São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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"Meu filho não é traidor nem criminoso"

em Jezzine

Khalil (nome fictício), 31, e sua irmã de 27 anos estão detidos há dois meses acusados de colaborar com o Exército do Sul do Líbano. Sua família, com sete pessoas, diz que eles "não são traidores e não cometeram crime algum".
Numa casa de dois cômodos, num vilarejo próximo a Jezzine (cidade no sul liberada em junho), enfeitada por retratos de são Charbel (santo libanês), os pais argumentam que os moradores da região eram obrigados a entrar para a milícia. Eles pediram para não divulgar o nome dos filhos, temendo represália.
"Não somos obrigados a protegê-los. Ou você trabalha para nós ou tem de ir embora, você e toda sua família, pois vamos destruir sua casa", teria dito o ESL. "Qual seria a solução? Ficarmos em casa, sentados, para sermos mortos?"
Eles pedem a libertação dos filhos "para que possam voltar a proteger a família. Que crime cometeram? Carregar um fuzil e tentar proteger sua casa? Não protegemos Israel. Protegemos nossas casas e a nós mesmos".
A família alega que Khalil e a irmã trabalharam para o ESL, não para Israel. "Acusam nosso filhos de ser agentes de Israel, mas não somos agentes de ninguém. Apenas tentamos conservar nossa terra. Pagamos impostos ao Estado libanês. Água, energia, tudo."
A situação econômica teria sido um dos fatores que levaram moradores a integrar a milícia. "Não há emprego. Como podemos viver aqui? Temos de trabalhar."
A família afirma que Israel teria prometido dar US$ 8.000 (cerca de R$ 14.400) a ex-membros do ESL, mas isso não teria ocorrido.
O médico Ismail Ismail diz que a população do sul "sempre viveu da agricultura e de serviços, mas, a partir da invasão de 78, a economia parou". De acordo com ele, "quando vem a época da colheita, Israel intensifica os ataques".
"Fomos invadidos por muitos povos", diz um irmão de Khalil. "Vieram os palestinos e destruíram nossas casas. Chegaram os sírios, expulsaram os palestinos. Vieram os judeus, expulsaram os sírios. Os camponeses permaneceram. Quem morreu morreu. Os que ficaram são como pássaros. Comem quando há o que comer. Esperamos que o mundo deixe o Líbano para seu povo." (PDF)

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