São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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VISÃO LOCAL
Narcotraficantes "alimentam" guerrilha, paramilitares e criminosos comuns, afirma comandante militar
Tráfico é raiz do problema, diz Colômbia

do enviado especial a Bogotá

Quando estabelecem um cerco ao narcotráfico, os EUA estão agindo igualmente sobre todo o conjunto de conflitos da Colômbia, a julgar pelo que diz o general Fernando Tapias, comandante das Forças Militares:
"O narcotráfico está em todas as formas de violência. Alimenta a guerrilha, as autodefesas (grupos paramilitares de extrema direita), a delinquência comum e a delinquência organizada. É o fator de corrupção de todos os estamentos. É preciso acabar com o narcotráfico para encontrar um princípio de solução para os problemas da Colômbia."
O esquema de "guerra de baixa intensidade" ficou evidente em declarações feitas quinta-feira pelo general Barry McCaffrey, ""czar" do combate ao narcotráfico nos EUA, para quem é necessário respaldar a Colômbia com "recursos, treinamento, equipamento e inteligência".
O Departamento de Defesa norte-americano admite a presença de entre 175 e 200 militares na Colômbia, fora uma centena de integrantes de outras agências norte-americanas.
Desde maio, os serviços de inteligência passaram a compartilhar com os militares colombianos informações em tempo real sobre os movimentos da guerrilha. Antes, as informações chegavam dias depois.
Usando aviões de espionagem DCH-7, dotados de equipamentos eletrônicos e infravermelhos (que permitem ver no escuro como se fosse dia claro), os norte-americanos não só detectam todos os movimentos dos guerrilheiros como interceptam suas comunicações.
Mesmo assim, até a secretária de Estado Madeleine Albright admite: "Depois de 38 anos de luta está claro que é improvável um desenlace militar decisivo", escreveu para "The New York Times", na terça-feira.
Escalar a presença e o envolvimento norte-americanos parece ser a alternativa restante, mas sempre a pretexto de combater o narcotráfico, que não cessa de aumentar.
A teoria é a de que combater o tráfico de drogas é também uma maneira de enfraquecer a guerrilha, que, pelos cálculos transmitidos por autoridades norte-americanas ao jornal "The Miami Herald", levanta cerca de US$ 500 milhões por ano em pagamento pela proteção que oferecem aos narcotraficantes.
Talvez por isso, a ajuda militar à Colômbia não pára de aumentar. Passou de magros US$ 10,6 milhões em 1985 para US$ 289 milhões em novembro do ano passado (a terceira maior, superada apenas pela que é concedida a Israel e Egito). E, agora, o general Barry McCaffrey já pede US$ 1 bilhão.

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