São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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Projeto é ditado por agenda estrangeira, diz economista

DA REDAÇÃO

Só mesmo o interesse em garantir o controle do setor petrolífero do Iraque explica a pressa imposta pelos EUA para que a nova lei seja aprovada, em meio à violência e ao desgoverno em que o país está mergulhado. A opinião é do iraquiano Kamil Mahdi, professor de economia da universidade britânica de Exeter. Leia trechos de sua entrevista à Folha. (MN)

 

FOLHA - Por que o sr. é contra a lei?
KAMIL MAHDI
- Há problemas no processo e no conteúdo. O "timing" e o processo estão claramente sendo ditados por agendas estrangeiras. É óbvio que é preciso modernizar e reorganizar o setor. Mas a imposição de mudanças num momento em que o país está mergulhado no caos significa que a prioridade não é o interesse iraquiano. O processo inteiro foi extremamente opaco, conduzido a portas fechadas, com intervenções do embaixador dos EUA e lobbies de firma estrangeiras. O secretário de Energia dos EUA viu a lei antes dos parlamentares iraquianos. É inaceitável que um assunto de suprema importância, que trata da indústria responsável por mais de 90% da receita do governo, seja decidido sem debate.

FOLHA - O que mais incomoda o sr. no conteúdo da lei?
MAHDI
- A lei é inteiramente voltada para o envolvimento de empresas estrangeiras em contratos de longo prazo. O Iraque está numa situação anormal, portanto não deveria fazer contratos longos. Outro ponto preocupante é que as empresas passem a controlar a produção. Em contratos de longo prazo, isso significa permitir que elas, na prática, controlem o petróleo. O Iraque abdica de seus recursos ao abrir áreas de exploração a petroleiras do exterior.

FOLHA - Como o sr. avalia o sistema de distribuição de receitas estipulado na lei?
MAHDI
- Há dois lados: o da divisão da receita do petróleo e o da fragmentação do processo de tomada de decisões. É possível dividir a receita do petróleo sem fragmentar a indústria. O petróleo vem sendo tratado como uma fonte de financiar o consumo, quando deveria ser associado à reconstrução da infra-estrutura do país. Para isso, é preciso um planejamento nacional, não regional.

FOLHA - O investimento estrangeiro não é bem-vindo?
MAHDI
- O Iraque não precisa de investimento estrangeiro. O petróleo pode ser extraído com investimento nacional e, se necessário, por meio de empréstimos. O custo de exploração dos campos conhecidos é muito baixo. Com produção total, o retorno ocorre em questão de meses. Por isso, assinar contratos de produção de 20 anos é imperdoável. Há uma disparidade tecnológica que precisa ser corrigida, depois de tantos anos de guerras e isolamento, é verdade. Mas isso pode ser feito com medidas econômicas sensatas, não com a entrega dos recursos do país a estrangeiros.

FOLHA - Como os iraquianos receberam a lei?
MAHDI
- Há uma imensa inquietação sobre o assunto e a falta de transparência do governo não ajuda. Se essa lei passar, será mais uma fonte de instabilidade no país.


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