São Paulo, terça-feira, 15 de setembro de 2009

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Brasil faz pressão, e hondurenho é expulso de reunião da ONU

Embaixador, que apoia governo golpista, é retirado à força do plenário de Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra

Diplomata sai esbravejando contra região "governada por Chávez" e promete voltar após "eleições legítimas" de novembro em seu país


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

O embaixador de Honduras na ONU, Delmer Urbizo, foi retirado ontem por seguranças do plenário no primeiro dia da sessão anual do Conselho de Direitos Humanos do organismo em Genebra. A cena foi o ápice de um dia repleto de impasses em torno da legitimidade do governo golpista hondurenho, que terminou com a suspensão da sessão a pedido do Brasil, seguido por Argentina, México e Cuba.
"Nós voltaremos", disse um revoltado Urbizo, antes de ser acompanhado por policiais até a saída do auditório. Já do lado de fora, afirmou que retornará ao conselho após as "eleições legítimas de novembro" em seu país e se disse alvo de uma "violação dos direitos humanos".
Urbizo já representava Honduras na ONU sob o governo de Manuel Zelaya, deposto em junho -e os colegas deixaram claro que o rechaço era ao governo de Roberto Micheletti e não a ele pessoalmente. Mesmo assim, o embaixador sentiu-se agredido. "Vamos voltar aqui, depois das eleições democráticas em novembro, e colocar em seu lugar esses violadores de direitos humanos. Estão falando de meu país e não me deram direito a réplica."
O atual governo de Honduras não é reconhecido por nenhum país, e há um debate na região sobre se as eleições serão aceitas como legítimas ou não. O Brasil já declarou que não as acatará, mas o costa-riquenho Óscar Arias, mediador da crise, afirmou que o pleito poderia encerrar o impasse político.
"Fui instruída por meu governo a não aceitar nenhuma representação de Honduras que não seja de um governo constitucionalmente estabelecido", declarou a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Azevedo, evocando a condenação unânime da Organização dos Estados Americanos ao golpe antes de solicitar a suspensão da sessão até o descredenciamento de Urbizo.
Foi seguida pelos colegas argentino, mexicano e cubano.
Os pronunciamentos foram feitos após longa conversa com o presidente de turno do conselho, o belga Alex Van Meeuwen, que por sua vez sucedeu a uma reunião de mais de uma hora entre os países da região e à tentativa, durante a manhã, de travar os procedimentos.
Embora houvesse unanimidade no Grulac (grupo de países latino-americanos e do Caribe) sobre a não participação do enviado do governo golpista, havia nuances -alguns países aceitavam sua presença no plenário contanto que ele não se pronunciasse; outros, como o Brasil, queriam-no fora da sessão. O consenso fechou com o Brasil.
Os EUA, que estrearam no conselho neste ano após sua reformulação, aderiram à posição brasileira, embora não a tenham endossado em plenário.
Liderado pelo Brasil, o grupo latino também queria ganhar tempo até a chegada às mãos de Meeuwen de uma carta assinada pela chanceler do governo Zelaya, Patricia Rodas, desconhecendo Urbizo.
Com uma cópia da carta datada de 20 de agosto em seu poder, entregue pela delegação nicaraguense, Meeuwen concedeu a suspensão a fim de dar tempo a "consultas jurídicas".
"Quem governa aí [a região] agora é o [presidente venezuelano Hugo] Chávez", respondeu Urbizo à Folha ao ser indagado sobre como seu governo se sentia ante a falta de apoio dos vizinhos. Minutos antes ele havia sarcasticamente agradecido ao colega mexicano por não tê-lo apoiado.
Contestado pela reportagem sobre o fato de o pedido de suspensão ter sido liderado pelo Brasil e pela Argentina, Urbizo declarou que o governo Cristina Kirchner era "desvalorizado" e citou supostas doações ilegais de campanha de Chávez ao casal Kirchner. "E eles perderam as eleições [legislativas de junho]. Que valor têm?"
E o Brasil? "E o Brasil está gastando 8 bilhões em armamento para quê?", retorquiu.


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