São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

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Israel ataca edifício da ONU e hospital

Em dia mais intenso de conflito, escritório de jornalistas em Gaza também é atingido; Exército diz que respondia a disparos de militantes

Tropas israelenses matam ministro do Interior do Hamas, mais alto dirigente da organização extremista abatido até aqui na ofensiva

Mohammed Abed/France Presse
Funcionário da agência da ONU para os refugiados palestinos observa fumaça vinda de sede da organização em Gaza, atingida por ataques de tropas israelenses; secretário-geral pediu cessar-fogo imediato

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT

No dia mais intenso em três semanas de ofensiva contra o Hamas, o Exército de Israel voltou a ser alvo de críticas ao atingir a sede da agência de ajuda humanitária das Nações Unidas na faixa de Gaza, mas também reivindicou um triunfo ao matar um dos principais líderes do grupo extremista.
A escalada ocorreu justamente no dia em que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, visitava Israel para pedir um cessar-fogo imediato. O governo israelense lamentou o incidente, mas afirmou que o Exército respondeu a disparos de militantes feitos de dentro da sede da organização.
Israel foi obrigado a se defender das críticas por ataques do Exército que atingiram outras duas instituições civis, um hospital e um prédio que abriga escritórios de jornalistas. Em ambos os casos, assim como no bombardeio à sede da ONU, houve apenas registro de feridos sem gravidade, mas o impacto negativo para a imagem de Israel reverberou todo o dia nos canais internacionais.
Em meio a informações imprecisas sobre progressos na frente diplomática, as tropas israelenses se aproximaram do coração da Cidade de Gaza, o principal centro urbano de uma das áreas de maior densidade populacional do mundo.
Fontes palestinas relataram à Folha que tanques se posicionaram a menos de um quilômetro da Universidade Islâmica, que fica no centro da cidade, dando início a um grande deslocamento populacional. Antevendo uma sangrenta batalha urbana, milhares de pessoas pegaram o que podiam e se afastaram do centro de Gaza.
Segundo o Exército, mais de 70 "alvos terroristas" foram atingidos por fogo de artilharia, bombardeios aéreos e navais, incluindo uma mesquita na região de Rafah, no sul da faixa de Gaza, que estaria sendo usada para o disparo de foguetes. Um dos ataques matou o ministro do Interior, Said Siam, o mais alto dirigente do Hamas executado desde o início da ofensiva, que hoje completa 21 dias.
Mas a intensificação dos ataques também teve efeitos indesejados, que aumentaram a pressão internacional sobre Israel. Três pessoas ficaram feridas quando a sede da UNRWA, agência de ajuda aos palestinos da ONU, foi atingida pela artilharia israelense. Um grande incêndio tomou conta do prédio, destruindo dezenas de toneladas de alimentos.

Quarto incidente
Metade da população de 1,5 milhão de pessoas de Gaza depende da ajuda da ONU para sobreviver. Foi pelo menos o quarto incidente envolvendo disparos israelenses e a ONU desde o início da ofensiva. No pior deles, uma escola da organização foi atingida por Israel, num ataque que deixou pelo menos 40 mortos. Como no ataque de ontem, o Exército israelense culpou os militantes do Hamas por usar instalações civis como escudos.
O secretário-geral da ONU disse em Tel Aviv que o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, lamentou o ataque à sede da UNRWA como um "grave erro". Ban Ki-moon expressou ao governo de Israel "forte protesto e indignação" pelo incidente. Para Ban, o número de mortos em Gaza, que ontem chegou a 1.076, atingiu o limite do "insuportável".
Representantes da UNRWA em Gaza contestaram a explicação israelense. Chris Gunnes, um dos porta-vozes da agência, classificou a alegação de que militantes haviam disparado do prédio atingido como "totalmente infundada".

Fósforo branco
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, John Holmes, disse que há indícios de fósforo branco no galpão atingido em Gaza pelo ataque israelense. O uso da munição, destinada a produzir fumaça, não é proibido pelas convenções internacionais, mas seu efeito incendiário pode ser considerado ilegal quando lançado sobre civis.
Israel não revela o tipo de munição utilizado em seus ataques, mas a porta-voz do Exército, Avital Leibovitch, garantiu à Folha que "todas as armas usadas estão dentro do que é permitido pela lei internacional". Ela acrescentou que o ataque de ontem ao hospital Al-Quds "está sendo investigado", assim como o que atingiu o edifício Al-Shrouk, no centro de Gaza, que abriga várias sucursais de empresas de mídia.
Dois funcionários de um canal dos Emirados Árabes ficaram levemente feridos, e dezenas de outros jornalistas deixaram o prédio temendo novos ataques. O ataque tornou ainda mais tensa a relação de Israel com a imprensa estrangeira, proibida pelo governo de entrar em Gaza. Os jornalistas que trabalhavam no prédio atingido já estavam em Gaza quando a ofensiva teve início.


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