São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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EUROPA À DIREITA
Segundo turno encerra hoje ciclo eleitoral e pode confirmar triunfo do bloco conservador e de Jacques Chirac
França encerra maratona eleitoral hoje

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Chega hoje ao fim a maratona eleitoral da França de 2002, iniciada em abril com a disputa presidencial e um dos períodos mais turbulentos da história recente do país. Pela quarta vez em menos de dois meses, os franceses vão às urnas, agora para definir os seus deputados no segundo turno das eleições legislativas.
Os resultados devem confirmar a vitória do bloco de centro-direita, já prevista no primeiro turno, há uma semana, e também o triunfo do presidente Jacques Chirac, que terá maioria parlamentar e um poder enorme, o maior em décadas na França.
Segundo pesquisas de opinião, 56% dos franceses pretendem votar hoje em candidatos da centro-direita, que conquistariam entre 408 e 444 cadeiras na Assembléia Nacional -composta de 577 deputados. Sozinho, o partido de Chirac, União pela Maioria Presidencial (UMP), deve obter entre 384 e 414 cadeiras.
Os partidos de esquerda, somados, terão entre 130 e 172 cadeiras. O Partido Socialista (PS) pode fazer entre 115 e 145 deputados. A Frente Nacional, do líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen, estopim de toda a convulsão política no país desde abril, não deverá fazer nenhum deputado.
A vitória do centro-direita vai encerrar cinco anos de maioria legislativa do centro-esquerda e permitir a Chirac ter sob sua influência várias instâncias do Estado -desde a chefia de governo, entregue por ele ao premiê Jean-Pierre Raffarin, até o importante Conselho Constitucional, que abona as mudanças na lei.
O presidente também se firma como o mentor da maior força política do país, o UMP, criado em abril para enfrentar as eleições legislativas e que agremiou três partidos de centro-direita.
A criação desse partido, que ainda precisa passar pelo teste da vida legislativa, é uma das principais causas do êxito do centro-direita nas eleições. A reunião de forças comuns sob uma nova sigla causou nos franceses um sentimento de determinação e renovação que os socialistas não conseguiram provocar depois de sua derrota nas presidenciais.
Os socialistas lutaram nos últimos dias para aumentar sua bancada, tentando convencer os abstencionistas a votar. O índice de abstenção no primeiro turno das legislativas teve alta histórica, chegando a 35,6% dos quase 41 milhões de eleitores, o suficiente para erguer um partido do nada.
Devido à abstenção, a direita não quis proclamar vitória, temendo surpresas. "Até que o segundo turno não tenha acabado, às 17h59 [de hoje", é preciso estar atento", disse Raffarin, que deve permanecer como premiê com a vitória do centro-direita.
A previsão dos institutos de pesquisa, contudo, é que a abstenção seja novamente alta nas eleições de hoje. Ela tem crescido nos últimos anos e está preocupando bastante a opinião pública, sobretudo de esquerda. Nas eleições presidenciais, a abstenção chegou a 28,4% no primeiro turno, contribuindo para a derrota do candidato socialista Lionel Jospin.
Para analistas, as causas da abstenção são o desinteresse pelos grandes partidos tradicionais e pela política em geral. No caso das legislativas, ela se deve ainda à previsibilidade do resultado. "A vitória da direita é esperada sem surpresa pelos franceses", disse o diretor-geral do instituto Ipsos, Pierre Giacometti.
Pesquisa do jornal "Le Monde" demonstrou que a maioria dos abstencionistas (das legislativas) tem entre 25 e 34 anos (51%) e é desempregada (59%). Uma boa parte é composta de operários (44%) e pessoas sem curso universitário (40%). Para 42%, os políticos não inspiram confiança. Apenas 30% disseram que mudaram de idéia e decidiram votar.
O abstencionismo está prejudicando não só a esquerda, mas também a extrema direita. Eleitores que optaram por essa tendência nas eleições presidenciais teriam agora se conformado com a vitória do centro-direita em seus distritos e não iriam votar.
A Frente Nacional é um dos principais partidos derrotados nas eleições legislativas, o que não se esperava. Le Pen provocou um verdadeiro redemoinho político na França, ao obter 16,9% dos votos em 21 de abril, superando Jospin (16,1%) e chegando com Chirac (19,9%) ao segundo turno das eleições presidenciais.
O avanço do extremista Le Pen fez as forças de esquerda se mobilizarem em favor de Chirac, em nome dos princípios republicanos. Durante 15 dias, a França entrou em ebulição com manifestações diárias contra Le Pen e a favor do voto útil em Chirac, eleito com 82,2% dos votos.
A opinião pública democrata está aliviada com o fato de o partido extremista ter alcançado apenas 11,1% dos votos nas atuais legislativas e ter pouquíssimas chances de eleger um deputado. O fracasso da FN é tanto maior quando se compara com a performance do partido em 1997, quando conseguiu levar 207 candidatos ao segundo turno e eleger um para a Assembléia Nacional.
Outro derrotado nas atuais legislativas é o Partido Comunista Francês, que também malogrou nas presidenciais. O PCF deve fazer entre 14 e 22 deputados desta vez. Em 1997, chegou a eleger 39.
No primeiro turno das legislativas concorreram 8.456 candidatos, um outro recorde histórico. Desta vez, restaram 1.045, que disputam em 519 dos 577 distritos eleitorais. Em 58 deles, os deputados já foram definidos. O UPM de Chirac ganhou em 46 circunscrições e os socialistas, em duas.



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