São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"ACERTO DE CONTAS"
Após retirada de milicianos de cidade libanesa, tribunal julga 220 acusados de colaboracionismo
Líbano contra-ataca milícia pró-Israel

PAULO DANIEL FARAH
em Jezzine, Líbano


O Líbano está julgando 220 pessoas acusadas de colaborar com a milícia pró-Israel conhecida como Exército do Sul do Líbano (ESL), que controla parte da região ocupada no sul do país.
Um tribunal militar realiza sessões semanais, às quartas-feiras, para analisar os casos. Cerca de 25 pessoas já foram julgadas. A maioria recebeu penas de prisão entre 3 meses e 1 ano. Na última quarta, não houve sessão por causa do eclipse -foi feriado no país.
Os detidos, acusados de traição, alegam ter sido obrigados a integrar o ESL, coagidos pela milícia ou devido ao desemprego e à situação econômica (leia abaixo). Mas eles negam ter fornecido informações de segurança a Israel.
Após a retirada militar de Jezzine, em junho, a situação do ESL se agravou. Várias bases da milícia na região foram abandonadas enquanto se intensifica a ação de grupos islâmicos como o Hizbollah e o Amal, que combatem a presença de Israel no Líbano.
"Aqui explodiu uma bomba. Neste local, lançaram um foguete. Ali, cinco morreram", diziam dois moradores enquanto percorríamos o "caminho da morte", a estrada marcada por explosões que corta parte da região.
Jezzine fica numa posição estratégica. Para ir à cidade, é necessária uma permissão especial. No sul, há postos de controle do Exército libanês, da ONU, que verifica o cumprimento de acordo para proteger civis libaneses e israelenses, do ESL e de Israel.
Israel ocupa parte do sul do Líbano desde 1978, alegando precisar da região para proteger cidades no norte. O país já realizou mais de cem missões aéreas em território libanês neste ano.
O número de soldados israelense mortos -ao menos nove neste ano- levou diversos setores da sociedade, inclusive altos comandantes das unidades de combate do Exército de Israel no sul do Líbano, a fazer uma campanha a favor da retirada militar. Em 99, 19 libaneses foram mortos.
Na opinião do parlamentar de Jezzine Nadim Salem, o Líbano "não leva em consideração as condições às quais esses homens (os ex-membros do grupo pró-Israel) foram submetidos, apenas encoraja os que ainda trabalham para o ESL a ficar na milícia".
O prazo de um ano estabelecido pelo premiê israelense, Ehud Barak, para a retirada militar acelerou a desagregação do ESL, milícia cristã armada e financiada por Israel -salário mensal básico de US$ 500 (cerca de R$ 900).
O recuo prossegue. O ESL abandonou um posto de controle em Qantara poucos dias atrás, removendo as armas e os equipamentos de vigilância, em busca de um local mais seguro no interior da zona ocupada. O posto vinha sendo atacado quase diariamente.
O comandante do Hizbollah no sul, xeque Nabil Qaouq, disse que "a resistência obteve mais uma vitória". No final de 97, o Exército israelense investiu milhões de dólares para melhorar sua defesa na região, mas as posições do ESL não receberam a mesma ajuda.
Relatório da organização Human Rights Watch indica que Israel intensificou a expulsão de moradores da zona ocupada, acusados de espionagem.


Texto Anterior: Funcionários dos EUA são investigados
Próximo Texto: Premiê faz críticas a Ehud Barak
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.