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Brasil critica "assistencialismo unilateral" de Washington
FÁBIO ZANINI
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro reagiu
ontem ao que considerou uma
interferência indevida dos Estados Unidos sobre sua posição
de comando nas operações de
segurança e resgate no Haiti. O
Brasil não gostou de ver o controle do aeroporto de Porto
Príncipe passar anteontem, em
questão de horas, dos haitianos
para as mãos dos americanos.
O ministro Celso Amorim
(Relações Exteriores) viu "descoordenação" no episódio e expôs sua insatisfação à secretária de Estado americana, Hillary Clinton.
"Até certo ponto, isso pode
ser visto como natural, porque
evidentemente há muitos voos
de muitos países querendo chegar, mas é importante ter clareza de que estamos sendo tratados com a prioridade adequada", disse o chanceler.
Segundo Amorim, Hillary assegurou que os americanos estão no aeroporto apenas em caráter humanitário. "Eles não
querem e não devem interferir
na questão da manutenção da
ordem, que é tarefa da Minustah", disse.
O chanceler defendeu ainda
que a coordenação dos auxílios
ao Haiti seja feita sob a égide da
ONU, com o que Hillary teria
concordado. "Cada um está fazendo o que pode, o importante
é coordenar para evitar problemas no terreno. Às vezes, há
muita gente querendo ajudar
ao mesmo tempo, esbarra um
no outro e não dá certo. Então
temos que coordenar no terreno, com respeito claro à Minustah, que é a força oficial da
ONU."
Ao desembarcar em Brasília
na madrugada de ontem, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, já havia reclamado dos
americanos. Segundo ele, a atitude dos EUA ao assumir o controle do aeroporto foi "unilateral". "Não dá para se pensar em
fazer assistencialismo unilateral. Tem que fazer assistencialismo multilateral", afirmou.
Jobim procurou reforçar que
o comando geral da operação
continuará a cargo dos brasileiros. "Evidentemente que vai
continuar. O problema da ação
americana é que foi uma decisão unilateral", disse.
A Folha apurou que o o governo brasileiro está insatisfeito com o que considera um exagerado ímpeto dos EUA de
ocupar espaços sem se importar com a opinião da ONU e de
sua representante em solo haitiano, a Minustah.
Para o Brasil, a reconstrução
do Haiti é uma oportunidade
de afirmação da diplomacia do
país no cenário internacional,
como indica uma declaração de
ontem do próprio Amorim. "A
percepção do que nós temos
feito é muito grande, não só no
Brasil mas no mundo."
O general brasileiro Floriano
Peixoto, que comanda a força
de estabilização do Haiti, reprovou a intenção do Comando
Militar do Sul, responsável pelas tropas dos EUA nas Américas, de enviar uma brigada de
paraquedistas. O momento, segundo Peixoto, é de enviar tropas para reconstrução do país,
e não treinadas para combate.
Jobim, ao chegar a Brasília,
afirmou que a Minustah, após o
terremoto, mudou automaticamente de perfil -de uma missão de paz, para uma missão de
reconstrução. Em outras palavras, o recado do ministro é de
que o novo ambiente de caos, a
missão chefiada pelo Brasil
continua tendo o papel central
dentro do Haiti que tinha antes
do desastre.
Num primeiro momento, de
acordo com Jobim, não há intenção de aumentar significativamente o efetivo atual, de
1.266 militares brasileiros. Mas
uma elevação do contingente
caso a situação de segurança se
deteriore não está descartada.
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