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Cálculo de mortos pelo regime chega a 1 milhão
DA REDAÇÃO
O julgamento público de Saddam Hussein deve dar aos EUA
sua melhor oportunidade de exibir aos iraquianos e ao mundo as
atrocidades do ex-ditador, o que
pode ajudar a justificar a guerra e
a ocupação do Iraque.
Antes de a busca pelas supostas
armas de destruição em massa do
Iraque se tornar um objetivo militar dos EUA, o presidente George
W. Bush também atacava Saddam Hussein como um tirano assassino.
Saddam, em seus 24 anos no poder, mergulhou o país num banho
de sangue de proporções catastróficas e exportou parte desse
terror para os vizinhos. Estima-se
que 1 milhão de iraquianos tenham sido mortos durante o regime do ex-ditador desde que ele
assumiu o poder, em 1979. Mais
de 4 milhões foram forçados a
deixar o país.
Havia prisões ao estilo de campos de concentração, masmorras
e câmaras de tortura, algumas conhecidas, como a de Abu Ghraib,
e muitas disfarçadas como hotéis,
centros esportivos e outros lugares teoricamente inocentes. Havia
a polícia secreta e a cultura de traição, com familiares denunciando
uns aos outros. Havia possivelmente centenas de valas comuns
espalhadas pelo Iraque.
"Inimigos do Estado" eram eliminados e suas mulheres ou maridos, filhos e até primos eram frequentemente torturados e mortos
também. Depois de chegar ao poder em 1979, por exemplo, Saddam participou da execução de 22
companheiros que ousaram se
opor à sua ascensão.
O poder do Estado era fortalecido por histórias que os parentes
de vítimas contavam, de unhas
extraídas, olhos arrancados, choques em órgãos genitais e afogamentos. A polícia secreta estuprava mulheres e filhas de detidos para forçar confissões e denúncias.
O maior número de mortes atribuídas ao regime do ex-ditador
foi durante a guerra entre o Irã e o
Iraque, de 1980 a 1988, iniciada
por Saddam e estimulada pelo
Ocidente para conter a Revolução
Islâmica iraniana. Os iraquianos
admitem que tiveram 500 mil baixas, enquanto os iranianos falam
na perda de 300 mil homens.
Depois, houve as mortes na invasão do Kuait, em 1990. A contagem oficial iraquiana é de 100 mil
baixas, o que é exagerado. Entre
os kuatianos, foram mil mortos.
Já as vítimas dos campos de tortura no Iraque são difíceis de calcular. Entidades ocidentais de defesa dos direitos humanos e desertores do regime estimam os
desaparecidos em 200 mil.
Baktiar Amin, diretor da Aliança Internacional por Justiça, calcula em 200 mil apenas os desaparecimentos de curdos, maioria no
norte do Iraque e duramente reprimidos por Saddam, além de
milhares de membros de outras
etnias e grupos religiosos, como
os xiitas (majoritários). Só em um
ataque com armas químicas contra uma cidade curda em 1988,
morreram 5.000 pessoas.
Os métodos de trabalho no
Baath, o partido do ex-ditador,
também eram violentos e escusos.
Uma paixão comum conduzia
seus integrantes. Era tudo relacionado a dinheiro.
Tão logo agarravam um acusado e viam sua execução ou logo
depois de delatarem um desertor
das Forças Armadas, amputar
suas orelhas e providenciar que
comida fosse negada para sua família, os funcionários do Baath
arquivavam as informações e encaminhavam para a sede do partido, acompanhada de uma nota:
"Por favor, mande meu bônus".
Com agências internacionais e "New
York Times"
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