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ANÁLISE
Saudita tenta dividir Ocidente e abalar apoio aos EUA no Iraque
DA REUTERS
Ao oferecer uma "trégua" aos
europeus caso eles retirem suas
tropas dos países muçulmanos, o
terrorista saudita Osama bin Laden está manobrando, com grande oportunismo, para dividir a
coalizão liderada pelos EUA e assustar seus membros mais vacilantes, tentando forçá-los a sair do
Iraque, segundo analistas.
Para eles, a suposta fita de áudio
de Bin Laden transmitida ontem
demonstra que a Al Qaeda refinou ainda mais as táticas exibidas
nos atentados do mês passado em
Madri, para tentar forçar a reversão de políticas nos países que
apóiam a "guerra ao terrorismo"
dos EUA.
Se a legitimidade da gravação
for confirmada, a fita parece ter sido calculada não só para causar
uma cisão entre os americanos e
seus aliados, mas também para
explorar os temores de que as políticas favoráveis aos EUA adotadas pelos governos dos países ocidentais estão causando riscos graves para suas populações.
"Ele é um estrategista. Segue o
princípio de dividir para governar. Está tentando iludir os líderes
ocidentais e fazer com que a opinião pública do Ocidente se volte
contra seus líderes", disse o analista de segurança Rohan Gunaratna. "É provável que Bin Laden
ataque a Europa e é provável que
diga aos povos e aos líderes europeus que lhes deu uma chance de
trégua", acrescentou.
Os especialistas dizem que não é
por acaso que a fita tenha sido divulgada em um momento de tensão aguda no Iraque, onde as forças sob comando americano enfrentam um novo levante de xiitas
apenas dois meses e meio antes da
data planejada para a transferência de poder aos iraquianos.
Países "aterrorizados"
Ainda que a Al Qaeda não tenha
sido vinculada à recente onda de
seqüestros de estrangeiros no Iraque, os analistas dizem que as táticas de Bin Laden tinham por objetivo exercer o mesmo tipo de
pressão sobre os mesmos países.
Magnus Ranstorp, um especialista em segurança e terrorismo
que trabalha no Reino Unido, disse que a mensagem pode se provar especialmente forte em países
como o Japão e a Polônia, "que
não estão acostumados a enfrentar terrorismo de fonte estrangeira em seus territórios e cujas populações estão aterrorizadas
diante da perspectiva de se tornarem alvo da Al Qaeda".
Sublinhando a mudança de tática, a gravação parece marcar a
primeira ocasião em que Bin Laden oferece uma perspectiva de
"recompensa" aos países dispostos a ceder às exigências da Al
Qaeda. A oferta de trégua, que se
dirige à Europa, mas não aos
EUA, foi imediatamente rejeitada
pela Alemanha, pelo Reino Unido
e pela Comissão Européia.
A tentativa direta de forçar mudanças de política externa também surgiu na época dos atentados em Madri, que aconteceram
três dias antes de uma eleição geral e ajudaram a conduzir ao poder um socialista cujo compromisso de campanha era tirar as
tropas espanholas do Iraque.
A gravação de Bin Laden admitia indiretamente a responsabilidade da Al Qaeda pelos ataques
que mataram 191 pessoas em 11 de
março, descrevendo-os como retaliação pelo papel da Espanha no
Iraque, no Afeganistão e com relação aos palestinos.
Em outra referência significativa aos acontecimentos das últimas semanas, ele prometeu vingança contra os EUA, e não Israel,
pelo assassinato do xeque Ahmed
Yassin, o líder do grupo terrorista
palestino Hamas, em um ataque
israelense.
Corações e mentes
Os especialistas dizem que a
mensagem que o líder da Al Qaeda está enviando aos seus seguidores é tão importante quanto os
sinais dirigidos ao Ocidente.
"Ele está apelando, como um
homem bastante razoável, aos
grandes segmentos de muçulmanos moderados", disse Gunaratna, radicado em Cingapura e autor de "Inside al Qaeda: Global
Network of Terror" (dentro da Al
Qaeda: a rede mundial de terror).
"É um grande exercício de conquista de corações e mentes, essencial para a manutenção da luta
da Al Qaeda", disse.
Ranstorp apontou que a oferta
de uma trégua -"hudna", em
árabe- também tem ressonância
histórica para os muçulmanos,
devido ao cessar-fogo que o profeta Muhammad utilizou para
permitir que suas forças se reagrupassem com o objetivo de, enfim, derrotar um inimigo de poderio superior.
Mas Ranstorp diz que a estratégia subjacente da Al Qaeda, de
uma "guerra santa" mundial ilimitada contra os "infiéis", não sofreu alterações. "Qualquer tipo de
cessar-fogo, ao final do processo,
será uma miragem, porque o que
estamos enfrentando aqui é, na
verdade, um terrorismo estratégico, uma força que voltará ainda
mais vigorosa caso baixemos a
guarda. A visão estratégica continua a mesma: a inimizade absoluta, a guerra perpétua, os objetivos
que não são passíveis de negociação. Como chegar lá depende de
sua capacidade de manobra."
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