São Paulo, segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

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AMÉRICA LATINA

Milhares de pessoas tomaram as ruas da zona central de Santiago para celebrar a vitória da socialista

Bachelet será a 1ª mulher a presidir o Chile

Tomas Munita/Associated Press
Eleitores de Michelle Bachelet comemoram a vitória da candidata socialista nas ruas de Santiago


CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

A médica socialista Michelle Bachelet, 54, venceu a eleição presidencial do Chile. Ela tinha 53,5% dos votos com a apuração encerrada em 97% dos locais de votação, segundo o último relatório do Ministério do Interior.
Seu adversário, o empresário Sebastián Piñera, havia recebido 46,5% dos votos.
Bachelet será a primeira presidente do Chile. Piñera, da coalizão de direita Aliança pelo Chile, admitiu a derrota. Seguindo a tradição chilena, ele dirigiu-se até o comando de campanha da vencedora. Desejou "o maior sucesso possível" a Bachelet e disse que irá conformar "uma oposição firme e construtiva".
Ao contrário do que previam as autoridades, a votação teve uma abstenção considerada alta para os padrões chilenos, de cerca de 13% dos 8,2 milhões de eleitores registrados. Apesar da apuração manual, o resultado final era esperado ainda na noite de ontem.
Bachelet assume a Presidência em 11 de março para um mandato de quatro anos, ao final dos quais a Concertação, a coalizão de centro-esquerda que a elegeu, terá estado no poder por 20 anos.
Tão logo o primeiro balanço divulgado confirmou a vitória de Bachelet, milhares de pessoas tomaram as ruas da Alameda, na zona central de Santiago, andando e em carreata, para celebrar.
"Antes tínhamos pátria, agora temos mátria", brincou a chefe de cerimônias no palanque diante do qual a multidão esperava o discurso da vitória.
Visivelmente emocionada, Bachelet falou aos simpatizantes perto das 22h30 locais. "Não é a primeira vez que o Chile assombra o mundo", afirmou, lembrando o dia em que os militares derrubaram o governo de Salvador Allende, em 1973, instaurando uma ditadura.
"Meu governo será o governo da unidade. Serei presidente de todos os chilenos", afirmou. "Tenho uma agenda ambiciosa, que empreenderei tão logo entre em La Moneda (sede de governo), porque quatro anos são muito pouco. Hoje começamos um novo capítulo da nossa história republicana", acrescentou.

"Pendência"
O presidente Ricardo Lagos, também da Concertação, telefonou para a socialista para parabenizá-la no início da noite. "Depois tenho de te falar de uma coisinhas que ficaram pendentes", disse, em tom de brincadeira, ao fim da conversa.
Minutos mais tarde, em pronunciamento à nação, Lagos afirmou que o triunfo de Bachelet "se funda em seus méritos, em sua inteligência, em seu profundo amor ao Chile, e no que foi sua vida pessoal de testemunho de entrega ao Chile, ainda que nos momentos mais duros, que moldou seu caráter sem deixar rastro algum de vingança".
"Somos hoje um novo Chile e ter uma presidente mulher o indica", afirmou o mandatário.

História
Bachelet foi ministra da Saúde e da Defesa de Lagos, cargos que a projetaram politicamente. Ela foi presa e torturada nos piores centros de detenção de dissidentes políticos da ditadura junto com sua mãe. E seu pai, um oficial da Força Aérea, foi morto pelos militares e lembrado por ela no discurso da vitória.
"A vitória mostra que a Concertação é a mais importante coalizão da história do Chile, que lhe deu governabilidade e estabilidade, e isso foi reconhecido hoje pelos chilenos", afirmou Sergio Bittar, chefe político da campanha de Bachelet e ex-ministro da Educação de Lagos.
"A sociedade chilena é tão conservadora que o resultado coloca o Chile na vanguarda da região. É um feito cultural e político", disse o ex-vice-presidente argentino Carlos "Chacho" Alvarez, que acompanhou a apuração no comando da campanha de Bachelet.

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