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EMINÊNCIA PARDA
Mulher de Milosevic é acusada de abuso de poder no regime do marido
"Lady Macbeth dos Bálcãs" ressurge
DUSAN STOJANOVIC
DA ASSOCIATED PRESS, EM BELGRADO
Após a morte de Slobodan Milosevic, sua viúva, apelidada por
inimigos de "Lady Macbeth dos
Bálcãs", ou, ainda, "Bruxa Vermelha", está de volta ao centro
das atenções da mídia.
Anteontem, uma corte de Belgrado suspendeu o mandado de
prisão contra Mirjana Markovic, mas ordenou a apreensão
de seu passaporte se ela decidir
voltar de seu exílio auto-imposto em Moscou para acompanhar o enterro de Milosevic.
Vista como a eminência parda
do governo de Milosevic, nos
anos 90, Markovic foi acusada
em Belgrado de abuso de poder
durante o regime de seu marido.
Algumas acusações a vinculam
diretamente a mortes de adversários políticos de Milosevic.
Markovic, 61, exerceu papel-chave na ascensão de Milosevic
ao poder. Quando a popularidade de seu marido caiu vertiginosamente, em 1993, em razão de
sua mudança do comunismo
para o nacionalismo, Markovic
formou seu partido esquerdista
próprio, o JUL, para conservar
os verdadeiros seguidores marxistas do casal dentro do rebanho do partido governista.
Seus críticos dizem que o JUL,
que combinava um discurso de
extrema esquerda com as práticas do capitalismo primitivo, foi
criado seguindo um esquema
mafioso, sem bases de apoio populares mas obedecendo a regras rígidas que tornaram seus
líderes ricos e poderosos.
Markovic e Milosevic se conheceram no colégio na cidade
natal de ambos, Pozarevac, na
parte central da Sérvia. Ela era
filha de uma família comunista
destacada e costumava declarar
que algum dia seu "Slobo" seria
um líder tão eminente quando
Tito, o ditador da Iugoslávia.
Em 1987, Markovic, que era
professora de sociologia, ajudou
Milosevic -na época um burocrata em ascensão no Partido
Comunista- a afastar Ivan
Stambolic, patrono e amigo de
longa data de ambos, da direção
do Partido Comunista sérvio.
Stambolic foi seqüestrado em
2000 -mesmo ano em que Milosevic seria derrubado por um
levante popular- e morto.
Quando o editor independente Slavko Curuvija contestou a
decisão de Milosevic de ir à
guerra com a Otan por causa de
Kosovo, em 1999, Markovic o
acusou publicamente de ajudar
a aliança a identificar alvos para
as bombas atiradas sobre Belgrado. Um dia depois, Curuvija
foi assassinado.
Markovic fugiu para a Rússia
em março de 2003, dias antes do
assassinato de Zoran Djindjic,
arqui-rival de Milosevic. Muitos
em Belgrado suspeitam que ela
tenha fugido por temer a vinculação de seu nome à morte de
Djindjic.
Em seu diário, que, na década
de 90, ela publicava no semanário "Duga", Markovic descreveu
os adversários de Milosevic como "pessoas inferiores".
O biógrafo Slavoljub Djukic,
autor de um livro sobre o casal,
retratou Milosevic como líder
sem emoções e afastado da realidade, não confiando em ninguém a não ser sua mulher para
protegê-lo contra conspirações.
Markovic é odiada pela oposição. Em 1993, uma empresa de
leite da Sérvia precisou mudar
seu emblema -uma vaca com
uma flor na cabeça- porque
Markovic tinha o hábito de usar
uma flor de plástico no cabelo.
Tradução de Clara Allain
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