São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

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Oposição na Bolívia prepara anúncio de autonomia hoje

Forças Armadas dizem que armas foram roubadas para uso dos oposicionistas

Quatro departamentos governados por opositores de Evo Morales farão assembléias populares em clima de tensão crescente

Aizar Raldes/France Presse
O presidente Evo Morales é saudado ao chegar a Peñas, perto de La Paz, para homenagem ao líder indígena Tupac Katari

DA REDAÇÃO

Líderes políticos e empresariais dos departamentos (Estados) bolivianos de Santa Cruz e Beni, governados pela oposição, suspenderam ontem a greve de fome de protesto contra o governo do presidente Evo Morales, que já durava duas semanas, em preparação para as assembléias populares que realizam hoje para reivindicar sua autonomia em relação a La Paz.
Outros dois departamentos, Tarija e Pando, decidiram manter o jejum. Mais de 600 pessoas aderiram à greve, entre elas 31 parlamentares e os quatro governadores da oposição.
Os oposicionistas protestam contra o sistema de votação na Assembléia Constituinte aprovada pela bancada governista, por maioria simples, e defendem a aprovação dos artigos da nova Carta por dois terços.
As assembléias populares -chamadas lá de "cabildos"- ocorrem simultaneamente nas capitais dos quatro departamentos da chamada "meia lua". Mas a concentração principal será em Santa Cruz, motor econômico do país e principal bastião da oposição a Morales.
O movimento é por maior autonomia administrativa em relação a La Paz. Mas, na semana passada, os governadores chegaram a ameaçar declarar independência nos cabildos.
No referendo sobre a autonomia departamental realizado em julho junto com a eleição dos constituintes, o "sim" ganhou nesses quatro departamentos, enquanto o "não", defendido por Morales, ganhou nos demais cinco departamentos bolivianos. A oposição alega que, se for mantida a votação por maioria simples na Constituinte, o governo poderia tirar o tema da pauta.

Roubo de armas
Aumentando o clima de tensão, as Forças Armadas anunciaram ontem o roubo de um lote de fuzis e advertiram que as armas poderiam ser usadas nas reuniões de hoje.
"De acordo com informes de inteligência, foram subtraídos fuzis calibre 7.62 mm de Puerto de Cobija [Pando] com o propósito de serem empregados nas concentrações que estão convocadas simultaneamente nas cidades de Santa Cruz, Tarija, Beni e Cobija", disse nota das Forças Armadas.
"O uso desse armamento tem a intenção de acusar as Forças Armadas de utilizar suas armas de regulamento contra civis, especialmente na concentração que terá lugar em Santa Cruz", acrescentou a nota.
"Há uma atitude que quer desbordar os limites da Constituição", disse o secretário da Presidência, Juan Ramón Quintana.
"Há várias fronteiras em que convivem essas tentações autoritárias, essas expressões de transgressão à ordem constitucional", acrescentou.
Momento depois da divulgada da nota e da declaração de Quintana, a Junta Autônoma Democrática, que agrupa governadores e grupos civis dos quatro departamentos, afirmou que o governo está colocando o país em "uma rua sem saída que inevitavelmente terminará em confrontação".
"É o governo que busca nos desintegrar como país para exercer uma hegemonia política e cultura centralista", disse.
A Junta pediu ainda aos militares que "não se prestem ao jogo de um governo que as repudiou incontáveis vezes".


Com agências internacionais

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