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Ajuda de Chávez vem de fundos que só ele controla
Comissão da Assembléia Nacional e Banco Central divergem sobre total disponível
Venezuelano administra orçamento paralelo, alimentado pela estatal do petróleo e por excedentes das reservas e dos impostos
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Os milhões de dólares distribuídos pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em sua
turnê anti-Bush provêm de
fontes flexíveis de recursos, alimentadas pela venda de petróleo e com pouco controle institucional. A principal é o Fonden (Fundo de Desenvolvimento Nacional), espécie de
conta da qual o presidente venezuelano dispõe sem necessidade de aprovação prévia.
"O estatuto do Fonden contempla o financiamento de investimentos em educação, saúde e em áreas consideradas estratégicas pelo Executivo nacional, nas quais se inclui a ajuda externa", disse à Folha o deputado chavista Ricardo Sanguino, presidente da Comissão
de Finanças do Congresso.
Subordinado ao Ministério
das Finanças, o Fonden foi
criado em 2005 e se alimenta
de duas fontes: os recursos extras obtidos pela estatal
PDVSA com a venda de petróleo e o excedente das reservas
internacionais, calculado pela
diferença entre o total da reserva ao final de um exercício e o
nível adequado de reserva estimado pelo Banco Central.
O governo dá pouca informação sobre o Fonden, a ponto de
haver divergências até sobre o
total de que o fundo dispõe.
Em entrevista à Folha, em
seu gabinete, um dos seis diretores do BC venezuelano, Domingo Maza Zavala, estimou
que o fundo tenha US$ 25 bilhões. Já Sanguino, em entrevista por telefone, afirmou que
o Fonden administra US$ 13
bilhões.
Sem necessidade de autorização prévia, os recursos do
Fonden só são fiscalizados
após serem usados -pelo Congresso, controlado pelos chavistas depois do boicote da
oposição às últimas eleições legislativas, em 2005, e pelo controlador-geral da República,
que por sua vez é nomeado pela
Assembléia Nacional.
Questionado sobre valores
movimentados no Fonden,
Sanguino não soube informar a
quantia de dinheiro desse fundo usada fora do país no ano
passado nem quanto foi o total
da ajuda prometida por Chávez
em sua recente viagem.
Liberdade
"Como o Fonden não está
submetido por enquanto ao regime orçamentário ordinário, o
governo tem certa liberdade ou
flexibilidade para a utilização
desse fundo", afirmou Maza, do
Banco Central. "Mas, dadas as
características do governo presidido pelo tenente-coronel
Hugo Chávez, ele adquiriu uma
certa autoridade que lhe permite fazer operações sem que
precise prestar contas."
O bilionário Fonden não é o
único fundo do governo venezuelano para financiar sua política externa, explica Maza.
Ele cita também o Bandes
(Banco de Desenvolvimento
Econômico e Social), que abriu
no Uruguai uma linha de crédito de até US$ 500 por família
para a compra de material escolar, o Ministério das Finanças e a estatal PDVSA.
"A totalidade dos ativos em
moeda estrangeira que o setor
público tem, incluindo as reservas monetárias no Banco Central, pode ser estimada em US$
60 bilhões", afirma.
E ainda tem mais, segundo o
diretor do BC: "Uma parte [do
gasto externo] é autorizada por
meio do Orçamento ordinário,
aprovado pela Assembléia. Outra vem de créditos adicionais
advindos do excedente de arrecadação fiscal."
"O Orçamento é calculado na
base de US$ 30 o barril de petróleo. O preço de mercado é de
pelo menos US$ 50. Essa diferença dá lugar a um excedente
de arrecadação sobre o Orçamento. Assim é formado, na
prática, um orçamento adicional", afirma o diretor do BC,
que chama os fundos de um
"terceiro orçamento".
Modalidades de ajuda
Maza divide a ação chavista
em três categorias.
A primeira se refere a doações e subsídios a fundo perdido, como os US$ 15 milhões
prometidos às vítimas das enchentes de fevereiro na Bolívia.
O segundo tipo é o de investimento de caráter financeiro,
caso da Argentina, de quem
Chávez comprou US$ 3,5 bilhões em títulos da dívida.
O terceiro tipo é a compra
parcial ou total de empresas,
como a cooperativa de laticínios argentina Sancor, que receberá US$ 135 milhões.
Para comparar: o total de financiamentos contratados pelo brasileiro BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) na América do Sul ao longo dos últimos
anos é de US$ 1,16 bilhão.
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