São Paulo, domingo, 15 de novembro de 2009

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Brasil teme que G2 obstrua ordem internacional multipolar

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

A ascensão chinesa abriu caminho para uma ordem internacional multipolar que favorece o Brasil, o que ficou patente na substituição do G8 pelo G20. Mas a questão agora é se China e EUA vão se mover na direção de um G2, recuando para a bipolaridade.
A dúvida foi exposta por Roberto Jaguaribe, subsecretário-geral do Itamaraty para Assuntos Políticos. "To G or not to G?", parafraseou o diplomata, em seminário sobre "respostas estratégicas à globalização", na semana passada, na UFRJ.
Para ele, os americanos tenderiam a "achar mais natural um arranjo bipolar", e a China, embora diga que não quer o G2, é guiada "por um pragmatismo que fatalmente levará a algum tipo de relação privilegiada com os EUA".
A avaliação ecoa declarações recentes de outras autoridades -na última reunião do G20, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticou a China, maior credora dos EUA, por manter sua moeda colada ao dólar e desvalorizada, enquanto o real sofre valorização considerada artificial.
Segundo Jaguaribe, o Brasil ambiciona não apenas sentar à mesa dos donos do poder, mas alcançar uma arquitetura global "com mais harmonia", a partir da multipolaridade.
Apesar da dúvida sobre o G2, o diplomata foi otimista sobre o cenário atual, em que "borraram-se" as fronteiras entre centro e periferia. "A China não é mais periférica, mas ainda é um país em desenvolvimento. O Brasil também."
Lembrou que, há 20 anos, 70% do comércio brasileiro era com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), suposto clube dos países mais industrializados, proporção que caiu a 40%. "Não foi uma estratégia deliberada dos exportadores. Eles atenderam à mudança na demanda."
Disse que o momento "requer audácia diplomática", mas que a "atitude propositiva encontra questionamento elevado" no Brasil. "Cobram uma diplomacia de consenso. Mas ela nunca foi de consenso, o que ocorria é que antes os debates eram fechados."
Para Jaguaribe, a China manterá o posto de maior parceira comercial brasileira -alcançado neste ano, devido aos reflexos da crise financeira no comércio com os demais países-, em razão da "complementaridade das duas economias". Lembrou, no entanto, que o país já vende mais na América Latina do que o Brasil.
O diplomata avaliou que os EUA "sempre serão importantes", ressaltando que o Brasil mantém "diálogo estratégico" com Washington e Pequim -isto é, trata não só de temas bilaterais, mas também globais. A integração sul-americana é um desafio, acrescentou, "mas o deslocamento da região não é possível nem necessário".
No seminário, o economista britânico Jan Kregel destacou a importância do desenvolvimento do mercado interno brasileiro não só do lado da capacidade de compra da nova classe C, mas também da oferta de produtos industriais.
Para o neokeynesiano do Bard College (EUA), não é boa política de longo prazo fiar-se na exportação de minerais e petróleo para a China.
"A China tem essas commodities, apenas ainda não decidiu explorá-las. Hoje é mais fácil transportar de barco do Brasil ou da África do que comprometer recursos na infraestrutura para tirar a matéria-prima das Províncias do noroeste."
Já o economista Antonio Barros de Castro, assessor da Presidência do BNDES, citou o papel da China em "empurrar o Brasil em direção à África".


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