São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002 |
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AMÉRICA LATINA Quatro são feridos a bala em Ciudad del Este; governo acusa grupo de Oviedo de tentar desestabilizá-lo Paraguai decreta exceção após protestos
ROGERIO WASSERMANN DA REDAÇÃO O presidente do Paraguai, Luiz González Macchi, decretou ontem estado de exceção no país, por um período de cinco dias, após quatro pessoas terem sido feridas a tiros durante protestos realizados ontem em todo o país contra seu governo. Diversas vias foram interrompidas ontem pelos manifestantes, entre elas as pontes da Amizade, em Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil, e San Roque González de Santacruz, em Encarnación, na fronteira com a Argentina. Também houve uma grande concentração de manifestantes em frente ao Congresso Nacional, no centro da capital, Assunção. Quatro pessoas, incluindo um menino de 11 anos, ficaram feridas a bala em Ciudad del Este após confronto com a polícia, que conseguiu desobstruir a ponte. O governo acusa o grupo político do ex-general Lino Oviedo, que liderou um golpe contra o então presidente Juan Carlos Wasmosy em 1996 e que vive atualmente no Brasil, de estar por trás dos protestos, com o objetivo de desestabilizar o país. A Unace (União Nacional de Cidadãos Éticos), agrupação política de Oviedo, e o PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), do vice-presidente Julio César Franco, negaram ter organizado as manifestações, mas declararam seu apoio aos protestos. Com o estado de exceção decretado ontem, o governo limita as liberdades civis, com a proibição de manifestações públicas e reuniões políticas, a possibilidade de mobilização das Forças Armadas para o policiamento e a permissão para detenções por meio de decretos presidenciais. Desestabilização Segundo analistas, Oviedo pretenderia com as manifestações desestabilizar o governo e lutar pelo seu retorno ao Paraguai e por uma anistia que permitisse a ele participar das próximas eleições presidenciais, previstas para daqui a dez meses. O mandato de Macchi se encerra em agosto do ano que vem. Oviedo, acusado pelo assassinato do então vice-presidente Luis Maria Argaña, em 1999, tem mandado de prisão decretado no Paraguai. O governo o acusa também por outra tentativa de golpe ocorrida em maio de 2000. "Oviedo vê que o tempo para que ele possa voltar ao país e se candidatar à Presidência está acabando. Ele deseja a saída de Macchi para que Franco, seu vice, assuma o cargo e o anistie", disse à Folha o jornalista José Posso, editor de política do "La Nación", de Assunção. Apesar de pertencer a um partido diferente do de Oviedo, Franco tem uma dívida política com o ex-general pelo apoio que este lhe deu na eleição à Vice-Presidência, em 2000. Macchi, que não foi eleito ao cargo -assumiu-o, como presidente do Congresso, após o assassinato de Argaña e a renúncia do presidente, Raúl Cubas Grau, também acusado pelo crime-, vem sofrendo com frequência tentativas de desestabilização e pedidos de renúncia. Para os analistas ouvidos pela Folha, a chance de um golpe militar contra Macchi é baixa, porque o governo tem controle quase total sobre as Forças Armadas. Apesar de Oviedo contar com um forte respaldo popular -as pesquisas o colocam como vencedor numa eventual disputa à Presidência-, eles também consideram pouco provável que se repitam as mobilizações de março de 1999, após o assassinato de Argaña, quando as manifestações populares, que terminaram com a morte de oito pessoas, obrigaram Cubas Grau a renunciar. Com agências internacionais Próximo Texto: Oviedistas negam participação Índice |
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