São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

"A opinião pública deseja essa decisão", diz Berlusconi, em meio à comoção pela morte de um agente italiano

Itália retirará tropas a partir de setembro

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi (centro-direita), disse ontem que a Itália começará em setembro a reduzir sua presença militar no Iraque, se até lá os iraquianos estiverem capacitados a cuidar de sua própria segurança. Ele fez o anúncio em um "talk show" na TV pública RAI, e não ao Parlamento, o que irritou alguns deputados italianos.
A decisão italiana é mais uma importante baixa na base da coalizão que participou da Guerra do Iraque, em 2003. Antes dela, a Espanha, que estava na vanguarda do apoio aos EUA, também retirou suas tropas.
Berlusconi não disse se sua decisão representava uma represália ao incidente do último dia 4, quando soldados americanos atiraram no automóvel que transportava a recém-libertada refém italiana Giuliana Sgrena, que ficou ferida, e mataram o agente de inteligência Nicola Calipari, responsável pela libertação dela.
Mas o premiê também disse que comunicou o cronograma de repatriamento a seu colega britânico, Tony Blair, e que "é a opinião pública de nossos países que deseja essa decisão".
A menção à opinião pública é importante no caso. Os italianos foram majoritariamente críticos ao alinhamento de Berlusconi à política iraquiana de George W. Bush.
A morte de Calipari comoveu o país. Sgrena, jornalista do "Manifesto", uma publicação de extrema esquerda e de ferrenha oposição ao atual governo, tornou-se heroína nacional.
Em maio de 2006, os italianos vão às urnas para renovar o Parlamento. Berlusconi, o único nome eleitoralmente forte da direita, anunciou ontem que pretende permanecer como primeiro-ministro. A retirada dos soldados italianos em setembro se integraria, desse modo, no cronograma da campanha eleitoral.
A Itália mantém no Iraque 3.085 homens. É o terceiro maior contingente estrangeiro, depois dos EUA (150 mil), do Reino Unido (8.000) e da Coréia do Sul (3.600).
Em Washington, a Casa Branca disse que a decisão italiana sobre a retirada não está ligada à morte de Calipari e ao ferimento de Giuliana Sgrena. Indagado sobre o assunto, o porta-voz Scott McClellan disse "não ter ouvido nada que permitisse tal conclusão". Disse também que a retirada das forças italianas não afetaria a capacidade operacional da coalizão no Iraque.
A administração Bush está escaldada desde março do ano passado, quando, após o atentado islâmico que matou 191 em Madri e a subseqüente derrota eleitoral da direita, a Espanha retirou suas tropas de solo iraquiano.
No final do ano passado o ministro italiano da Defesa havia declarado que as seus militares começariam a sair depois das eleições de janeiro último, mas não deu um cronograma.
Ainda ontem, antes mesmo da entrevista de Berlusconi, a Câmara italiana aprovou por confortável maioria o projeto, já votado pelo Senado, de financiamento da presença militar no Iraque pelos próximos seis meses.
Também ontem o governo Búlgaro anunciou que retiraria do Iraque seus 450 militares, depois de um incidente em que um deles foi morto pelo "fogo amigo" de soldados americanos.
Sem motivação semelhante, o governo da Holanda já divulgara a intenção de retirar seus militares daquele país em meados de abril. A Polônia também pretende fazê-lo, até o final do ano. A Ucrânia começou a retirar seus soldados nesta semana.


Com agências internacionais

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