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comentário
É improvável que conflito se alastre na região
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há, por enquanto, a
menor possibilidade de os
conflitos de Israel com o Hamas, em Gaza, e com o Hizbollah, no Líbano, deflagrarem uma guerra que se alastre por todo o Oriente Médio.
Vejamos os vizinhos árabes mais próximos dos israelenses. O Egito e a Jordânia
mantêm com Israel relações
regulares, embora insípidas.
Protestaram contra a reação
descabida e excessiva ao seqüestro de três militares. Foi
um gesto bastante previsível.
Mas não se posicionam como inimigos de Israel e evitam uma polarização, em
que os dois grupos islâmicos,
o Hamas e o Hizbollah, se
tornariam os representantes
da honra muçulmana supostamente machucada.
O ditador egípcio, Hosni
Mubarak, e o rei jordaniano,
Abdullah 2º, reuniram-se
ontem no Cairo como se fossem bombeiros, auto-incumbidos de encontrar uma
solução para a crise.
Exemplo da mediação:
Mubarak, que tem como adversária interna no Egito a
Irmandade Muçulmana, disse a um jornal de seu país que
tentou negociar com o Hamas a libertação do primeiro
refém israelense, mas que
"terceiros" (leia-se: a Síria)
pressionaram o grupo islâmico palestino a recuar.
A Jordânia tem em sua história a derrota para Israel na
Guerra dos Seis Dias (1967).
Perdeu a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Não entrou
na Guerra de Yom Kippur
(1973), em que o Egito e a Síria procuraram, sem sucesso,
recuperar os territórios ocupados pelos israelenses.
Os egípcios negociaram a
paz, receberam de volta o Sinai, enquanto Gaza foi devolvida por Israel aos palestinos. A Síria, que não negociou, continua até hoje sem
as colinas de Golã.
O fato é que há 36 anos a
ditadura síria evita entrar em
confronto direto com Israel,
por mais que não perca uma
oportunidade de prejudicar
o Estado vizinho. Apoiou em
termos materiais e logísticos
o Hizbollah, que se fortaleceu nos longos anos de sua
ocupação militar do Líbano.
Israel e Estados Unidos sabem que, mesmo discreta, a
Síria tem parte dos cordões
que movimentam os dois
grupos religiosos que estão
no pivô do atual confronto.
Mas nada fariam para derrubar a ditadura laica de Bashar Assad, porque no lugar
dela poderia surgir um novo
regime islâmico radical.
É por isso que não faz o
menor sentido a acusação
feita ontem pelo embaixador
sírio na ONU, Bashar Jaafari,
de que Israel tinha a intenção de invadir seu país.
Há por fim o Irã, que manipula os outros cordões que
põem o Hamas e o Hizbollah
em movimento, independentemente das lógicas locais com que os dois grupos
atuam politicamente. Sem
fronteiras com Israel e com
um presidente de despudorado anti-semitismo, o Irã
não passaria o recibo de participante do atual conflito.
Ainda ontem o presidente
Mahmoud Ahmadinejad telefonou para Assad e disse
que o Irã reagiria, mas só caso Israel atacasse a Síria. Pura retórica para consumo interno no mundo islâmico.
Em verdade, o Irã tem um
peso geopolítico regional
bem maior que o da Síria. É
mais forte em termos militares. Tem uma população de
70 milhões de habitantes,
contra 18 milhões para a Síria. E possui sobretudo o poder econômico do petróleo.
Além disso, ao se tornar o
alvo preferencial dos temores e ataques verbais americanos, o regime iraniano se
fortaleceu na região.
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