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São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

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Acabou a "era de trevas", diz Bush

Em discurso na TV, presidente dos EUA é cauteloso e diz que captura não significa o fim da violência

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou, na TV americana, que a prisão do ex-ditador Saddam Hussein significou o final de uma "era de trevas e de dor no Iraque". O discurso foi feito às 12h15 em Washington (15h15 horário de Brasília) e foi marcado por um tom cauteloso e contido. As primeiras palavras de Bush foram dedicadas à prisão de Saddam. Para declarar, em seguida: "[Saddam] vai enfrentar a Justiça que ele negou para milhões".
O presidente, porém, não forneceu detalhes sobre como será o julgamento do ex-ditador.
Em outro trecho do discurso, Bush avaliou o impacto da prisão de Saddam para o processo democrático no Iraque. "A captura desse homem foi crucial para o surgimento de um novo Iraque livre. Ela marca o fim do caminho para ele e para todos aqueles que amedrontaram e mataram em nome dele", disse. Dirigindo-se aos iraquianos, afirmou: "Vocês não terão mais de temer o domínio de Saddam Hussein".
Em menos de cinco minutos de discurso, Bush foi enfático ao afirmar que o encarceramento do líder iraquiano não significava o final de atos de violência no país. "A captura de Saddam Hussein não significa o fim da violência no Iraque. Nós ainda enfrentamos terroristas que preferem continuar matando inocentes a aceitar o aparecimento da liberdade no coração do Oriente Médio."
Na conclusão do discurso, Bush reiterou: "Os Estados Unidos não vão esmorecer até que esta guerra seja ganha".
Bush recebeu a informação da prisão de Saddam por meio de um telefonema do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, ainda na tarde de sábado.
O presidente estava em Camp David. "Senhor presidente, os primeiros relatórios não são sempre precisos", afirmou Rumsfeld. Bush interrompeu o secretário: "Isso parece ser uma boa notícia", disse Bush. Rumsfeld informou, então, que Saddam Hussein teria sido capturado. O diálogo foi relatado pelo porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.
Na manhã de ontem, Condoleezza Rice, assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, telefonou para o presidente para confirmar que o preso era Saddam.
Rumsfeld qualificou a prisão de Saddam como "um dia glorioso para o povo iraquiano". "Hoje, muitos iraquianos ousam acreditar no que dissemos desde o princípio: a era da brutal ditadura de Saddam Hussein acabou. O seu regime de terror está acabado", afirmou. O secretário foi um dos principais arquitetos da ocupação americana no Iraque.
Mesmo entre os democratas, a captura foi saudada. O ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) disse que essa prisão é uma resposta a "décadas de tirania e assassinato". Um dos pré-candidatos democratas à eleição presidencial de 2004, o general Wesley Clark também saudou a notícia. "Espero que ajude a diminuir a violência contra nossos soldados."
Na cobertura das televisões americanas, expressões como "fim do regime de terror" e "grande vitória de Bush" predominaram. O tom patriótico de comentaristas políticos foi pontuado pela repetição das imagens da captura de Saddam e da comemoração em Bagdá. A captura do líder iraquiano eclipsou até mesmo a divulgação de mais um atentado suicida no Iraque ontem.
Além do enorme impulso que dá à campanha americana no Iraque e à sua própria campanha de reeleição, a prisão certamente tem sabor ainda mais especial a Bush por causa das críticas a seu pai, o ex-presidente George Bush. Muito criticado por ter deixado Saddam no poder após expulsar suas tropas do Kuait, em 1991, ele foi vítima de tentativa de assassinato atribuído a Saddam, em 1993. A conta a acertar entre a família Bush e o iraquiano, portanto, era muito alta.


Colaborou a Redação


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