São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bush descarta retirada "precipitada" do Iraque

Após viagem a Bagdá, presidente afirma que esperar "violência zero" é ilusão

Norte-americano justifica segredo da visita de terça, mantido até para o premiê iraquiano, dizendo que "Iraque é um lugar perigoso"


DA REDAÇÃO

Um dia depois de sua visita-surpresa ao Iraque, o presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou que, apesar das pressões políticas, não vai retirar as tropas americanas do país até que o governo iraquiano esteja consolidado e seja capaz de assumir a segurança. Ele não especificou se acredita que isso ocorrerá num futuro próximo.
A afirmação contraria a expectativa da maioria dos americanos -favorável à volta, ainda que parcial, dos 130 mil militares- e ocorre num momento de crescimento dos ataques de insurgentes no Iraque.
O próprio presidente reconheceu que as pressões pela retirada tendem a aumentar com a proximidade das eleições parlamentares, em novembro, mas afirmou que uma saída precoce "tornaria o mundo um lugar mais perigoso". Bush disse ter prometido às autoridades iraquianas que isso não vai acontecer. No início do ano, autoridades militares chegaram a afirmar que o número de militares no país poderia cair para 100 mil já em 2006.
Em entrevista na Casa Branca, Bush afirmou ainda que não é realista esperar atingir o nível de "violência zero" no Iraque. "Espero que a população não tenha a expectativa de que subitamente haverá "violência zero". Isso não vai ocorrer", disse.
O presidente declarou que tem havido um "progresso contínuo" no combate aos insurgentes. Apesar disso, defendeu o segredo -até para o premiê- de sua viagem ao país dizendo que "o Iraque é um lugar perigoso". "É uma questão de segurança, porque sou um alvo de grande valor para alguns."
Na decolagem em Bagdá, anteontem, o avião da Presidência dos EUA percorreu a pista com todas as suas luzes apagadas. A pista também não tinha nenhum tipo de iluminação. O tanque não foi abastecido totalmente para que a aeronave pudesse subir mais rapidamente.
A visita-surpresa causou ontem o protesto, na capital iraquiana, de centenas de radicais xiitas. Eles empunhavam bandeiras do país, aos gritos de "Iraque para os iraquianos" e "não à ocupação".

Ofensiva em Bagdá
Ontem o primeiro-ministro Nuri al Maliki determinou uma megaoperação de segurança em Bagdá, numa tentativa de conter a violência crescente que atinge a cidade. Dezenas de milhares de militares -inclusive da coalizão formada pelos EUA-, foram às ruas. Foram instalados diversos pontos de fiscalização de automóveis, e ruas e estradas foram tomadas pelas tropas. Também foi anunciado que haverá toque de recolher, das 21h às 6h, mas não foi especificado o período em que a medida vigorará.
O número exato de militares na operação não foi divulgado, "por questão de segurança", mas autoridades do país afirmam que é a maior ofensiva do tipo em Bagdá desde que a soberania voltou às mãos iraquianas, em junho de 2004.
A operação, porém, não impediu que um carro-bomba matasse quatro pessoas e ferisse mais de dez nem que ocorresse um confronto numa área de maioria árabe sunita.
Em Azamiyah, sunita, houve troca de tiros, levando civis a correr em pânico. O embate ocorreu próximo à mesquita do Grande Imã Abu Hanifa, o mais sagrado local de adoração para o grupo religioso. Não houve registro de vítimas.
A maioria das lojas foram fechadas em Azamiyah e Dora, também de maioria sunita, onde há fortes focos de insurgência contra o governo. No distrito de Karradah, de maioria árabe xiita, tropas iraquianas faziam patrulha a pé, enquanto carros militares com metralhadoras ficavam nos cruzamentos prontos para atacar.
O premiê Maliki pediu aos iraquianos que sejam pacientes com as medidas de segurança e prometeu que as tropas vão respeitar os direitos humanos, sem perseguir nenhum grupo.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.