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Mídia oficial chinesa censura até premiê
Veto a declarações de Wen Jiabao em defesa de abertura política sinalizaria racha na cúpula, dizem analistas
Polêmica ocorre dias após concessão de Nobel da Paz a dissidente; hoje, começa congresso do Partido Comunista
FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM
"Não só devemos avançar
na reforma do sistema econômico, mas também na do sistema político. Sem uma reforma política, a China pode
perder o que já conseguiu
por meio da reestruturação
econômica."
A frase, censurada pelos
meios de comunicação estatais chineses, poderia ser do
preso político Liu Xiaobo, nomeado Nobel da Paz na semana passada.
Mas é do premiê Wen Jiabao, durante discurso em
agosto em Shenzen, no sul
da China.
Desde abril, quando publicou um artigo elogiando Hu
Yaobang, político reformista
cuja morte desatou as manifestações estudantis de 1989,
Wen vem surpreendendo
com gestos e declarações em
favor de mais abertura.
Na semana passada, em
rara entrevista a um meio estrangeiro, Wen disse à CNN
que "os desejos e necessidade da população por democracia e liberdade são irresistíveis", declaração também
vetada na imprensa estatal.
"O opaco sistema político
chinês faz com que seja difícil dar uma interpretação definitiva dos comentários de
Wen sobre democracia", disse à Folha Richard McGregor, autor do recém-publicado "The Party: The Secret
World of China's Communist
Rulers" (o partido: o mundo
secreto dos dirigentes comunistas da China).
"Numa possível leitura, as
declarações [...] estão dizendo que a China é tão democrática como o Ocidente, mas
à sua maneira. Cada vez
mais, creio que os comentários de Wen são mais do que
isso e refletem um debate de
alto nível e possivelmente divisões genuínas dentro da liderança sobre a reforma política", diz McGregor.
Sinceras ou não, o fato de
as declarações de Wen serem
alvo de censura são sinal de
que o apoio à reforma política é a posição minoritária
dentro da elite comunista.
"Aqueles que se beneficiam do sistema atual e aqueles que veem a sua preservação como a sua missão levam
vantagem [sobre Wen]", escreveu Jonathan Fenby, autor do livro "History of Modern China" (história da China moderna).
Embora não esteja na
agenda, o tema da reforma
política e da dura reação chinesa ao anúncio do Nobel devem estar presentes na reunião anual do Comitê Central
do Partido Comunista chinês, que começa hoje em Pequim e dura quatro dias.
Oficialmente, o principal
tema será o novo plano de
cinco anos (2011-2015), que
deve incluir políticas para incentivar o consumo e diminuir a crescente desigualdade de renda.
Mas o encontro também
deve discutir a sucessão de
Wen e do dirigente máximo,
Hu Jintao, em 2012. O favorito
para o lugar de Hu é o vice-presidente, Xi Jinping.
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