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ATAQUE
Bush é "o maior genocida da história", diz Chávez
Em visita a Londres, venezuelano se diz ofendido por ter sido comparado ao americano, "um assassino, um imoral"
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
Recebido como herói da esquerda mundial pelo prefeito de
Londres, Ken Livingstone, o presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, exercitou ontem na capital britânica o seu papel preferido, de inimigo do império e
mártir dos injustiçados.
Como de hábito, sobrou para o
presidente americano, George
W. Bush. Mas sobrou também
para os jornalistas que tentaram
questionar o convidado.
Numa entrevista coletiva na
sede da Prefeitura londrina, um
prédio futurista à beira do rio Tâmisa, um Chávez às vezes desafiador e noutras cômico deu uma
espécie de show para inglês ver.
O estilo ficou evidente já na
primeira resposta. O representante da rede americana CNN
quis saber se a ausência de um
encontro com Tony Blair na visita fora decisão do primeiro-ministro, de quem o venezuelano se
afastou nos últimos anos, ou do
próprio Chávez.
Embora o repórter tenha se
apresentado claramente antes de
falar, Chávez fez questão de perguntar-lhe de novo de que meio
era, uma evidente provocação à
gigante rede de TV americana.
Aí chamou a pergunta de "boba"
e "estúpida". "Se qualquer pessoa vai a Madri visitar familiares,
ninguém vai perguntar porque
não foi recebido pelo rei Juan
Carlos. Eu vim numa visita privada de uma importância humana imensa, você não percebe?"
Em seguida, uma jornalista da
rede britânica BBC em espanhol
questionou Chávez sobre comparações que a imprensa faz dele
com Bush, em relação à atitude
"ou está comigo ou é contra
mim" de ambos.
"É a primeira vez que me ofendem assim em público", disparou o presidente, "ao comparar-me com o maior genocida da
história da humanidade."
"[Bush é] um assassino, um imoral, que deveria ser levado à prisão por uma corte penal internacional. Invadi algum país, bombardeamos alguma cidade, utilizamos a CIA para matar presidentes?"
Chávez elogiou o prédio da
prefeitura, com sua arquitetura
em vidro energeticamente correta, em contraposição à das torres
do World Trade Center, atacadas
no 11 de Setembro, edifícios "que
consumiam mais energia que
muitos países".
Ele também um polemista desbocado, Livingstone -que ontem escreveu um artigo no diário
"The Guardian" no qual afirma
que "o progresso social e a democracia andam de mãos dadas
na Venezuela e merecem apoio
inequívoco"- sorria a cada resposta do convidado.
Irã e petróleo
Foram poucas questões, com
os perguntadores escolhidos pelo próprio Livingstone. Chávez
não falou da crise Brasil/Bolívia,
mas ofereceu as vastas reservas
de petróleo e gás da Venezuela
aos pobres de todo o mundo.
"Queremos compartilhar isso
com os povos."
E, à maneira do que já faz com
os EUA, ofereceu aos britânicos
de baixa renda fornecimento de
óleo para calefação a preços reduzidos, sem explicar como isso
seria viabilizado.
Ele classificou de "loucura" um
eventual ataque dos EUA ao Irã e
previu que, caso essa nova guerra exploda, o preço do barril do
petróleo, hoje na casa dos US$
70, poderia ultrapassar US$ 100.
Chávez disse estar "seguro" de
que os iranianos não estão produzindo a bomba atômica e defendeu o direito do país de produzir energia nuclear para fins
pacíficos. Afirmou ainda que
não planeja suspender a venda
de petróleo aos EUA em caso de
um novo ataque militar no
Oriente Médio.
E ironizou, ao ser questionado
sobre um plano para, junto com
Bolívia e Peru, monopolizar o
controle do gás na América do
Sul. "Agora criaram um Chávez
imperialista, que anda utilizando
petróleo para dominar países.
Não tenho dúvida de que essa é
uma cartilha elaborada por Washington. Agora sou o império,
que coisa mais absurda."
Gosto pelo discurso
Interlocutor freqüente e parceiro do ditador cubano, Fidel
Castro, Chávez mostrou em
Londres que outras semelhanças
com o colega. Na noite de anteontem, num encontro com
sindicalistas e representantes da
comunidade venezuelana na cidade, fez um discurso de três horas e meia -sempre de pé.
Ontem à noite, numa palestra
organizada pelo instituto latino-americano e ibérico Canning
House, na qual exaltou as conquistas sociais do seu governo,
foi mais contido: falou por "apenas" duas horas.
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