UOL


São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cálculo de mortos pelo regime chega a 1 milhão

DA REDAÇÃO

O julgamento público de Saddam Hussein deve dar aos EUA sua melhor oportunidade de exibir aos iraquianos e ao mundo as atrocidades do ex-ditador, o que pode ajudar a justificar a guerra e a ocupação do Iraque.
Antes de a busca pelas supostas armas de destruição em massa do Iraque se tornar um objetivo militar dos EUA, o presidente George W. Bush também atacava Saddam Hussein como um tirano assassino.
Saddam, em seus 24 anos no poder, mergulhou o país num banho de sangue de proporções catastróficas e exportou parte desse terror para os vizinhos. Estima-se que 1 milhão de iraquianos tenham sido mortos durante o regime do ex-ditador desde que ele assumiu o poder, em 1979. Mais de 4 milhões foram forçados a deixar o país.
Havia prisões ao estilo de campos de concentração, masmorras e câmaras de tortura, algumas conhecidas, como a de Abu Ghraib, e muitas disfarçadas como hotéis, centros esportivos e outros lugares teoricamente inocentes. Havia a polícia secreta e a cultura de traição, com familiares denunciando uns aos outros. Havia possivelmente centenas de valas comuns espalhadas pelo Iraque.
"Inimigos do Estado" eram eliminados e suas mulheres ou maridos, filhos e até primos eram frequentemente torturados e mortos também. Depois de chegar ao poder em 1979, por exemplo, Saddam participou da execução de 22 companheiros que ousaram se opor à sua ascensão.
O poder do Estado era fortalecido por histórias que os parentes de vítimas contavam, de unhas extraídas, olhos arrancados, choques em órgãos genitais e afogamentos. A polícia secreta estuprava mulheres e filhas de detidos para forçar confissões e denúncias.
O maior número de mortes atribuídas ao regime do ex-ditador foi durante a guerra entre o Irã e o Iraque, de 1980 a 1988, iniciada por Saddam e estimulada pelo Ocidente para conter a Revolução Islâmica iraniana. Os iraquianos admitem que tiveram 500 mil baixas, enquanto os iranianos falam na perda de 300 mil homens.
Depois, houve as mortes na invasão do Kuait, em 1990. A contagem oficial iraquiana é de 100 mil baixas, o que é exagerado. Entre os kuatianos, foram mil mortos.
Já as vítimas dos campos de tortura no Iraque são difíceis de calcular. Entidades ocidentais de defesa dos direitos humanos e desertores do regime estimam os desaparecidos em 200 mil.
Baktiar Amin, diretor da Aliança Internacional por Justiça, calcula em 200 mil apenas os desaparecimentos de curdos, maioria no norte do Iraque e duramente reprimidos por Saddam, além de milhares de membros de outras etnias e grupos religiosos, como os xiitas (majoritários). Só em um ataque com armas químicas contra uma cidade curda em 1988, morreram 5.000 pessoas.
Os métodos de trabalho no Baath, o partido do ex-ditador, também eram violentos e escusos. Uma paixão comum conduzia seus integrantes. Era tudo relacionado a dinheiro.
Tão logo agarravam um acusado e viam sua execução ou logo depois de delatarem um desertor das Forças Armadas, amputar suas orelhas e providenciar que comida fosse negada para sua família, os funcionários do Baath arquivavam as informações e encaminhavam para a sede do partido, acompanhada de uma nota: "Por favor, mande meu bônus".


Com agências internacionais e "New York Times"

Texto Anterior: Comentário: Imagens da TV desumanizam ditador deposto
Próximo Texto: Em 24 anos, Saddam destruiu Iraque
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.