São Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

'Morte de terrorista levará EUA a rever diplomacia'

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

A morte de Osama bin Laden deve forçar o governo americano a acelerar a retirada de tropas do Afeganistão, sob pressão do Congresso. Com isso, os EUA poderão se dedicar à ascensão da China, à ameaça do Irã e ao neo-imperialismo da Rússia, temas que foram negligenciados no pós-11 de Setembro. Essa é a opinião de Rheva Balla, diretora de pesquisas da consultoria internacional de risco e geopolítica Stratfor. "Os EUA estão reorganizando as prioridades de seu portfólio de política externa e a guerra no Afeganistão não vai estar entre as prioridades estratégicas", disse à Folha, por telefone.

 

Folha - O fato de bin Laden estar morto acelera a retirada de tropas do Afeganistão?
Rheva Balla
- Sim, acho que esse cenário está se desenhando. A morte de bin Laden não causou uma enorme perda de capacidade para a Al Qaeda. Sua influência era mais no campo ideológico, e mesmo essa já não era tão forte como alguns anos atrás.
No campo de capacidades físicas, nunca mais a Al Qaeda conseguiu reunir planejamento, esforços e dinheiro necessários para um atentado como o 11 de Setembro.
As franquias da Al Qaeda, como a da Península Arábica, no Iêmen, são ameaças, mas suas capacidades não são tão fortes assim.
Então agora os EUA estão reorganizando as prioridades de seu portfólio de política externa e a guerra no Afeganistão não vai estar entre as prioridades estratégicas.
Vamos voltar nossa atenção aos países que se aproveitaram de nossas preocupações com o mundo islâmico na última década.
A Rússia vem reconsolidando sua influência na periferia das ex-repúblicas soviéticas, a China vem enfraquecendo o poder dos EUA no Pacífico e o Irã está se preparando para o vácuo de poder no Iraque. Vai ser muito difícil justificar que os EUA tenham de permanecer no Afeganistão no longo prazo.
Não se pode acabar com a ameaça do terrorismo despejando tropas no Afeganistão.

Como vai evoluir a relação dos EUA com o Paquistão?
No momento, os EUA precisam do Paquistão para chegar a um entendimento político com o Taleban e conduzir a guerra do Afeganistão.
O Paquistão sabe que tem essa alavancagem com os EUA e a usa sempre.
E é por isso que a secretária de Estado, Hillary Clinton, deu declarações muito cautelosas em relação ao Paquistão, apesar da desconfiança que vem aumentando em relação ao papel do país em abrigar Bin Laden.

Os EUA vão agora se focar em Iêmen e Somália?
Acho que a estratégia de combate ao terrorismo vai mudar. Os EUA vão pôr em perspectiva esse combate, porque o terrorismo é uma ameaça que sempre vai existir, não dá para tentar acabar completamente com isso.
Estamos vendo o início de uma mudança no foco da política externa americana.
Vão se concentrar em questões que vêm se acumulando nos últimos anos e são muito importantes agora.


Texto Anterior: O fim da caçada: Casa de Bin Laden teve até casamento
Próximo Texto: Rubens Ricupero: A volta da igualdade
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.