São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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IGREJA

Em discurso histórico aos deputados e ao bilionário premiê Berlusconi, João Paulo 2º critica a valorização da riqueza pessoal

Parlamento italiano recebe 1ª visita papal

DO "THE INDEPENDENT", EM ROMA

No primeiro discurso na história de um papa no Parlamento italiano, João Paulo 2º lançou ontem um grande ataque aos valores ocidentais modernos, incluindo o consumismo, a ambição, a imoralidade e a relutância em ter grandes famílias.
O primeiro-ministro bilionário da Itália, Silvio Berlusconi, o homem mais rico do país, ainda lutando para evitar uma condenação, sob diversas acusações de corrupção, foi rápido em exaltar o histórico discurso do papa, classificando-o como um "elevado e nobre pronunciamento, cheio de amor pela Itália".
Mas, quando o papa disse que, "aos olhos dos sábios, o homem conta pelo que ele é, não pelo que ele tem", que "o valor humano de uma pessoa está relacionado ao que ela é, não ao que ela tem", foi difícil evitar a impressão de que ele tinha em mente o rígido homem sentado bem debaixo de seu balcão.
"Uma democracia sem valores é convertida facilmente em um totalitarismo aberto ou disfarçado", disse João Paulo 2º, numa referência implícita à batalha de mais de uma década da Itália, longe de terminar, para livrar seu sistema político da corrupção.
A viagem do papa da cidade do Vaticano para o Parlamento cobriu três quilômetros e mais de 130 anos de história: ela pôs um fim à divisão entre a Igreja Católica e o Estado iniciada em 1870, quando a unificação italiana tomou Roma dos papas.
O polonês João Paulo 2º, 82, responsável pelo gesto histórico, foi o primeiro não-italiano eleito papa em 455 anos. Em seu discurso, ele fez referência às antigas relações tensas, mas disse que os laços hoje são fortes e que "seria mais difícil entender a identidade verdadeira da Itália sem referência ao cristianismo, seu sangue".
O papa pediu ainda que os italianos trabalhassem pela paz mundial, mantivessem seus valores cristãos e tivessem mais filhos.
Diferentemente de suas últimas aparições públicas recentes, o papa parecia em boa forma e falou claramente por 45 minutos. Após a visita, ele andou sozinho, apoiado em uma bengala, até o carro que o esperava na praça em frente ao Parlamento.
O discurso foi interrompido cerca de 20 vezes pelos aplausos dos parlamentares, que o saudaram com um grito de "Viva o papa" ao final. Mas também houve manifestações contrárias: alguns deputados não compareceram, em protesto, dizendo que a Itália é um país laico.
O discurso também provocou um resultado inesperado: o chefe mafioso Benedetto Marciante, procurado por homicídio e formação de quadrilha, decidiu se entregar ontem às autoridades após ver na TV os comentários do papa sobre os valores da família, segundo seu advogado.


Com agências internacionais



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