|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Irlanda do Norte vive nova onda de conflito separatista
Crianças com menos de 10 anos estavam nos ataques,
liderados pelo IRA Autêntico; 83 policiais se feriram
Violência chega ao 3º
dia ao norte da capital,
Belfast, e opõe jovens
católicos contrários ao
acordo de paz e polícia
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
A Irlanda do Norte vive
uma nova onda de violência
entre policiais e jovens católicos contrários ao processo
de paz no país. Foram três
noites de confrontos ao norte
de Belfast. Ao menos 83 policiais ficaram feridos, segundo as autoridades.
A diferença é que desta vez
havia crianças aparentando
ter menos de dez anos entre
os manifestantes que atiravam pedras e coquetéis molotov contra policiais, atacavam e incendiavam ônibus e
tentavam tomar o trem que liga Belfast a Dublin, na República da Irlanda. A polícia
respondeu com balas de borracha e jatos d'água.
Tudo começou no domingo, quando os jovens católicos foram reprimidos pela
polícia ao tentar impedir a
tradicional marcha do grupo
protestante Ordem Laranja.
Todos os anos a marcha
festeja pela cidade a vitória
do rei protestante Guilherme
de Orange sobre o católico Jacob 2º, ocorrida em 1690.
A marcha é vista como
uma provocação pela minoria católica, que por mais de
30 anos lutou pela independência da Irlanda do Norte
do Reino Unido e a favor da
reunificação com a República da Irlanda, católica.
Essa luta deixou mais de
3.500 pessoas mortas.
ACORDO DE BELFAST
A violência eclode após o
país concluir a última parte
do acordo que selou oficialmente a paz entre católicos e
protestantes.
O Acordo de Belfast, ou da
Sexta-Feira Santa, foi assinado em 1998 e previa que a Irlanda do Norte iria paulatinamente ganhar autonomia
do Reino Unido.
Nacionalistas (católicos e
anti-Londres) e unionistas
(protestantes e pró-domínio
britânico) formaram um governo de coalizão e, desde
abril, Londres deu ao Executivo local o controle sobre a
polícia.
Políticos dos dois lados
acusam o IRA Autêntico, grupo dissidente do IRA (Exército Revolucionário Irlandês,
que renunciou à violência
após décadas de ataques terroristas), de estar por trás das
manifestações.
Dizem que a intenção é
que algum jovem acabe morto para virar mais um mártir
da luta pela independência
da Irlanda do Norte. Martin
McGuinness, vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte,
disse que o governo está coeso e que os conflitos não vão
atrapalhar o processo de paz.
Além dos componentes
políticos e religiosos, há também os econômicos e sociais.
Os conflitos ocorrem em
áreas que concentram católicos pobres e desempregados.
São bairros onde o índice de
desemprego entre os homens
está na casa dos 20% -duas
vezes maior do que o registrado no Reino Unido.
Gary Donegan, padre católico que trabalha na região,
diz que os jovens consideram
atacar os policiais como uma
diversão: "A noite aqui parecia um parque temático da
Disney para o tumulto."
Texto Anterior: Irã: Chanceler nega que pena de "adúltera" tenha sido suspensa Próximo Texto: Frase Índice
|