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Teoria da conspiração "explica" derrota
Que Saddam Hussein está escondido na Embaixada da Rússia
em Bagdá, ou na casa de parentes
em Tikrit, ou fugiu para a Síria no
porta-malas de um carro, ou continua andando incógnito a bordo
de um táxi velho pelas ruas da capital iraquiana são boatos velhos,
repetidos com pequenas diferenças diariamente pelas ruas daqui.
O que não tinha aparecido ainda era uma teoria para a (relativamente) rápida queda de Bagdá.
Pois já apareceu, no formato de
artigos e textos publicados por diversos jornais de língua árabe. Segundo a tese, o ex-ditador e equipe negociaram a entrega da capital sem muita resistência para a
coalizão desde que pudessem deixar o país sem serem pegos.
É por isso que nenhum membro
mais importante de seu ministério ou mesmo de sua família foi
capturado -com a provável exceção de Ali Químico, que teria sido morto no sul, mas de quem
ninguém viu o corpo até agora.
Enquanto isso, no Irã, dois jornais deram que teria se suicidado
o ex-ministro da Informação Mohammed Said al Sahaf, que virou
figura cult na internet e ganhou sites dedicados a suas frases desprovidas de realidade durante a
guerra. Para quem foi a mais de
dez entrevistas coletivas protagonizadas por ele, a impressão é de
que Sahaf não se suicidaria.
Pela primeira vez desde que
Saddam Hussein tomou o poder,
em 1979, alguém pôde distribuir
na capital panfletos com fotos do
líder curdo Massoud Barzani sem
que estes dissessem "Procura-se
-Vivo ou morto". Era um solitário
manifestante recém-chegado do
Curdistão, que entregava folhetos
exaltando o presidente do Partido
Democrático do Curdistão.
Reabriu anteontem o restaurante Nabil, um dos mais caros de
Bagdá -US$ 15 uma refeição
completa. Por enquanto, funciona com um cardápio reduzido: espaguete italiano (na verdade, à
bolonhesa) e espaguete mexicano
(na verdade, com pepino -?- e
filé fatiado). Mas as filas na porta
têm outra explicação: é um dos
únicos lugares de Bagdá que servem cerveja com álcool.
Os meninos voltaram a pescar
às margens do Tigre, na rua Sadeh.
Os quarteirões à beira-rio do endereço que reunia nove entre dez
figurões do regime de Saddam
Hussein eram proibidos para os
bagdalis "mortais". Não mais.
Desde a queda do regime, primeiro as casas foram saqueadas (entre elas a do ex-vice-premiê Tariq
Aziz). Agora, o povo começa a
chegar aos poucos para aproveitar a liberdade de poder frequentar a margem esquerda do Tigre.
Ontem, vários meninos nadavam e pescavam no deck que antes era exclusividade de Tariq
Aziz. No muro da casa que um dia
foi dele, alguém pichou: "Propriedade devolvida aos donos originais".
A única sede de ministério, além
da do Petróleo, que não foi bombardeada e que desde o começo
conta com a proteção integral dos
marines em Bagdá? A do Interior,
a mesma que era responsável pelas dezenas de polícias secretas
criadas por Saddam Hussein.
A gasolina barata, um dos maiores orgulhos do iraquiano, já é
história. Pelo menos em Bagdá.
Até mesmo durante a fase dos
bombardeios desta guerra, cem litros de gasolina saíam por US$
0,50 -barato mesmo para os padrões do país, onde o salário médio era de US$ 30.
Agora, com a escassez do produto, que parou de ser refinado
por Doha, principal fornecedora
da capital, dez litros não saem por
menos de US$ 5. Ou seja, paga-se
dez vezes mais para comprar dez
vezes menos.
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