São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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IRAQUE

Ação em Samarra mata 50

Negociações de paz fracassam em Najaf

DA REDAÇÃO

O governo interino iraquiano anunciou a retomada das operações militares em Najaf após uma breve negociação de trégua com o clérigo radical xiita Moqtada al Sadr e sua milícia, o Exército Mehdi, fracassar ontem. Paralelamente, as forças americanas disseram ter matado pelo menos 50 insurgentes em Samarra, bastião sunita ao norte de Bagdá.
Nos últimos dez dias, a cidade sagrada xiita no sul do Iraque voltou a ser um dos maiores focos de violência e tensão do país, colocando em xeque a estabilidade do governo interino e a realização da Conferência Nacional Iraquiana. O evento deve reunir, a partir de hoje, mil representantes da sociedade iraquiana para eleger cem legisladores interinos para o país encarregados, entre outras coisas, de redigir a Constituição.
"O governo interino iraquiano está retomando as operações militares para estabelecer a lei e a ordem na cidade sagrada. Nossa meta era poupar sangue, preservar a segurança e desarmar as milícias. De todos os esforços, nenhum obteve sucesso", disse o assessor de Segurança Nacional do gabinete, Mowaffaq al Rubaie, em entrevista coletiva. Os confrontos na região entre as forças americanas e o Exército Mehdi deixaram, segundo os EUA, pelo menos 360 insurgentes mortos. Não há, ainda, dados sobre baixas civis.
Por sua vez, porta-vozes de Al Sadr culparam o premiê Iyad Allawi pelo fracasso das negociações. A milícia, entre outras coisas, havia exigido anistia e a retirada americana de Najaf -anteontem, as forças dos EUA invadiram o centro da cidade, onde estão alguns dos principais templos xiitas do mundo. A operação gerou fortes críticas de líderes religiosos dentro do país e de governos na região, aumentando os temores de que uma ação americana mais drástica na cidade provoque um levante de escala nacional no Iraque, inédito até então.
"Havíamos concordado com Rubaie em todos os pontos, mas Allawi o convocou de volta e encerrou a questão", disse um porta-voz de Al Sadr à Al Jazira. Entrincheirado no templo do imã Ali, o clérigo radical -contra o qual pesa uma ordem de prisão por envolvimento no assassinato de um rival e a quem os EUA juraram capturar ou matar- incita seus seguidores ao combate e promete "lutar até a morte".
Pela ameaça de um levante nacional, a violência em Najaf é o maior obstáculo enfrentado pelo gabinete de Allawi desde sua posse, em 28 de junho. Mas o governo interino segue enfrentando uma onda de ataques, seqüestros e confrontos na capital e em cidades de maioria sunita, centros de simpatizantes do regime deposto.
Oito iraquianos morreram e dez ficaram feridos, a maioria mulheres e crianças, em combates entre guerrilhas e forças dos EUA.
O comando americano anunciou que ao menos 50 insurgentes foram mortos em um novo ataque aéreo contra Samarra. Não há dados independentes. As tropas dos EUA também enfrentaram a milícia de Al Sadr em Hilla, no sul, onde 40 insurgentes e três policiais foram mortos, segundo o Ministério do Interior iraquiano.
Também ontem, o principal líder xiita do Iraque, o grão-aiatolá Ali al Sistani, moderado, foi submetido a uma cirurgia no coração em Londres. Segundo assessores, o clérigo, de 73 anos, passa bem.


Com agências internacionais


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