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IGREJA
Em discurso histórico aos deputados e ao bilionário premiê Berlusconi, João Paulo 2º critica a valorização da riqueza pessoal
Parlamento italiano recebe 1ª visita papal
DO "THE INDEPENDENT", EM ROMA
No primeiro discurso na história de um papa no Parlamento italiano, João Paulo 2º lançou ontem
um grande ataque aos valores ocidentais modernos, incluindo o
consumismo, a ambição, a imoralidade e a relutância em ter grandes famílias.
O primeiro-ministro bilionário
da Itália, Silvio Berlusconi, o homem mais rico do país, ainda lutando para evitar uma condenação, sob diversas acusações de
corrupção, foi rápido em exaltar o
histórico discurso do papa, classificando-o como um "elevado e
nobre pronunciamento, cheio de
amor pela Itália".
Mas, quando o papa disse que,
"aos olhos dos sábios, o homem
conta pelo que ele é, não pelo que
ele tem", que "o valor humano de
uma pessoa está relacionado ao
que ela é, não ao que ela tem", foi
difícil evitar a impressão de que
ele tinha em mente o rígido homem sentado bem debaixo de seu
balcão.
"Uma democracia sem valores é
convertida facilmente em um totalitarismo aberto ou disfarçado",
disse João Paulo 2º, numa referência implícita à batalha de mais
de uma década da Itália, longe de
terminar, para livrar seu sistema
político da corrupção.
A viagem do papa da cidade do
Vaticano para o Parlamento cobriu três quilômetros e mais de
130 anos de história: ela pôs um
fim à divisão entre a Igreja Católica e o Estado iniciada em 1870,
quando a unificação italiana tomou Roma dos papas.
O polonês João Paulo 2º, 82, responsável pelo gesto histórico, foi
o primeiro não-italiano eleito papa em 455 anos. Em seu discurso,
ele fez referência às antigas relações tensas, mas disse que os laços
hoje são fortes e que "seria mais
difícil entender a identidade verdadeira da Itália sem referência ao
cristianismo, seu sangue".
O papa pediu ainda que os italianos trabalhassem pela paz
mundial, mantivessem seus valores cristãos e tivessem mais filhos.
Diferentemente de suas últimas
aparições públicas recentes, o papa parecia em boa forma e falou
claramente por 45 minutos. Após
a visita, ele andou sozinho, apoiado em uma bengala, até o carro
que o esperava na praça em frente
ao Parlamento.
O discurso foi interrompido
cerca de 20 vezes pelos aplausos
dos parlamentares, que o saudaram com um grito de "Viva o papa" ao final. Mas também houve
manifestações contrárias: alguns
deputados não compareceram,
em protesto, dizendo que a Itália é
um país laico.
O discurso também provocou
um resultado inesperado: o chefe
mafioso Benedetto Marciante,
procurado por homicídio e formação de quadrilha, decidiu se
entregar ontem às autoridades
após ver na TV os comentários do
papa sobre os valores da família,
segundo seu advogado.
Com agências internacionais
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