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Cônsul do Haiti atribui tremor à religião africana
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Acho que, de tanto mexer
com macumba, não sei o que é
aquilo. O africano em si tem
maldição. Todo lugar que tem
africano está fodido."
As declarações do cônsul geral do Haiti em São Paulo,
George Samuel Antoine, causaram um mal-estar nos meios
diplomáticos e estremeceram
ontem a repercussão da tragédia que deixou entre 45 mil e
50 mil mortos.
Sem saber que já estava sendo gravado na preparação de
uma entrevista para o programa "SBT Brasil", Antoine atribuiu a culpa do terremoto à religião e disse que "a desgraça do
Haiti está sendo uma boa" porque o país "fica conhecido".
Uma das principais correntes religiosas no país é o vodu,
que tem relação com outras
manifestações de origem africana como o candomblé e a
santería cubana.
A embaixada haitiana e o Itamaraty reagiram, e uma entrevista coletiva foi convocada para esclarecer as declarações
consideradas preconceituosas
e de cunho racista.
Embaixador do Haiti no Brasil, Idalbert Pierre-Jean classificou de "idiotas" as afirmações
do colega, mas disse que não
haveria nenhuma punição administrativa a Antoine porque
apenas o presidente René Préval tem poder para destituí-lo
do cargo. O Itamaraty entrou
em contato com o embaixador
e pediu que ele tivesse uma
"conversa dura" com o cônsul.
Numa entrevista posterior,
Antoine atribuiu às dificuldades com a língua portuguesa
-embora more no Brasil há 35
anos e fale sem sotaque estrangeiro- o que considerou ser
um "mal-entendido", uma "deturpação" e "interpretação
equivocada" do que havia dito.
"Foi uma expressão de nervosismo, sem maldade", disse.
Nascido em Porto Príncipe e
representante branco de um
país de população majoritariamente negra, Antoine é cônsul
em São Paulo desde 1975, indicado durante o regime de terror do ditador haitiano Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, filho de François Duvalier, o ex-presidente e também ditador
conhecido como Papa Doc.
No Brasil, Antoine é ligado à
comunidade libanesa e já foi
presidente do Clube Monte Líbano de Campinas, da União
Cultural Libanesa Mundial e da
Federação Nacional Líbano-Brasileira. Já recebeu medalhas de honra ao mérito da Presidência da República do Haiti.
Veja o vídeo com as
declarações do cônsul
www.folha.com.br/100158
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