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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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IRAQUE OCUPADO

RECONSTRUÇÃO

Oitenta líderes reúnem-se com americano e divulgam documento prevendo democracia

Sob protestos, começa diálogo político

DA REDAÇÃO

Os EUA promoveram ontem a primeira reunião com representantes das diversas etnias e movimentos iraquianos e sugeriram que eles colocassem suas diferenças de lado e trabalhassem para construir uma democracia no Iraque pós-Saddam Hussein.
A reunião ocorreu em meio a um crescimento de protestos em relação aos planos dos EUA de administrar interinamente o país até a eleição de um governo estritamente iraquiano.
Uma declaração de 13 pontos foi aprovada. Prevê que o Iraque será uma democracia federativa e que o partido Baath, uma das bases de sustentação do regime deposto, será banido. Um novo encontro acontecerá em dez dias.
O general da reserva americano Jay Garner, indicado pelos EUA para administrar o Iraque nas primeiras semanas após a queda de Saddam, abriu a conferência: "Que melhor aniversário pode ter um homem quando ele é comemorado não apenas no local onde a civilização começou, mas também no momento em que o Iraque livre e democrático começa a tomar forma?", disse Garner, que fez 65 anos ontem.
Os líderes religiosos e políticos se reuniram numa tenda ao lado de um dos monumentos mais famosos do Iraque, o zigurate de Ur, construído em 2100 a.C.
Ur (sul do país) foi uma das cidades mais importantes da Mesopotâmia e local de nascimento do profeta Abraão, segundo a tradição. No local, há uma base aérea tomada pelos EUA.
Garner, que chefia o Escritório para a Reconstrução e a Ajuda Humanitária (Erah), levava no peito um broche com as bandeiras dos EUA e do Iraque.
"Queremos que vocês estabeleçam seu próprio sistema democrático baseado nas tradições e nos valores iraquianos", disse Zalmay Khalilzad, enviado especial do presidente George W. Bush.
A reunião foi boicotada pelo principal grupo de oposição xiita, o Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque, baseado em Teerã (Irã). "Não podemos participar de um processo conduzido por um general americano", disse um porta-voz do grupo.
Também Ahmad Chalabi, líder do Congresso Nacional Iraquiano (movimento de oposição que atuava no exílio), não compareceu, mas mandou representante. Chalabi foi trazido para o Iraque há cerca de dez dias pelos próprios americanos.
Cerca de 80 líderes -muçulmanos xiitas e sunitas moderados e radicais, curdos e monarquistas, entre outros- participaram, muitos com o apoio político e financeiro dos EUA. O Iraque é um país dividido do ponto de vista étnico e religioso e viveu 24 anos sob a brutal ditadura de Saddam.
A declaração de 13 pontos também rejeitou a violência política e determinou que os próprios iraquianos deverão escolher seus líderes. O documento também estabeleceu que o papel da religião deverá ser discutido.
Os EUA planejam reconstruir o Estado iraquiano em fases. Dentro de aproximadamente duas semanas, Garner pretende instalar uma administração formada por americanos e, possivelmente, britânicos, auxiliada por iraquianos.
Nas semanas seguintes, os EUA realizarão uma série de reuniões semelhantes à de ontem em diferentes regiões. Dentro de alguns meses, uma conferência em Bagdá escolherá uma administração formada por iraquianos, que assumirá, progressivamente, as funções de governo. Em seguida, haveria uma Assembléia Constituinte e eleições para a escolha de um governo soberano. Segundo o premiê britânico, Tony Blair, as eleições deverão ocorrer cerca de um ano após a instalação da administração iraquiana.


Com agências internacionais


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