São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

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EMINÊNCIA PARDA

Mulher de Milosevic é acusada de abuso de poder no regime do marido

"Lady Macbeth dos Bálcãs" ressurge

DUSAN STOJANOVIC
DA ASSOCIATED PRESS, EM BELGRADO

Após a morte de Slobodan Milosevic, sua viúva, apelidada por inimigos de "Lady Macbeth dos Bálcãs", ou, ainda, "Bruxa Vermelha", está de volta ao centro das atenções da mídia.
Anteontem, uma corte de Belgrado suspendeu o mandado de prisão contra Mirjana Markovic, mas ordenou a apreensão de seu passaporte se ela decidir voltar de seu exílio auto-imposto em Moscou para acompanhar o enterro de Milosevic.
Vista como a eminência parda do governo de Milosevic, nos anos 90, Markovic foi acusada em Belgrado de abuso de poder durante o regime de seu marido. Algumas acusações a vinculam diretamente a mortes de adversários políticos de Milosevic.
Markovic, 61, exerceu papel-chave na ascensão de Milosevic ao poder. Quando a popularidade de seu marido caiu vertiginosamente, em 1993, em razão de sua mudança do comunismo para o nacionalismo, Markovic formou seu partido esquerdista próprio, o JUL, para conservar os verdadeiros seguidores marxistas do casal dentro do rebanho do partido governista.
Seus críticos dizem que o JUL, que combinava um discurso de extrema esquerda com as práticas do capitalismo primitivo, foi criado seguindo um esquema mafioso, sem bases de apoio populares mas obedecendo a regras rígidas que tornaram seus líderes ricos e poderosos.
Markovic e Milosevic se conheceram no colégio na cidade natal de ambos, Pozarevac, na parte central da Sérvia. Ela era filha de uma família comunista destacada e costumava declarar que algum dia seu "Slobo" seria um líder tão eminente quando Tito, o ditador da Iugoslávia.
Em 1987, Markovic, que era professora de sociologia, ajudou Milosevic -na época um burocrata em ascensão no Partido Comunista- a afastar Ivan Stambolic, patrono e amigo de longa data de ambos, da direção do Partido Comunista sérvio.
Stambolic foi seqüestrado em 2000 -mesmo ano em que Milosevic seria derrubado por um levante popular- e morto.
Quando o editor independente Slavko Curuvija contestou a decisão de Milosevic de ir à guerra com a Otan por causa de Kosovo, em 1999, Markovic o acusou publicamente de ajudar a aliança a identificar alvos para as bombas atiradas sobre Belgrado. Um dia depois, Curuvija foi assassinado.
Markovic fugiu para a Rússia em março de 2003, dias antes do assassinato de Zoran Djindjic, arqui-rival de Milosevic. Muitos em Belgrado suspeitam que ela tenha fugido por temer a vinculação de seu nome à morte de Djindjic.
Em seu diário, que, na década de 90, ela publicava no semanário "Duga", Markovic descreveu os adversários de Milosevic como "pessoas inferiores".
O biógrafo Slavoljub Djukic, autor de um livro sobre o casal, retratou Milosevic como líder sem emoções e afastado da realidade, não confiando em ninguém a não ser sua mulher para protegê-lo contra conspirações.
Markovic é odiada pela oposição. Em 1993, uma empresa de leite da Sérvia precisou mudar seu emblema -uma vaca com uma flor na cabeça- porque Markovic tinha o hábito de usar uma flor de plástico no cabelo.


Tradução de Clara Allain

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