses de angústia, o resultado saiu ontem. "Sabíamos que era nosso filho, mas tivemos que esperar até agora. Nossas súplicas foram ouvidas", afirmou o pai após a divulgação do exame. A criança será entregue definitivamente aos pais na quarta-feira.
A mãe, Jenita, disse que, por ter seus pedidos atendidos, agora terá que cumprir a promessa que fez aos deuses hindus: quebrar cem cocos no templo de Ganesh, oferecer arroz doce ao deus guerreiro Murugan, e matar um galo à deusa Kali.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Religião: Papa passa semana em recolhimento para orações
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.