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IRAQUE SOB TUTELA
"A opinião pública deseja essa decisão", diz Berlusconi, em meio à comoção pela morte de um agente italiano
Itália retirará tropas a partir de setembro
DA REDAÇÃO
O primeiro-ministro italiano,
Silvio Berlusconi (centro-direita),
disse ontem que a Itália começará
em setembro a reduzir sua presença militar no Iraque, se até lá
os iraquianos estiverem capacitados a cuidar de sua própria segurança. Ele fez o anúncio em um
"talk show" na TV pública RAI, e
não ao Parlamento, o que irritou
alguns deputados italianos.
A decisão italiana é mais uma
importante baixa na base da coalizão que participou da Guerra do
Iraque, em 2003. Antes dela, a Espanha, que estava na vanguarda
do apoio aos EUA, também retirou suas tropas.
Berlusconi não disse se sua decisão representava uma represália
ao incidente do último dia 4,
quando soldados americanos atiraram no automóvel que transportava a recém-libertada refém
italiana Giuliana Sgrena, que ficou ferida, e mataram o agente de
inteligência Nicola Calipari, responsável pela libertação dela.
Mas o premiê também disse que
comunicou o cronograma de repatriamento a seu colega britânico, Tony Blair, e que "é a opinião
pública de nossos países que deseja essa decisão".
A menção à opinião pública é
importante no caso. Os italianos
foram majoritariamente críticos
ao alinhamento de Berlusconi à
política iraquiana de George W.
Bush.
A morte de Calipari comoveu o
país. Sgrena, jornalista do "Manifesto", uma publicação de extrema esquerda e de ferrenha oposição ao atual governo, tornou-se
heroína nacional.
Em maio de 2006, os italianos
vão às urnas para renovar o Parlamento. Berlusconi, o único nome
eleitoralmente forte da direita,
anunciou ontem que pretende
permanecer como primeiro-ministro. A retirada dos soldados
italianos em setembro se integraria, desse modo, no cronograma
da campanha eleitoral.
A Itália mantém no Iraque 3.085
homens. É o terceiro maior contingente estrangeiro, depois dos
EUA (150 mil), do Reino Unido
(8.000) e da Coréia do Sul (3.600).
Em Washington, a Casa Branca
disse que a decisão italiana sobre a
retirada não está ligada à morte de
Calipari e ao ferimento de Giuliana Sgrena. Indagado sobre o assunto, o porta-voz Scott McClellan disse "não ter ouvido nada
que permitisse tal conclusão".
Disse também que a retirada das
forças italianas não afetaria a capacidade operacional da coalizão
no Iraque.
A administração Bush está escaldada desde março do ano passado, quando, após o atentado islâmico que matou 191 em Madri e
a subseqüente derrota eleitoral da
direita, a Espanha retirou suas
tropas de solo iraquiano.
No final do ano passado o ministro italiano da Defesa havia declarado que as seus militares começariam a sair depois das eleições de janeiro último, mas não
deu um cronograma.
Ainda ontem, antes mesmo da
entrevista de Berlusconi, a Câmara italiana aprovou por confortável maioria o projeto, já votado
pelo Senado, de financiamento da
presença militar no Iraque pelos
próximos seis meses.
Também ontem o governo Búlgaro anunciou que retiraria do
Iraque seus 450 militares, depois
de um incidente em que um deles
foi morto pelo "fogo amigo" de
soldados americanos.
Sem motivação semelhante, o
governo da Holanda já divulgara
a intenção de retirar seus militares
daquele país em meados de abril.
A Polônia também pretende fazê-lo, até o final do ano. A Ucrânia
começou a retirar seus soldados
nesta semana.
Com agências internacionais
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