São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Segundo comitê parlamentar, governo se apoiou em informações falhas, mas não teve a intenção de enganar

Relatório sobre Iraque exime Blair de erro

DA REDAÇÃO

O governo britânico se apoiou em informações falhas para construir sua argumentação a favor da Guerra do Iraque, mas "não há por que duvidar da boa-fé do premiê Tony Blair", disse ontem um aguardado relatório de uma comissão investigativa da Câmara dos Lordes. Mesmo eximido, o premiê disse ter "total responsabilidade pessoal pelos erros cometidos".
"Todo mundo tentou, genuinamente, fazer o seu melhor em boa fé pelo país em circunstâncias de dificuldade agudas", disse Blair.
Apesar de poupar o governo e suas agências de informações, o Relatório Butler -o documento recebeu o nome do chefe da comissão que o preparou- critica o estilo "informal" do gabinete de Blair, que coloca em risco a consistência das decisões e dos julgamentos políticos do governo.
A conclusão de que a suposta ameaça representada pelo Iraque se amparou em informações precárias é semelhante à de um comitê bipartidário do Senado dos EUA em documento divulgado na semana passada, mas, ao contrário da americana, a britânica eximiu o processo de coleta de informações do governo.
"Não achamos provas para questionar a boa-fé do premiê", disse lorde Butler. O relatório conclui que "o Iraque não tinha uma arsenal significativo de armas de destruição em massa" e que "foi dado peso demais às informações", embora "não tenha havido a intenção deliberada, por parte do governo, de induzir ao erro de julgamento".
"Ninguém mentiu. Ninguém inventou informações. Ninguém acrescentou coisas no dossiê contra a recomendação dos serviços de inteligência", disse Blair após a apresentação do documento.
Já o líder Conservador (oposição), Michael Howard, disse que o premiê "deveria se perguntar se lhe restou alguma credibilidade."
O relatório, de 196 páginas, é o resultado final do trabalho de uma comissão de cinco membros da Câmara dos Lordes (Câmara Alta do Parlamento) que analisou as informações que levaram à guerra e seu processo de coleta, tendo entrevistado Blair e membros de sue gabinete.

Vitória de Blair
Mesmo apontando erros, o documento foi considerado por analistas como uma vitória de Blair ao absolvê-lo da principal acusação sofrida por seu governo em relação à guerra -a de ter esquentado as informações dos serviços de inteligência sobre o Iraque a fim de obter maior apoio à invasão.
O premiê, que pretende disputar um terceiro mandato e deve convocar eleições em 2005, tem visto sua popularidade e sua credibilidade entre os eleitores caírem desde que, contrariando boa parte da opinião pública, decidiu acompanhar os EUA na invasão do Iraque alegando que as supostas armas de destruição em massa de Bagdá, não encontradas até agora, eram uma ameaça iminente ao país. O próprio Blair reconheceu recentemente que elas dificilmente serão encontradas.
O governo Blair se envolveu em uma longa disputa com a rede estatal de rádio e TV BBC, no ano passado, por causa de uma reportagem que o acusava de "apimentar" o dossiê sobre armas iraquianas apresentado ao Parlamento em setembro de 2002, no qual era enfatizada a capacidade de Bagdá de acionar armas de destruição em massa em apenas 45 minutos. Investigações parlamentares eximiram o governo e uma audiência interna criticou o procedimento da BBC.
O relatório divulgado ontem também coloca panos quentes sobre a alegação dos 45 minutos e diz que ela não foi uma distorção do governo. Mas Butler afirmou que o gabinete deveria ter esclarecido que a pronta capacidade de acionar armas referia-se apenas a munições em campo de batalha, representando um risco limitado. Do jeito que foi usada, disse o lorde, a informação parecia ter o propósito de atrair atenção.


Com agências internacionais

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