São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 2010

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Brasil critica "assistencialismo unilateral" de Washington

FÁBIO ZANINI
JOHANNA NUBLAT

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O governo brasileiro reagiu ontem ao que considerou uma interferência indevida dos Estados Unidos sobre sua posição de comando nas operações de segurança e resgate no Haiti. O Brasil não gostou de ver o controle do aeroporto de Porto Príncipe passar anteontem, em questão de horas, dos haitianos para as mãos dos americanos.
O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) viu "descoordenação" no episódio e expôs sua insatisfação à secretária de Estado americana, Hillary Clinton.
"Até certo ponto, isso pode ser visto como natural, porque evidentemente há muitos voos de muitos países querendo chegar, mas é importante ter clareza de que estamos sendo tratados com a prioridade adequada", disse o chanceler.
Segundo Amorim, Hillary assegurou que os americanos estão no aeroporto apenas em caráter humanitário. "Eles não querem e não devem interferir na questão da manutenção da ordem, que é tarefa da Minustah", disse.
O chanceler defendeu ainda que a coordenação dos auxílios ao Haiti seja feita sob a égide da ONU, com o que Hillary teria concordado. "Cada um está fazendo o que pode, o importante é coordenar para evitar problemas no terreno. Às vezes, há muita gente querendo ajudar ao mesmo tempo, esbarra um no outro e não dá certo. Então temos que coordenar no terreno, com respeito claro à Minustah, que é a força oficial da ONU."
Ao desembarcar em Brasília na madrugada de ontem, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, já havia reclamado dos americanos. Segundo ele, a atitude dos EUA ao assumir o controle do aeroporto foi "unilateral". "Não dá para se pensar em fazer assistencialismo unilateral. Tem que fazer assistencialismo multilateral", afirmou.
Jobim procurou reforçar que o comando geral da operação continuará a cargo dos brasileiros. "Evidentemente que vai continuar. O problema da ação americana é que foi uma decisão unilateral", disse.
A Folha apurou que o o governo brasileiro está insatisfeito com o que considera um exagerado ímpeto dos EUA de ocupar espaços sem se importar com a opinião da ONU e de sua representante em solo haitiano, a Minustah.
Para o Brasil, a reconstrução do Haiti é uma oportunidade de afirmação da diplomacia do país no cenário internacional, como indica uma declaração de ontem do próprio Amorim. "A percepção do que nós temos feito é muito grande, não só no Brasil mas no mundo."
O general brasileiro Floriano Peixoto, que comanda a força de estabilização do Haiti, reprovou a intenção do Comando Militar do Sul, responsável pelas tropas dos EUA nas Américas, de enviar uma brigada de paraquedistas. O momento, segundo Peixoto, é de enviar tropas para reconstrução do país, e não treinadas para combate.
Jobim, ao chegar a Brasília, afirmou que a Minustah, após o terremoto, mudou automaticamente de perfil -de uma missão de paz, para uma missão de reconstrução. Em outras palavras, o recado do ministro é de que o novo ambiente de caos, a missão chefiada pelo Brasil continua tendo o papel central dentro do Haiti que tinha antes do desastre.
Num primeiro momento, de acordo com Jobim, não há intenção de aumentar significativamente o efetivo atual, de 1.266 militares brasileiros. Mas uma elevação do contingente caso a situação de segurança se deteriore não está descartada.


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