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"Nós sabemos" da culpa do Irã, diz Bush
Presidente defende que Guarda Revolucionária Iraniana arma insurgência iraquiana e promete que vai agir a respeito
Líder americano declara que protegerá seus soldados, mas nega ataque; afirmação faz parte de uma escalada
de acusações contra Teerã
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
"Nós sabemos." Assim George W. Bush respondeu ao ser
instado a explicar como os EUA
sabiam que iranianos estariam
armando a insurgência iraquiana para minar a presença norte-americana naquele país,
uma das acusações que a Casa
Branca lança contra Teerã numa guerra de palavras e ações
entre os dois governos cuja
temperatura sobe a cada dia.
"O que nós sabemos é que a
força Quds é instrumental em
prover IEDs para redes dentro
do Iraque", disse o presidente
em entrevista coletiva ontem,
em Washington. "Sabemos disso. E sabemos que a força Quds
é parte do governo iraniano. Isso é sabido. O que não sabemos
é se os líderes principais do Irã
mandaram a força Quds fazer o
que fizeram."
"Quds" é uma divisão da
Guarda Revolucionária Iraniana, força militar islâmica ultra-religiosa e autônoma das Forças Armadas, sobre a qual acredita-se que o ex-membro e
atual presidente iraniano,
Mahmoud Ahmadinejad, tenha
grande influência. "IEDs" é a
sigla para "artefato explosivo
improvisado", a arma preferida
da insurgência no Iraque.
Mais adiante, Bush relativizaria o papel direto de Teerã.
"Pode ser que eles [o governo
iraniano] saibam ou não, mas o
que interessa é que elas estão
lá", afirmou. "O que é pior? Que
eles saibam ou não?". Depois,
diria: "Se Ahmadinejad ordenou as forças Quds a fazer isso,
eu não creio que saibamos. Mas
sabemos que eles estão lá, e eu
pretendo fazer algo a respeito."
Isso não significa, explicou o
presidente, que os EUA atacarão o Irã, apenas que o comando militar norte-americano
"fará tudo para proteger seus
soldados". "Nós sabemos que
eles estão lá e nós vamos proteger nosso soldados", disse. "Pedi a nossos comandantes que
façam algo a respeito."
Por "algo", no entanto, não se
entenda "guerra". "Isso significa que você está tentando ter
um pretexto para a guerra?",
repetiu retoricamente a pergunta de um jornalista. "Não.
Significa que eu estou tentando
proteger nossas tropas."
Ontem ainda, o general William Caldwell disse que o líder
xiita radical Moqtada al Sadr
deixara o Iraque em direção ao
Irã cerca de um mês atrás. Militantes ligados ao clérigo, no entanto, disseram que Sadr continuava em Najaf, sul do país.
"Lei e ordem"
Bush comentou também o
plano de segurança da capital
iraquiana, que começou a ser
implantado ontem. Batizado de
"Operação Lei e Ordem", como
no seriado policial de TV norte-americano, consiste em quatro
pontos: fechamento das fronteiras do Iraque com Irã e Síria,
com alguns pontos de exceção;
suspensão do porte de arma em
Bagdá; extensão do toque de recolher em uma hora na capital,
agora das 20h às 6h; e aumento
de operações de revista.
Mas o presidente admitiu: "A
operação para tornar Bagdá segura levará tempo, e vai haver
violência". Segundo Bush, "há
uma estratégia ativa para minar o governo do [premiê iraquiano Nouri] al Maliki".
Bush aproveitou para cutucar a oposição. "Meus generais
sabem que a meta deles [insurgentes] é levar pessoas aqui nos
EUA a dizer que não vale a pena." Ele aludia à iniciativa do
Congresso, dominado pelos democratas, de passar uma resolução contra seu plano -que
deve ser aprovada amanhã.
Tocou então no ponto que o
aflige: o poder do Congresso de
cortar verbas para o envio de
mais tropas. "Em breve o Congresso estará apto a votar uma
proposta de lei que provê fundos de emergência para nossas
tropas", disse. "Nossos soldados estão contando com seus líderes eleitos em Washington
para prover a eles o apoio de
que precisam nesta missão."
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