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Eleição na Argentina vira prévia de 2011
Peronismo vai às urnas rachado entre kirchnerismo e oposição; resultado dirá quem sai fortalecido na disputa pela Presidência
Kirchner lança candidatura a deputado federal em ato com presença de Cristina; votação que renova metade da Câmara será em junho
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
O PJ (Partido Justicialista)
lançou ontem a campanha a deputado federal do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), sua maior cartada para
uma eleição em que o peronismo, principal movimento político argentino, vai dividido em
quase todo o país.
Chamado peronismo em referência a seu fundador, o presidente Juan Domingo Perón
(1895-1974), o PJ está fracionado em ao menos 15 dos 24 distritos eleitorais, com listas pró
e contra o governo Cristina
Kirchner. Promove assim uma
espécie de "primária aberta",
decisiva para a reacomodação
de forças rumo à sucessão presidencial de 2011.
O pleito de 28 de junho renova metade dos deputados e um
terço do Senado. É crucial para
o casal Kirchner, que perdeu
metade da popularidade desde
o início do conflito com o setor
rural, em março 2008 -a aprovação ronda hoje os 30%.
"Estão dirimindo lideranças
no interior do peronismo para
a etapa pós-kirchnerista, que
pode começar em 29 de junho",
diz a analista Graciela Römer.
Dos 4 maiores distritos do
país, que somam 64% do eleitorado, o PJ vai dividido em 3
(Províncias de Buenos Aires,
Córdoba e Santa Fé). Em Buenos Aires (37% dos votos), onde
Kirchner é candidato, o maior
adversário é a aliança entre peronistas dissidentes e o PRO,
do prefeito Maurício Macri.
Em Córdoba (8,7% dos votos), o governador peronista
Juan Schiaretti, afastado do governo desde o conflito rural do
ano passado, patrocina uma lista opositora ao governo. "Jamais vão colocar a Província de
joelhos", disse anteontem no
lançamento de sua chapa.
Em Santa Fé (8,6% dos votos), o senador e ex-piloto de F1
Carlos Reutemann tenta a reeleição em lista separada do governo. Se vencer, crescerá como opção presidencial antikirchnerista no PJ.
Já se o PJ ganhar em Buenos
Aires, o governador Daniel
Scioli, segundo na lista governista e vice-presidente no governo Kirchner, se fortalece como carta para 2011. Embora
Cristina tenha o direito de concorrer à reeleição, a possibilidade hoje, dada sua baixa popularidade, é vista como remota.
Largada oficial
O ato de lançamento das candidaturas governistas do PJ teve participação de Cristina e
boa parte do ministério. O palco foi o do Teatro Argentino,
em La Plata, mesmo usado por
Cristina em 2007 para se lançar
à Casa Rosada. "Nós fazemos" é
o slogan da campanha.
Kirchner seguiu a linha de
seus últimos discursos: contrastou o país "em chamas" que
assumiu com feitos da sua gestão e da de Cristina, criticou a
mídia e a oposição. "Quando
me pediram que fosse candidato, não hesitei um só instante."
"Não é possível travar tudo,
como faz a máquina de impedir
[oposição]", atacou, em referência aos protestos ruralistas,
organizados pela oposição.
Não é a primeira vez que o
peronismo chega fraturado a
uma eleição. Em 2003, teve três
candidatos à Presidência
-Kirchner, Carlos Menem e
Adolfo Rodriguez Saá. Em
2005, o setor de Kirchner confrontou o do seu antecessor,
Eduardo Duhalde.
O cenário para 2011 é incerto.
"No peronismo todos se dividem, mas também se juntam.
Diante da possibilidade de perder as eleições, com uma oposição que poderia estar unida,
creio que o peronismo não será
suicida", diz Römer.
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