São Paulo, Quarta-feira, 16 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REGIME AMEAÇADO
Líderes religiosos querem "governo de salvação nacional"; presidente fala em reconciliação com o mundo
Igreja Ortodoxa pede renúncia de Milosevic

das agências internacionais


O sínodo da Igreja Ortodoxa sérvia se uniu ontem ao grupo de descontentes com o regime do ditador Slobodan Milosevic e pediu a renúncia do presidente iugoslavo.
"Pedimos que o presidente e seu governo renunciem em nome do interesse e da salvação do povo, para que novas autoridades aceitáveis domesticamente e no exterior possam assumir a responsabilidade pelo povo e seu futuro, como um governo de salvação nacional", disse comunicado da assembléia de bispos, responsável pela tomada de decisões na igreja.
A Igreja Ortodoxa sérvia é uma das instituições mais influentes do país. Cerca de 70% da população da atual Iugoslávia (formada por duas Repúblicas, Sérvia e Montenegro) é adepta da religião.
Aparentemente pressionado pela oposição interna ao seu governo, Milosevic mostrou ontem sinais de moderação em sua segunda aparição pública em dois dias.
Pela primeira vez em anos, ele falou de reconciliação entre a Sérvia e o resto do mundo.
"Espero que nosso país nunca mais passe por outra guerra, que nosso país possa se desenvolver, feliz e livre... porque paz, liberdade e democracia não podem ser separadas", afirmou ele.
Milosevic discursou a moradores de Aleksinac, cidade da região central da Sérvia que foi devastada por bombas da Otan (aliança militar ocidental) que erraram o alvo.
Anteontem, em Novi Sad, Milosevic afirmou que o governo está se empenhando na reconstrução do país.
"Ao reconstruir nosso país nós renovaremos os laços com todo o mundo", disse o presidente, segundo a agência de notícias oficial "Tanjug".
O pedido pela renúncia recebeu o apoio de Zoran Djindjic, líder do Partido Democrático, o maior da oposição sérvia.
Segundo ele, a reação da igreja prova que "está claro para todos que não há futuro com Milosevic". Djindjic fugiu para Montenegro depois de ser chamado de traidor pela mídia sérvia. Ele afirmou que a adesão da igreja ao pedido da oposição é importante, porque serviria como fator de união e evitaria uma guerra civil no país.
O líder oposicionista moderado Vuk Draskovic afirmou que Milosevic deve se limitar a exercer o papel cerimonial previsto para o presidente pela Constituição do país.
"O presidente tem função nominal, com menos poderes que a rainha da Inglaterra", disse Draskovic, demitido do posto de vice-premiê depois de declarar aceitar a entrada de uma força da Otan, o que depois acabou sendo aceito também por Milosevic.


Texto Anterior: Otan acha corpos carbonizados
Próximo Texto: Conflitos deixam pelo menos cinco mortos na Província
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.