São Paulo, sexta-feira, 15 de maio de 2009

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Eleição na Argentina vira prévia de 2011

Peronismo vai às urnas rachado entre kirchnerismo e oposição; resultado dirá quem sai fortalecido na disputa pela Presidência

Kirchner lança candidatura a deputado federal em ato com presença de Cristina; votação que renova metade da Câmara será em junho

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

O PJ (Partido Justicialista) lançou ontem a campanha a deputado federal do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), sua maior cartada para uma eleição em que o peronismo, principal movimento político argentino, vai dividido em quase todo o país.
Chamado peronismo em referência a seu fundador, o presidente Juan Domingo Perón (1895-1974), o PJ está fracionado em ao menos 15 dos 24 distritos eleitorais, com listas pró e contra o governo Cristina Kirchner. Promove assim uma espécie de "primária aberta", decisiva para a reacomodação de forças rumo à sucessão presidencial de 2011.
O pleito de 28 de junho renova metade dos deputados e um terço do Senado. É crucial para o casal Kirchner, que perdeu metade da popularidade desde o início do conflito com o setor rural, em março 2008 -a aprovação ronda hoje os 30%.
"Estão dirimindo lideranças no interior do peronismo para a etapa pós-kirchnerista, que pode começar em 29 de junho", diz a analista Graciela Römer.
Dos 4 maiores distritos do país, que somam 64% do eleitorado, o PJ vai dividido em 3 (Províncias de Buenos Aires, Córdoba e Santa Fé). Em Buenos Aires (37% dos votos), onde Kirchner é candidato, o maior adversário é a aliança entre peronistas dissidentes e o PRO, do prefeito Maurício Macri.
Em Córdoba (8,7% dos votos), o governador peronista Juan Schiaretti, afastado do governo desde o conflito rural do ano passado, patrocina uma lista opositora ao governo. "Jamais vão colocar a Província de joelhos", disse anteontem no lançamento de sua chapa.
Em Santa Fé (8,6% dos votos), o senador e ex-piloto de F1 Carlos Reutemann tenta a reeleição em lista separada do governo. Se vencer, crescerá como opção presidencial antikirchnerista no PJ.
Já se o PJ ganhar em Buenos Aires, o governador Daniel Scioli, segundo na lista governista e vice-presidente no governo Kirchner, se fortalece como carta para 2011. Embora Cristina tenha o direito de concorrer à reeleição, a possibilidade hoje, dada sua baixa popularidade, é vista como remota.

Largada oficial
O ato de lançamento das candidaturas governistas do PJ teve participação de Cristina e boa parte do ministério. O palco foi o do Teatro Argentino, em La Plata, mesmo usado por Cristina em 2007 para se lançar à Casa Rosada. "Nós fazemos" é o slogan da campanha.
Kirchner seguiu a linha de seus últimos discursos: contrastou o país "em chamas" que assumiu com feitos da sua gestão e da de Cristina, criticou a mídia e a oposição. "Quando me pediram que fosse candidato, não hesitei um só instante."
"Não é possível travar tudo, como faz a máquina de impedir [oposição]", atacou, em referência aos protestos ruralistas, organizados pela oposição.
Não é a primeira vez que o peronismo chega fraturado a uma eleição. Em 2003, teve três candidatos à Presidência -Kirchner, Carlos Menem e Adolfo Rodriguez Saá. Em 2005, o setor de Kirchner confrontou o do seu antecessor, Eduardo Duhalde.
O cenário para 2011 é incerto. "No peronismo todos se dividem, mas também se juntam. Diante da possibilidade de perder as eleições, com uma oposição que poderia estar unida, creio que o peronismo não será suicida", diz Römer.


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