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Sob críticas, Chávez quer "revisar" laço com a igreja
Cúpula da Igreja Católica local vê tentativa de recriar regime cubano
Presidente venezuelano critica menção da igreja a "comunismo", termo rechaçado pela ampla maioria dos cidadãos
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, pediu ontem que a chancelaria "revise" o convênio com o Vaticano, em novo capítulo da troca de acusações que mantém
há dias com a cúpula da Igreja Católica local.
Enquanto a alta hierarquia
católica em Cuba se aproxima e acorda com o comunista Raúl Castro a libertação de
presos políticos, o assunto
que esquenta a relação entre
Chávez e o arcebispo de Caracas, Jorge Urosa, é justamente a ilha e o comunismo.
Urosa afirmara que o presidente quer impor o "marxismo-comunismo autoritário" no país, e foi chamado
por Chávez de "troglodita" e
da "extrema-direita fascista"
na TV, quando também afirmou que o papa "não é o embaixador de Jesus na Terra".
O presidente venezuelano
também reagiu ao documento da Conferência Episcopal
Venezuelana divulgado na
segunda que classificou como "absolutamente inaceitável a imposição de um modelo socialista que se inspire no
regime comunista cubano".
A ofensiva de Chávez foi
acompanhada por outros poderes. O Judiciário e a Assembleia Nacional -de maioria
chavista- manifestaram-se
publicamente contra a igreja.
MOTIVAÇÃO
As rusgas entre o chavismo e a igreja são frequentes
nos últimos 11 anos, mas, para o analista Luis Vicente
León, do respeitado instituto
Datanálisis, ganham impulso agora por dois motivos.
O primeiro, diz, é que Chávez calcula que seja útil assumir o custo de voltar a atacar
um adversário popular para
desviar a atenção de um problema maior, o escândalo da
comida podre -o achado de
toneladas de alimentos importados pelo Estado fora do
prazo de validade.
O tema era, desde maio,
manchete diária da mídia nacional antichavista.
O segundo motivo, para
León, é que a igreja levanta
um debate perigoso para o
chavismo -comunismo e
também Cuba- a menos de
três meses das eleições legislativas de setembro.
Se a maioria vê no socialismo um termo flexível, ligado
à inclusão e à redistribuição
da renda petroleira, "comunismo" é rejeitado por 86%.
Ontem, Chávez fez seus
habituais elogios a Fidel Castro, mas acusou o cardeal de
querer assustar o povo e disse que "Cuba é Cuba, e Venezuela é Venezuela".
PRISÃO
A Justiça venezuelana ratificou ontem a prisão do opositor Alejandro Peña Eclusa,
detido por agentes da inteligência chavista acusado de
laço com o suposto terrorista
salvadorenho Francisco Chávez Abarca, deportado a Cuba. A defesa vê "armação".
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