São Paulo, sábado, 15 de julho de 2006

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comentário

É improvável que conflito se alastre na região

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há, por enquanto, a menor possibilidade de os conflitos de Israel com o Hamas, em Gaza, e com o Hizbollah, no Líbano, deflagrarem uma guerra que se alastre por todo o Oriente Médio.
Vejamos os vizinhos árabes mais próximos dos israelenses. O Egito e a Jordânia mantêm com Israel relações regulares, embora insípidas. Protestaram contra a reação descabida e excessiva ao seqüestro de três militares. Foi um gesto bastante previsível.
Mas não se posicionam como inimigos de Israel e evitam uma polarização, em que os dois grupos islâmicos, o Hamas e o Hizbollah, se tornariam os representantes da honra muçulmana supostamente machucada.
O ditador egípcio, Hosni Mubarak, e o rei jordaniano, Abdullah 2º, reuniram-se ontem no Cairo como se fossem bombeiros, auto-incumbidos de encontrar uma solução para a crise.
Exemplo da mediação: Mubarak, que tem como adversária interna no Egito a Irmandade Muçulmana, disse a um jornal de seu país que tentou negociar com o Hamas a libertação do primeiro refém israelense, mas que "terceiros" (leia-se: a Síria) pressionaram o grupo islâmico palestino a recuar.
A Jordânia tem em sua história a derrota para Israel na Guerra dos Seis Dias (1967). Perdeu a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Não entrou na Guerra de Yom Kippur (1973), em que o Egito e a Síria procuraram, sem sucesso, recuperar os territórios ocupados pelos israelenses.
Os egípcios negociaram a paz, receberam de volta o Sinai, enquanto Gaza foi devolvida por Israel aos palestinos. A Síria, que não negociou, continua até hoje sem as colinas de Golã.
O fato é que há 36 anos a ditadura síria evita entrar em confronto direto com Israel, por mais que não perca uma oportunidade de prejudicar o Estado vizinho. Apoiou em termos materiais e logísticos o Hizbollah, que se fortaleceu nos longos anos de sua ocupação militar do Líbano.
Israel e Estados Unidos sabem que, mesmo discreta, a Síria tem parte dos cordões que movimentam os dois grupos religiosos que estão no pivô do atual confronto. Mas nada fariam para derrubar a ditadura laica de Bashar Assad, porque no lugar dela poderia surgir um novo regime islâmico radical.
É por isso que não faz o menor sentido a acusação feita ontem pelo embaixador sírio na ONU, Bashar Jaafari, de que Israel tinha a intenção de invadir seu país.
Há por fim o Irã, que manipula os outros cordões que põem o Hamas e o Hizbollah em movimento, independentemente das lógicas locais com que os dois grupos atuam politicamente. Sem fronteiras com Israel e com um presidente de despudorado anti-semitismo, o Irã não passaria o recibo de participante do atual conflito.
Ainda ontem o presidente Mahmoud Ahmadinejad telefonou para Assad e disse que o Irã reagiria, mas só caso Israel atacasse a Síria. Pura retórica para consumo interno no mundo islâmico.
Em verdade, o Irã tem um peso geopolítico regional bem maior que o da Síria. É mais forte em termos militares. Tem uma população de 70 milhões de habitantes, contra 18 milhões para a Síria. E possui sobretudo o poder econômico do petróleo.
Além disso, ao se tornar o alvo preferencial dos temores e ataques verbais americanos, o regime iraniano se fortaleceu na região.


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