São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2011

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Líder americano quer construir "uma ponte cultural simbólica"

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Sem desprezar o lado econômico, duas especialistas do Council on Foreign Relations, influente centro de estudos de Washington, destacaram ontem, em teleconferência, o aspecto simbólico da primeira visita de Barack Obama à América do Sul.
Ao discursar em praça pública no Rio, assistir a uma apresentação de capoeira na icônica Cidade de Deus e fazer no Chile o primeiro pronunciamento aos latino-americanos desde a Cúpula das Américas de 2009, Obama tentará construir uma "ponte cultural" entre os EUA e a região, disse Julia Sweig.
"Seu aceno aos brasileiros na favela ajudará a convencer o Congresso dos EUA a reduzir as tarifas sobre o álcool brasileiro? Não sei. Mas pode começar a ajudar [a presidente Dilma] Rousseff a explicar para seu público interno por que é do interesse do Brasil se conectar aos EUA", exemplificou.
Sweig, que acaba de se reunir em Brasília com autoridades do governo, também apontou o simbolismo do encontro do primeiro negro presidente dos EUA com a primeira mulher presidente do Brasil.
"A relação pessoal não implica sempre uma parceria melhor, mas assinala às burocracias que devem se esforçar para isso."
Para ela, o encontro será facilitado pelo fato de Dilma ter deixado claro que quer boa relação com os EUA e se distanciado do governo Lula em temas como os direitos humanos no Irã.
Isso não significa, assinalou, que não haverá mais divergências.
"No Irã, não tenho certeza de que veremos o Brasil tão envolvido na questão nuclear. Mas o país, que se vê como bom mediador, pode continuar presente no Oriente Médio. Sem querer espetar os americanos, continuará se envolvendo em grandes questões internacionais de segurança."
Sweig e a colega Shannon O'Neil citaram o desafio para a Casa Branca de lidar com países que não se alinham mais automaticamente aos EUA. "Obama repetirá em Santiago que quer trabalhar como iguais, não mais uma relação entre sênior e juniores", disse O'Neil.
Sweig lembrou que em 2003, como membros não permanentes do Conselho de Segurança, Chile e México se opuseram à invasão do Iraque, e que há poucos dias o ministro do Exterior de El Salvador, último país do roteiro de Obama, visitou Cuba sem que isso causasse espécie em Washington.
Embora não espere que Obama declare de modo explícito apoio à candidatura brasileira ao Conselho de Segurança, Sweig disse ver avanço na declaração recente da secretária Hillary Clinton sobre a "legitimidade" da pretensão.
"Me pareceu uma porta muito aberta, mais do que esperava."


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