São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 2010

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Cônsul do Haiti atribui tremor à religião africana

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Acho que, de tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo. O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano está fodido."
As declarações do cônsul geral do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine, causaram um mal-estar nos meios diplomáticos e estremeceram ontem a repercussão da tragédia que deixou entre 45 mil e 50 mil mortos.
Sem saber que já estava sendo gravado na preparação de uma entrevista para o programa "SBT Brasil", Antoine atribuiu a culpa do terremoto à religião e disse que "a desgraça do Haiti está sendo uma boa" porque o país "fica conhecido". Uma das principais correntes religiosas no país é o vodu, que tem relação com outras manifestações de origem africana como o candomblé e a santería cubana.
A embaixada haitiana e o Itamaraty reagiram, e uma entrevista coletiva foi convocada para esclarecer as declarações consideradas preconceituosas e de cunho racista. Embaixador do Haiti no Brasil, Idalbert Pierre-Jean classificou de "idiotas" as afirmações do colega, mas disse que não haveria nenhuma punição administrativa a Antoine porque apenas o presidente René Préval tem poder para destituí-lo do cargo. O Itamaraty entrou em contato com o embaixador e pediu que ele tivesse uma "conversa dura" com o cônsul.
Numa entrevista posterior, Antoine atribuiu às dificuldades com a língua portuguesa -embora more no Brasil há 35 anos e fale sem sotaque estrangeiro- o que considerou ser um "mal-entendido", uma "deturpação" e "interpretação equivocada" do que havia dito.
"Foi uma expressão de nervosismo, sem maldade", disse. Nascido em Porto Príncipe e representante branco de um país de população majoritariamente negra, Antoine é cônsul em São Paulo desde 1975, indicado durante o regime de terror do ditador haitiano Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, filho de François Duvalier, o ex-presidente e também ditador conhecido como Papa Doc.
No Brasil, Antoine é ligado à comunidade libanesa e já foi presidente do Clube Monte Líbano de Campinas, da União Cultural Libanesa Mundial e da Federação Nacional Líbano-Brasileira. Já recebeu medalhas de honra ao mérito da Presidência da República do Haiti.

Veja o vídeo com as declarações do cônsul

www.folha.com.br/100158


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