São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Milhares de refugiados retornam às suas casas

Joseph Barrak/France Presse
Com seus pertences, libaneses cruzam a estrada de Masnaa, bombardeada por Israel, na volta para casa após refúgio na Síria


Com implementação do cessar-fogo, deslocados voltam ao sul do Líbano e a Beirute

Longas filas de veículos congestionaram estradas libanesas após trégua; israelenses permanecem em abrigos no norte do país


DA REDAÇÃO

Nas primeiras horas após o início do cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hizbollah, milhares de refugiados do sul do Líbano e da capital do país, Beirute, começaram a retornar às suas casas -ou ao que restou delas.
Desde o início do conflito, em 12 de julho, cerca de 900 mil libaneses foram forçados a deixar suas casas. Com colchões e pertences amarrados sobre os carros, que se enfileiravam em congestionamentos em estradas destruídas, os xiitas deslocados tentavam voltar.
Filas de veículos cruzavam também a fronteira entre Síria e Líbano, fazendo o percurso inverso do último mês. Vários dos carros ostentavam nos vidros imagens do líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah.
Nos bairros, manobravam para se desviar de montes de entulho e de imensas crateras no asfalto. Ao chegar às casas, alguns choravam, outros observavam em silêncio os destroços. Os mais jovens tiravam fotos com câmeras e celulares.
Khadijeh Tabaja não conseguiu reconhecer seu prédio, ao ver a carcaça do edifício carbonizada, com sacadas cobertas de poeira, penduradas. "Onde está minha casa? Alguém me diga que essa não é minha casa", gritava, num bairro do sul de Beirute. "Isso é Israel, para aqueles que ainda não conheciam", dizia Soad Hodroj, 64, mostrando um prédio, no subúrbio de Dahiyah, no sul de Beirute, muito avariado.
Alguns quarteirões ficaram irreconhecíveis, com pilhas de concreto, pontuadas por um ou outro prédio. O cheiro de incêndios tomou conta dos bairros, e montes de entulho ainda queimavam. A fumaça saía pelas janelas de prédios atingidos havia pouco. Muitos dos que chegavam usavam máscaras cirúrgicas para se proteger da poeira e da fumaça. Algumas mulheres usavam seus lenços de cabeça para tapar o nariz.

"Vitória"
No meio do engarrafamento em uma das estradas saindo de Beirute, o Hizbollah distribuía bandeirinhas para comemorar a "vitória", enquanto informes oficiais alertavam os pais para não permitir que suas crianças brincassem com as milhares de bombas não explodidas que ainda estão pelo país. Ontem, uma criança morreu e 15 pessoas foram feridas por bombas.
"Vitória? Você chama isso de vitória? Meu coração vai parar. Como vamos viver?", gritava uma mulher que se identificou como Umm Hassan (mãe de Hassan), que havia perdido sua casa, em Hay al Abyad, no subúrbio do sul de Beirute, em ataques aéreos israelenses da noite de domingo, pouco antes do início do cessar-fogo.
Seu vizinho, Nidal Shoeib, insistia no fato de que "valia tudo pela resistência", mas admitiu que a destruição era maior do que imaginara. "Vai levar anos e anos para reconstruir tudo isso. Toda essa região vai ter de ser dinamitada para podermos erguê-la novamente", disse. "Quero chorar pelo meu povo. Que tipo de vida é essa?"

Israel
Do lado israelense, o Exército manteve a instrução aos habitantes da zona fronteiriça do norte -principal alvo dos foguetes do Hizbollah- de permanecer em seus abrigos. Entre os refugiados, ainda há desconfiança em relação ao cessar-fogo. Mas moradores das áreas mais distantes da fronteira já foram avisados de que podem deixar seu refúgio. Em Tiberias, Afula, Haifa, Nazaré e outras cidades, as pessoas começam a voltar para a casa, após um mês em que cerca de 4.000 foguetes do Hizbollah atingiram em suas comunidades.
Apesar do cessar-fogo, mais dez foram lançados na madrugada de hoje. Israel disse que, como nenhum cruzou a fronteira, não respondeu. Mas seis militantes do Hizbollah foram mortos, em incidentes separados, pelas forças israelenses.
Em Acre, algumas lojas reabriram, e os moradores se disseram esperançosos de que os ataques tenham terminado, apesar da apreensão geral.
Em Israel, entre 300 mil e 500 mil pessoas foram deslocadas do norte do país desde o início da ofensiva.


Com agências internacionais


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