São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dinheiro para o Katrina pagou até troca de sexo

Congresso dos EUA aponta fraude em até 16% da verba às vítimas do furacão

Investigação parlamentar estima que o rombo chegue a US$ 1,4 bilhão; agência governamental admite o desvio de US$ 16,8 milhões


Barry Williams - 31.ago.2005/France Presse
Vítimas do Katrina recebem comida, em Gulf Port, Mississippi


DA ASSOCIATED PRESS

O governo dos EUA perdeu até US$ 1,4 bilhão em recursos destinados às vítimas dos furacões Katrina e Rita, que atingiram o país em 2005, e depois desviados -é o equivalente a 16% da ajuda financeira.
As fraudes incluem o pagamento de entradas para uma partida de futebol americano, férias tropicais, um advogado especializado em divórcio e até uma operação para mudança de sexo, segundo investigação realizada pelo Congresso.
O advogado Mark Lipkin, de Houston (Texas), afirma que não se lembra de ninguém pagando por seus serviços com um cartão de débito da Fema (Agência Federal de Gerenciamento de Emergências). Mas investigadores do Congresso dizem foi dessa forma que um de seus clientes pagou uma conta de US$ 1.000 a ele.
Prisioneiros, uma suposta vítima que usou um cemitério de Nova Orleans como seu endereço residencial e uma pessoa que passou 70 dias num hotel havaiano foram todos capazes de obter ajuda federal, segundo a investigação, que arranha ainda mais a imagem da já criticada Fema, acusada de demorar a reagir ao desastre provocado pelo Katrina.
Para ilustrar o problema, os investigadores mostraram aos congressistas a cópia de um cheque do Tesouro americano no valor de US$ 2.358 para auxílio-aluguel, recebido por um agente disfarçado, que usou um endereço falso. O dinheiro foi pago mesmo depois que a Fema descobriu o agente não vivia no local que indicou.
Entre as despesas pagas com cartões da Fema ainda estão: um semana de férias no resort Punta Cana, na República Dominicana, cinco ingressos para a temporada de futebol, vídeos eróticos "Garotas Enlouquecidas" e garrafas de champanhe Dom Perignon.
O porta-voz da Fema, Aaron Walker, disse que a prioridade da agência na ajuda às vítimas do furacão Katrina era "conseguir ajuda rapidamente àqueles que necessitavam desesperadamente" e discorda dos resultados da investigação realizada pelo Congresso.
A Fema afirma ter identificado mais de 1.500 casos de fraude em potencial, todos encaminhados ao inspetor-geral do Departamento de Segurança Interna. O valor dos desvios, no entanto, teria sido relativamente baixo: US$ 16,8 milhões.
Já o Congresso diz que tem 95% de confiança de que os pagamentos impróprios e potencialmente fraudulentos estejam entre US$ 600 milhões e US$ 1,4 bilhão.

Bate-boca
Uma representante da Fema irritou parlamentares ontem durante uma audiência no Congresso por ter questionado a investigação.
Donna Dannels, vice-diretora em exercício para recuperação da Fema, disse que as conclusões do Congresso "representam uma fração do total da ajuda fornecida".
Numa dura resposta, o deputado Christopher Shays disse a Dannels que "a quantidade de fraudes exposta neste relatório não é refutável".
Outro deputado, Michael McCaul, que presidiu as investigações, acusou Dannels de "não responder às alegações de fraude" durante a audiência.
A resposta de Dannels também foi criticada por Gregory Kutz, da equipe de investigações. Segundo ele, a Fema tem problemas em aceitar os resultados da auditoria porque o seu diretor, R. David Paulison, já havia dito que a taxa de fraude era de apenas 2% ou 3%.


Texto Anterior: França: José Bové quer se candidatar à Presidência
Próximo Texto: Diplomacia: Lula quer reunião entre América do Sul e África
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.