São Paulo, domingo, 16 de maio de 2010

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Base americana ameaça governo do Japão

Não cumprimento de promessa de transferir instalação, aliado a indecisão política, pode derrubar premiê

DO "FINANCIAL TIMES", EM TÓQUIO

Após oito meses liderando a mais importante transformação política do Japão em décadas, o premiê Yukio Hatoyama tem se esforçado para agradar a todos. Mas sua recompensa é um índice de mais de 60% de desaprovação a seu gabinete.
Uma incapacidade de tomar decisões difíceis, escândalos de financiamento e um desastre político ligado a um plano polêmico de transferência de uma base naval americana estão levando muitos analistas políticos a retratar Hatoyama como um governante sem condições de tomar medidas decisivas. E isso menos de um ano depois de ele ter conduzido o Partido Democrático (PDJ) para uma histórica e arrasadora vitória eleitoral sobre o Partido Liberal Democrático (PLD).
Desde então, o partido governista tem tentado mudar o modo de funcionamento do governo, revitalizar a economia estagnada do país e recalibrar as relações com vizinhos asiáticos e os EUA, esforços que agora correm o risco de fracassar.
Embora aplaudam as boas intenções de Hatoyama, analistas criticam fortemente sua liderança, em um momento em que o Japão necessita tomar decisões difíceis sobre o lugar que ocupa no mundo e sobre a sua capacidade de suportar uma dívida pública crescente.
A indecisão de Hatoyama em relação ao que fazer com a base naval americana de Futenma vem sendo especialmente prejudicial. Primeiro, desagradou a Washington ao insistir em rever um acordo para a transferência da base para outro local da ilha meridional de Okinawa.
Depois, após meses de tentativas, enfureceu muitas pessoas em Okinawa ao dizer que elas terão que continuar a abrigar a maioria das funções da base.
Nesta semana Hatoyama finalmente foi forçado a reconhecer que é improvável que cumpra o prazo que ele se impôs para resolver o problema de Futenma, este mês.
Ontem, o jornal japonês Sankei Shimbum disse que o governo decidiu adiar para novembro a decisão final sobre o fechamento da base. Só que a gestão de Hatoyama pode não chegar até lá. Analistas avaliam que é improvável que o governo resista à importante eleição de novos membros da Câmara Alta japonesa, marcada para julho.

Algumas vitórias
Apesar disso tudo, o premiê tem tido algumas vitórias. Logo, o auxílio-criança estará ajudando pais, incentivando consumo e talvez até mesmo o índice de natalidade, num nível perigosamente baixo no país.
Ministros chegaram a quebrar o monopólio da grande mídia sobre o acesso ao governo, abrindo coletivas de imprensa.
Mas iniciativas como essas vêm sendo lançadas na sombra por resquícios da política à moda antiga, sob a forma dos escândalos de financiamento sofridos por Hatoyama e por Ichiro Ozawa, secretário do PDJ.


Tradução de CLARA ALLAIN


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