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Brasil teme que G2 obstrua ordem internacional multipolar
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
A ascensão chinesa abriu caminho para uma ordem internacional multipolar que favorece o Brasil, o que ficou patente na substituição do G8 pelo
G20. Mas a questão agora é se
China e EUA vão se mover na
direção de um G2, recuando para a bipolaridade.
A dúvida foi exposta por Roberto Jaguaribe, subsecretário-geral do Itamaraty para Assuntos Políticos. "To G or not to
G?", parafraseou o diplomata,
em seminário sobre "respostas
estratégicas à globalização", na
semana passada, na UFRJ.
Para ele, os americanos tenderiam a "achar mais natural
um arranjo bipolar", e a China,
embora diga que não quer o G2,
é guiada "por um pragmatismo
que fatalmente levará a algum
tipo de relação privilegiada
com os EUA".
A avaliação ecoa declarações
recentes de outras autoridades
-na última reunião do G20, o
ministro da Fazenda, Guido
Mantega, criticou a China,
maior credora dos EUA, por
manter sua moeda colada ao
dólar e desvalorizada, enquanto o real sofre valorização considerada artificial.
Segundo Jaguaribe, o Brasil
ambiciona não apenas sentar à
mesa dos donos do poder, mas
alcançar uma arquitetura global "com mais harmonia", a
partir da multipolaridade.
Apesar da dúvida sobre o G2,
o diplomata foi otimista sobre o
cenário atual, em que "borraram-se" as fronteiras entre
centro e periferia. "A China não
é mais periférica, mas ainda é
um país em desenvolvimento.
O Brasil também."
Lembrou que, há 20 anos,
70% do comércio brasileiro era
com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), suposto
clube dos países mais industrializados, proporção que caiu
a 40%. "Não foi uma estratégia
deliberada dos exportadores.
Eles atenderam à mudança na
demanda."
Disse que o momento "requer audácia diplomática", mas
que a "atitude propositiva encontra questionamento elevado" no Brasil. "Cobram uma diplomacia de consenso. Mas ela
nunca foi de consenso, o que
ocorria é que antes os debates
eram fechados."
Para Jaguaribe, a China manterá o posto de maior parceira
comercial brasileira -alcançado neste ano, devido aos reflexos da crise financeira no comércio com os demais países-,
em razão da "complementaridade das duas economias".
Lembrou, no entanto, que o
país já vende mais na América
Latina do que o Brasil.
O diplomata avaliou que os
EUA "sempre serão importantes", ressaltando que o Brasil
mantém "diálogo estratégico"
com Washington e Pequim
-isto é, trata não só de temas
bilaterais, mas também globais.
A integração sul-americana é
um desafio, acrescentou, "mas
o deslocamento da região não é
possível nem necessário".
No seminário, o economista
britânico Jan Kregel destacou a
importância do desenvolvimento do mercado interno brasileiro não só do lado da capacidade de compra da nova classe
C, mas também da oferta de
produtos industriais.
Para o neokeynesiano do
Bard College (EUA), não é boa
política de longo prazo fiar-se
na exportação de minerais e petróleo para a China.
"A China tem essas commodities, apenas ainda não decidiu explorá-las. Hoje é mais fácil transportar de barco do Brasil ou da África do que comprometer recursos na infraestrutura para tirar a matéria-prima
das Províncias do noroeste."
Já o economista Antonio
Barros de Castro, assessor da
Presidência do BNDES, citou o
papel da China em "empurrar o
Brasil em direção à África".
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