São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2011

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Êxodo em Fukushima aumenta com piora da usina e desconfiança

Famílias da região abandonam até mesmo áreas que o governo japonês define como seguras

Em cidade a 70 km de reatores, homens de branco inspecionam moradores à procura de traços de radiação

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A KORIYAMA
(PROVÍNCIA DE FUKUSHIMA)


Com a escalada dramática da crise nuclear, aumentou ontem o êxodo de pessoas da região em volta da usina Fukushima 1. Muitas famílias abandonaram até mesmo áreas que o governo japonês considera seguras.
Num centro desportivo da cidade de Koriyama, a cerca de 70 km da usina Fukushima 1, centenas de pessoas formaram uma longa fila para a inspeção de níveis de radioatividade. Havia distribuição de cobertores e isolantes térmicos.
"Talvez o governo não esteja mentindo, mas não dá os detalhes corretos. É como se a situação estivesse ruim, mas eles insistem em dizer que não é tão ruim", disse o carpinteiro Takeiuki Sato, 67, enquanto esperava a inspeção, sob uma chuva fina e temperatura de 7ºC.
A checagem, feita por homens vestidos com roupas brancas especiais, era feita até em cachorros de estimação levados pelas famílias.
Os repórteres da Folha também passaram pela checagem, e nenhum traço de radiação foi encontrado.
A inspeção dura menos de um minuto e é parecida com um detector de metais. Há uma preocupação especial com solas de sapatos e mãos.
Quando a chuva apertou, no início da tarde, a fila rapidamente foi transferida para dentro. Além da proteção contra o frio, os técnicos temiam chuva radioativa.

PEREGRINAÇÃO
Koriyama é o terceiro lugar onde Sato se abriga desde o terremoto de sexta-feira. Como a sua casa fica a 7 km da usina, ele e a família foram primeiro a um abrigo na vizinhança na sexta-feira.
No dia seguinte, quando o governo estabeleceu o perímetro de 20 km em torno da usina, eles tiveram de ir a um novo abrigo, em Iwaki. E ontem, com a situação cada vez mais fora de controle, chegaram a Koriyama.
Acompanhado da mulher, de dois filhos, do genro e de duas netas, Sato planeja fugir para Nagoya, onde vive sua irmã, mas as rodovias expressas fechadas e a falta crônica de gasolina praticamente inviabilizam a viagem.
Com o futuro próximo incerto, a família teve ao menos uma boa notícia ontem: apesar da proximidade com a usina durante quatro dias, ninguém apresentou sinais de radiação. Até as 15h30 locais, ninguém havia sido detectado com contaminação.
Governos locais também estão retirando cidadãos de áreas já fora do perímetro de segurança. É o caso da localidade de Hirono, que levou para Koriyama, em ônibus e carros particulares, dezenas de pessoas que já estavam abrigadas fora dos 20 km.
As medidas vão além da orientação dada pelo primeiro-ministro Naoto Kan. Na TV, ele voltou a orientar a população a deixar a zona de 20 km em volta da usina e a não sair de casa em locais entre 20 km e 30 km de distância.
Com 132 mil habitantes, Koriyama sofreu menos do que as cidades litorâneas. A energia foi restabelecida, mas os postos de gasolina estão secos, e quase todo o comércio, fechado. As poucas lojas de conveniência abertas têm prateleiras vazias.

MAIS TREMORES
As réplicas continuaram ontem, aparentemente com intensidade menor do que os dias anteriores.
Quando questionado a comparar a situação com o pós-guerra, Sato diz que o país avançou bastante desde 1945, mas que isso também tem o seu lado negativo.
"O Japão melhorou muito depois da guerra. Porém, essa melhora faz com que as pessoas não saibam lidar com uma situação como essa. As pessoas já não sabem nem consertar uma estante."

Com ROBERTO MAXWELL


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