São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 2002

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EUROPA

Oposição de direita derrota coalizão no poder; partido do líder extremista assassinado pode fazer parte do governo

Extrema direita se torna 2ª força na Holanda

ROBERT WIELAARD
DA ASSOCIATED PRESS, EM AMSTERDÃ

Os partidos de oposição holandeses, incluindo a formação de extrema direita de Pim Fortuyn, o líder populista assassinado na semana passada, foram os grandes vencedores da eleição de ontem, de acordo com as primeiras pesquisas de boca-de-urna.
Os democrata-cristãos, que fizeram parte de todos os governos holandeses do pós-guerra até 1994, conquistaram 40 das 150 cadeiras do Parlamento, segundo as primeiras pesquisas. Já a Lista Pim Fortuyn, que engloba formações de extrema direita regionais, obteve 26 cadeiras, de acordo com as mesmas fontes.
Segundo os resultados da boca-de-urna, os trabalhistas (que apóiam o premiê Wim Kok) e os liberais, que também fazem parte da atual coalizão governamental, conquistaram 24 cadeiras cada.
Se confirmados, esses resultados representarão uma clara derrota para Kok. Seu governo obteve bons resultados no âmbito econômico, mas, aparentemente, foi punido pelos eleitores por ignorar as preocupações dos holandeses com as drogas, com a imigração e com a insegurança.
Fortuyn, 54, colocou esses temas na pauta da campanha eleitoral, aproveitando-se do descontentamento dos eleitores com a "uniformização" dos partidos tradicionais e com as políticas eminentemente tolerantes dos sucessivos governos do país.
Ele foi assassinado a tiros, em 6 de maio, depois de conceder uma entrevista a uma rádio. Sua morte chocou o país, que tem 16 milhões de habitantes. Até então, os holandeses se orgulhavam da estabilidade e do caráter consensual da cena política nacional.
Os resultados projetados caracterizam uma surpreendente vitória dos democrata-cristãos, pois, segundo pesquisas de intenção de voto publicadas antes do pleito, eles deveriam obter apenas uma pequena vantagem sobre cada um dos partidos da atual coalizão governamental. Com isso, Jan Peter Balkenende, 46, um professor de filosofia cristão, deverá ser o novo premiê holandês.
"As pessoas querem outro tipo de política", declarou Balkenende ao tomar conhecimento da boca-de-urna, em Haia. Ele disse ainda que estava pronto para começar a negociar a formação de um novo governo com outros partidos. "Não fugirei de minhas responsabilidades. Apresentaremos nossas idéias e veremos com quem conseguiremos negociar."
O assassinato de Fortuyn deixou o movimento que leva seu nome sem líder, provocando dúvidas sobre seu futuro político. A provável votação obtida pela Lista Pim Fortuyn ontem é ainda mais notável porque ela só passou a existir há três meses.
"É uma honra", declarou o porta-voz da Lista Pim Fortuyn, Mat Herben, pouco depois do anúncio dos resultados das pesquisas de boca-de-urna.
"Tudo vai muito bem", acrescentou o número dois da lista, João Varela, um negro originário de Cabo Verde. Ele deu a entender que seu partido poderia exigir as pastas da Saúde, da Integração e do Interior para participar do governo.
Com os resultados projetados de ontem, os democrata-cristãos, a extrema direita e os liberais poderiam formar uma aliança que lhes daria uma confortável maioria no Parlamento, constituindo, assim, um governo de direita. Porém um acordo quanto ao programa do novo governo não será fácil de ser alcançado pelos líderes dessas formações.
O líder dos trabalhistas, Ad Melkert, renunciou após a divulgação da boca-de-urna.



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