São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009

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Vice dos EUA diz que resultado gera dúvida

Mas segundo Joe Biden, apesar das suspeitas sobre lisura da eleição, governo Obama mantém intenção de dialogar com o Irã

Para ele, conversas são de interesse americano e não uma recompensa por bom comportamento; em países da Europa reação foi crítica

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou ontem que ainda existem dúvidas reais sobre o resultado das eleições no Irã. Apesar disso, em entrevista à rede de TV NBC, reiterou que os EUA continuam dispostos a retomar o diálogo com o Irã.
"Com certeza parece que a maneira como eles estão abafando os discursos, a maneira como estão reprimindo as multidões, a maneira com que as pessoas estão sendo tratadas, despertam dúvidas reais" sobre o resultado, afirmou Biden.
Durante a entrevista, Biden citou, por exemplo, que 70% dos votos no Irã são provenientes das cidades, onde Ahmadinejad não teria uma votação muito expressiva. O vice-presidente enfatizou que o país continua a acompanhar o desenrolar dos acontecimentos no Irã. Segundo ele, a decisão sobre a retomada do diálogo com o país já foi tomada.
"Conversas com o Irã não são uma recompensa por bom comportamento. São apenas consequência do fato de que o presidente julga que é do melhor interesse dos EUA conversar com o regime iraniano. Nossos interesses são os mesmos, antes e depois da eleição." Ele citou o fim do apoio ao terrorismo e a questão nuclear.
Desde a noite da última sexta-feira, quando foi anunciada a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, o presidente dos EUA, Barack Obama, ainda não se pronunciou sobre o assunto. Nos comentários feitos pelos demais representantes do governo americano predomina o tom de cautela.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, afirmou no sábado que os EUA acompanham de perto o vigoroso debate que ocorreu nas eleições iranianas.
"Nós estamos monitorando a situação conforme o seu desdobramento no Irã. Mas nós, assim como o restante do mundo, estamos esperando e observando para ver o que o povo iraniano vai decidir", disse. Acrescentou ainda que espera que o resultado da eleição reflita a vontade do povo iraniano.
Na Europa, os comentários sobre os resultados foram mais críticos. O conselheiro político do presidente da França, Nicolas Sarkozy, Henri Guaino, afirmou que "o que está acontecendo no Irã não é uma boa notícia para ninguém -nem para os iranianos, nem para a estabilidade e nem para a paz mundial". A União Europeia expressou preocupação como as "alegadas irregularidades" durante o processo eleitoral e a violência que se seguiu.
O chanceler da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, afirmou que o procedimento de votação levantou uma série de questões e disse esperar que as autoridades em Teerã examinem as acusações de perto e forneçam explicações satisfatórias.
Para Trita Parsi, presidente do Conselho Nacional de Irano-Americanos, os EUA estão evitando um confronto direto por conta do objetivo de retomada das conversas com o país.
"Ninguém na Casa Branca tinha qualquer expectativa de que quem quer que vencesse as eleições trouxesse mudanças significativas nas manchetes e na posição iraniana. O que muda com o resultado é o nível de conforto na busca pela retomada das relações diplomáticas", disse à CNN. Para ele, o Irã tem papel essencial por conta da influência na região, sobre países como Afeganistão e Iraque.
Os resultados da eleição motivaram protestos ontem em diversas cidades americanas, como Nova York e Washington, entre outras. Os manifestantes carregavam placas exigindo a recontagem dos votos e dizendo que Ahmadinejad deveria se envergonhar da "manobra para vencer a eleição".
Shariar Etminani, um dos participantes em Washington, afirmou que decidiu participar como uma forma de apoio ao povo iraniano. "Nós fomos esperançosos durante 30 anos e todas as vezes nossas esperanças foram esmagadas. Só queremos mostrar nosso apoio ao povo do Irã", disse.


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