São Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

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Paquistão prende brasileiro em mesquita

Guardas acusam Rodrigo Moreto Cubek de causar tumulto em oração e gritar palavras sobre a Virgem Maria

Pregar outra religião em mesquita é considerado crime grave; embaixada brasileira interveio e diz esperar soltura amanhã

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD

Em um incidente inédito, um advogado brasileiro está preso no Paquistão por perturbar as orações de sexta-feira na mesquita Faisal, a principal da capital do país, Islamabad. O Itamaraty espera que ele seja libertado amanhã.
Rodrigo Moreto Cubek foi detido na tarde de anteontem pelos seguranças da mesquita quando tentou entrar na área reservada aos muçulmanos durante as orações mais importantes da semana. Ele gritava, segundo os guardas, palavras sobre a Virgem Maria. Sexta foi o dia de Nossa Senhora de Fátima.
Pregar outra religião numa mesquita é ofensa gravíssima na república islâmica, passível de punições que em casos extremos podem chegar à morte.
Além disso, grupos extremistas costumam atacar aqueles que são enquadrados nas leis sobre blasfêmia -um governador e um ministro do país foram mortos recentemente só por criticar a legislação.
Cubek fará 31 anos em junho e é de Curitiba (PR). Preso e interrogado, disse que estava com o visto vencido e que havia visitado Quetta (Baluquistão) e Peshawar (a "capital" das áreas tribais). Isso levantou ainda mais suspeitas da polícia, já que ambas as cidades são ninhos de extremistas islâmicos.
Após intervenção do embaixador brasileiro no país, Alfredo Leoni, a polícia concordou em não enquadrar o advogado inicialmente em crime de blasfêmia.
"Aparentemente, o rapaz tem problema mentais. Falamos com ele e a família, que confirmaram a condição. Ele sabe que errou, e creio que teremos essa questão resolvida rapidamente", disse.
Cubek está preso em um quarto numa delegacia, com cama e ar-condicionado. Segundo Leoni, ele está sendo bem tratado e permanece calmo, embora não consiga estabelecer uma narrativa coerente sobre sua estada. Seu visto venceu em 10 de maio, e tinha validade de um mês. Ou seja, poderia estar desde abril no país.
A embaixada colocou um advogado à disposição do brasileiro e pagou sua conta no hotel, deixando tudo pronto para sua imediata saída do Paquistão, assim que for solto.
A preocupação é óbvia. Além da eventual questão religiosa, depois do incidente Raymond Davis há uma grande sensibilidade sobre crimes de estrangeiros.
O americano, agente da CIA, matou dois paquistaneses no que chamou de tentativa de roubo, em janeiro. Embora ninguém admita oficialmente, eles também eram espiões. Os EUA alegaram imunidade diplomática, gerando protestos de rua violentos. Ele foi solto após pagamento de US$ 2,4 milhões às famílias das vítimas.
De todo modo, Cubek teve sorte. Se não fosse detido, era razoável a possibilidade de ele ser atacado pelos frequentadores da mesquita -a tolerância ao que se considera blasfemo é baixa no país.
Há poucos visitantes brasileiros no país de mais de 180 milhões de habitantes. Moradores, há apenas 33, sendo que cinco trabalham na Embaixada do Brasil.


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