São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

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"Nós sabemos" da culpa do Irã, diz Bush

Presidente defende que Guarda Revolucionária Iraniana arma insurgência iraquiana e promete que vai agir a respeito

Líder americano declara que protegerá seus soldados, mas nega ataque; afirmação faz parte de uma escalada de acusações contra Teerã

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

"Nós sabemos." Assim George W. Bush respondeu ao ser instado a explicar como os EUA sabiam que iranianos estariam armando a insurgência iraquiana para minar a presença norte-americana naquele país, uma das acusações que a Casa Branca lança contra Teerã numa guerra de palavras e ações entre os dois governos cuja temperatura sobe a cada dia.
"O que nós sabemos é que a força Quds é instrumental em prover IEDs para redes dentro do Iraque", disse o presidente em entrevista coletiva ontem, em Washington. "Sabemos disso. E sabemos que a força Quds é parte do governo iraniano. Isso é sabido. O que não sabemos é se os líderes principais do Irã mandaram a força Quds fazer o que fizeram."
"Quds" é uma divisão da Guarda Revolucionária Iraniana, força militar islâmica ultra-religiosa e autônoma das Forças Armadas, sobre a qual acredita-se que o ex-membro e atual presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, tenha grande influência. "IEDs" é a sigla para "artefato explosivo improvisado", a arma preferida da insurgência no Iraque.
Mais adiante, Bush relativizaria o papel direto de Teerã. "Pode ser que eles [o governo iraniano] saibam ou não, mas o que interessa é que elas estão lá", afirmou. "O que é pior? Que eles saibam ou não?". Depois, diria: "Se Ahmadinejad ordenou as forças Quds a fazer isso, eu não creio que saibamos. Mas sabemos que eles estão lá, e eu pretendo fazer algo a respeito."
Isso não significa, explicou o presidente, que os EUA atacarão o Irã, apenas que o comando militar norte-americano "fará tudo para proteger seus soldados". "Nós sabemos que eles estão lá e nós vamos proteger nosso soldados", disse. "Pedi a nossos comandantes que façam algo a respeito."
Por "algo", no entanto, não se entenda "guerra". "Isso significa que você está tentando ter um pretexto para a guerra?", repetiu retoricamente a pergunta de um jornalista. "Não. Significa que eu estou tentando proteger nossas tropas."
Ontem ainda, o general William Caldwell disse que o líder xiita radical Moqtada al Sadr deixara o Iraque em direção ao Irã cerca de um mês atrás. Militantes ligados ao clérigo, no entanto, disseram que Sadr continuava em Najaf, sul do país.

"Lei e ordem"
Bush comentou também o plano de segurança da capital iraquiana, que começou a ser implantado ontem. Batizado de "Operação Lei e Ordem", como no seriado policial de TV norte-americano, consiste em quatro pontos: fechamento das fronteiras do Iraque com Irã e Síria, com alguns pontos de exceção; suspensão do porte de arma em Bagdá; extensão do toque de recolher em uma hora na capital, agora das 20h às 6h; e aumento de operações de revista.
Mas o presidente admitiu: "A operação para tornar Bagdá segura levará tempo, e vai haver violência". Segundo Bush, "há uma estratégia ativa para minar o governo do [premiê iraquiano Nouri] al Maliki".
Bush aproveitou para cutucar a oposição. "Meus generais sabem que a meta deles [insurgentes] é levar pessoas aqui nos EUA a dizer que não vale a pena." Ele aludia à iniciativa do Congresso, dominado pelos democratas, de passar uma resolução contra seu plano -que deve ser aprovada amanhã.
Tocou então no ponto que o aflige: o poder do Congresso de cortar verbas para o envio de mais tropas. "Em breve o Congresso estará apto a votar uma proposta de lei que provê fundos de emergência para nossas tropas", disse. "Nossos soldados estão contando com seus líderes eleitos em Washington para prover a eles o apoio de que precisam nesta missão."


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