|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ONU E DESENVOLVIMENTO
Líder boliviano ataca "minoria eficiente"
David Mercado - 27.mai.2004/Reuters
|
Bolivianas gritam durante protesto contra o governo em La Paz |
No encontro da ONU em São Paulo, o presidente Mesa diz à Folha que opositores estão desesperados diante do sucesso de seu governo
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Não é apenas a Venezuela de
Hugo Chávez que enfrentará um
difícil processo de consulta popular. Hoje, o Congresso boliviano
deve ratificar o dia 18 de julho como a data em que o país irá às urnas para votar uma lei que regulamentará a exportação de gás natural. Em 2003, os protestos contra a venda de gás culminaram na
renúncia do então presidente,
Gonzalo Sánchez de Lozada,
substituído por seu vice, o jornalista e empresário Carlos Mesa.
À Folha, Mesa disse que um
"não" na consulta pode pôr em
risco "a viabilidade econômica"
do país. Leia a seguir a entrevista
de Mesa, em São Paulo, durante o
11º Encontro da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento e Comércio).
Folha - Uma eventual decisão sobre a nacionalização do gás boliviano em consulta popular valerá
apenas para novos contratos ou
também incluirá os antigos?
Carlos Mesa - Do ponto de vista
da vigência de uma lei, não consideramos que a retroatividade seja
uma possibilidade. Uma lei não é
aprovada para o passado, mas para o futuro. Isso não quer dizer
que os contratos não possam ser
revistos por terem cometido irregularidades, por serem nulos ou
por não terem cumprido determinadas cláusulas. Mas são temas
completamente distintos.
Folha - Mas a oposição defende a
revisão dos contratos antigos.
Mesa - Isso é o que defende a
oposição, mas quem faz as perguntas [na consulta] é o governo.
O país sabe que não haverá revisão de contratos em razão da
aprovação dessa lei.
Folha - Em abril, o sr. conseguiu
desmobilizar uma greve geral, mas
as manifestações voltaram a crescer, inclusive com bloqueios de rodovias. Com o sr. vê esses protestos
às vésperas do referendo?
Mesa - São os que estão contra o
referendo, os que estão contra a
possibilidade de sucesso do governo no referendo. Eles não estão bloqueando apenas as estradas, mas o próprio referendo.
Existe um divórcio muito grande entre a popularidade do presidente, que está em mais de 65%, e
o esforço desesperado de grupos
radicais, que estão tentando conseguir pela violência o que não
conseguem pelo consenso.
São episódios que o governo está tentando desmontar caso a caso, porque não há nenhuma justificativa real que possa explicar os
bloqueios [de estradas]. Os bloqueios são ações de extrema violência sem nenhum conteúdo.
Acreditamos que, pelo diálogo,
vamos conseguir ganhar essa batalha, como temos ganhado. É
uma tarefa dura, há muita pressão
dos grupos radicais, os quais eu
chamo de "minorias eficientes".
Folha - Caso o sr. saia derrotado
na consulta popular, quais são as
suas opções políticas?
Mesa - O referendo é um tema
crucial, não apenas para o governo, mas para o país. Se a resposta
do referendo for "não", poderia
colocar em risco a viabilidade
econômica de nosso país. Creio
que o tema seja mais profundo. A
pergunta de fundo não é o que fará o presidente Mesa, mas o país.
Folha - Existe a possibilidade de o
sr. renunciar e convocar eleições
gerais caso seja derrotado?
Mesa - Como se costumar dizer
nesses casos, quando chegarmos
a esse ponto, vamos cruzá-lo.
Folha - Desde o início de seu governo, houve vários encontros e
pronunciamentos sobre a demanda boliviana de recuperar o acesso
ao mar via Chile. Houve avanços?
Mesa - O que fizemos em outubro foi definir uma linha muito
clara. Nós consideramos que o tema da soberania é importante,
não se pode insistir numa solução
para o problema da Bolívia sem
discutir o tema da soberania. Enquanto o Chile diz que não há nada pendente com Bolívia, a Bolívia diz que sim, há, e é necessário
que o mundo saiba.
Texto Anterior: Guerra sem limites 2: EUA exortam americanos a deixar Arábia Saudita Próximo Texto: Irã na mira: Agência nuclear da ONU exige que o Irã coopere já Índice
|