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Vaticano tenta amenizar crítica indireta a Maomé
Papa Bento 16 citou frase de imperador bizantino sobre "espalhar fé pela espada"
Declaração gerou protestos no mundo muçulmano e levou membro do governo turco a dizer que papa não deve ir ao país em novembro
DO "NEW YORK TIMES"
O Vaticano tentou ontem
amenizar o impacto da citação
crítica a Maomé e ao islamismo
feita na última terça-feira, na
Alemanha, pelo papa Bento 16.
Depois que a declaração provocou protestos de líderes muçulmanos, a Igreja Católica disse, em nota, que busca "cultivar
uma atitude de respeito e diálogo em relação a outras religiões
e culturas e obviamente também em relação ao islamismo".
A frase citada duas vezes por
Bento 16, em palestra numa
universidade alemã durante visita de seis dias ao seu país natal, é do imperador bizantino
Manoel 2º Paleólogo (1391-1425): "Mostre o que Maomé
trouxe de novo e achará coisas
más, como a ordem para espalhar a fé pela espada".
Guerra santa
Na ocasião, o papa disse que a
frase era "rude", mas não deixou claro se concordava ou não
com o seu conteúdo. Ele também usou a palavra jihad (guerra santa) no discurso e disse
que a violência era contrária à
natureza de Deus e à razão.
Sem referir-se ao islamismo,
afirmou que a razão, desde que
não prescinda do divino, pode
ser a base "para o diálogo genuíno de que culturas e religiões tanto precisam hoje".
A nota do Vaticano declara
que "não era intenção do santo
padre fazer um estudo profundo sobre jihad e o pensamento
muçulmano nessa área e muito
menos ferir os sentimentos de
seus seguidores". O texto reafirma, no entanto, que "o papa
considera importante uma rejeição radical e clara da motivação religiosa da violência".
Alguns especialistas no Vaticano consideram que se tratou
de um discurso definidor do
pontificado de Bento 16.
Em sua fala, o papa afirmou
que o Ocidente, e especialmente a Europa, se tornou tão devoto da razão que retirou Deus da
vida pública, da ciência e da
academia.
Algumas das críticas mais
fortes a Bento 16 vieram da
Turquia, o que coloca em risco
a viagem do papa ao país, marcada para novembro próximo.
"Não acredito que a visita de
uma pessoa que tem essas
idéias sobre o profeta do islamismo trará algum bem para o
mundo muçulmano", disse Ali
Bardakoglu, chefe do Departamento de Assuntos Religiosos
do governo. "Ele deveria substituir o ressentimento no coração por respeito ao próximo."
No Paquistão, o estudioso do
Alcorão Javed Ahmed Ghamidi
disse que as declarações de
Bento 16 foram irresponsáveis:
"O conceito de jihad não é espalhar o islã por meio da espada".
Nos EUA, o presidente da Sociedade Islâmica chamou os comentários de "inexatos e oportunistas". Líderes muçulmanos
de Marrocos, Kuait, Alemanha
e França também criticaram as
declarações e exigiram desculpas ou esclarecimentos.
A extensão da reação ao discurso do papa será mais bem
medida hoje, o dia tradicional
de preces do islamismo e quando costumam ocorrer manifestações de descontentamento.
Nova posição
As declarações de Bento 16
marcam uma mudança de posição em relação ao papa anterior, João Paulo 2º, que era
mais conciliador.
"Não acho que se deva apontar o dedo para atividades extremistas em outra religiões",
declarou Aiman Mazyek, presidente do Conselho Central dos
Muçulmanos da Alemanha, recordando fatos desabonadores
do passado da Igreja Católica.
Um jornal do Marrocos afirmou em editorial que Bento 16
tem uma estranha forma de
propor o diálogo entre religiões
e mostrou preocupação pelo fato de o episódio se seguir aos
tumultos no mundo muçulmano gerados por caricaturas de
Maomé publicadas na Europa.
Com agências internacionais
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