São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Confissão foi feita após acordo com o governo: ele ajudará com informações e, em troca, ficará 20 anos detido

Americano do Taleban assume culpa e tem pena reduzida

DA REDAÇÃO

John Walker Lindh, 21, o americano que fazia parte do regime extremista islâmico do Taleban e foi capturado na ofensiva dos EUA no Afeganistão, admitiu ser culpado nas duas principais acusações que lhe foram feitas: ajudar o Taleban, inimigo dos EUA, e ter carregado armas e explosivos.
A confissão foi realizada após surpreendente acordo de seus advogados com promotores para livrá-lo da prisão perpétua.
O governo dos EUA saudou a confissão como uma importante vitória e afirmou que Lindh deve cooperar com investigadores dos serviços de inteligência norte-americanos em esforços antiterrorismo. Em troca, sua pena será reduzida para 20 anos.
Lindh entrou no tribunal em Alexandria (Virgínia) e sorriu rapidamente para seus familiares. Ele sentou ao lado de seus advogados na sua segunda audiência.
"Eu admito ser culpado, senhor", disse Lindh para o juiz, assumindo as duas acusações.
Segundo o acordo com os promotores, Lindh cumprirá duas sentenças seguidas de dez anos. "O tribunal aceita a sua confissão voluntária e agora o considera culpado", disse o juiz T. S. Ellis 3º.

Soldado
Com seus pais e a irmã sentados atrás dele, Lindh se levantou para encarar o juiz e disse com suas próprias palavras os crimes que cometeu: "Eu servi como soldado do Taleban no ano passado, entre agosto e novembro. Nesse período, carreguei um rifle e duas granadas."
O promotor-chefe do caso, Paul J. McNulty, disse que a confissão "é uma importante vitória para a população americana na guerra contra o terrorismo".
Salientando a cooperação de Lindh, o secretário da Justiça dos EUA, John Ashcroft, saudou a confissão. "Agora ele passará os próximos 20 anos na prisão , mais ou menos o mesmo tempo que ele está vivo", disse.
O presidente dos EUA, George W. Bush, aprovou o acordo entre os promotores e os advogados de defesa, de acordo com autoridades da Casa Branca.
No Pentágono, a porta-voz Victoria Clarke disse que, como parte do acordo, Lindh concordou em "cooperar fornecendo informações de inteligência" sobre o taleban e a rede terrorista Al Qaeda, comandada por Osama bin Laden, que assumiu em vídeo ter envolvimento nos atentados de 11 de setembro.
Lindh cresceu na Califórnia e se converteu na adolescência para o islamismo, indo morar no Paquistão e no Afeganistão, onde passou a integrar o Taleban.
Em dezembro, ele foi descoberto pela rede de TV CNN, que o entrevistou em uma cama de um hospital no Afeganistão. Ele estava entre os prisioneiros capturados pelas forças americanas. Na época, Lindh estava barbudo e com os cabelos longos. Ele admitiu em entrevista ter conhecido Bin Laden.
O juiz teria tomado conhecimento do acordo apenas 20 minutos antes de iniciada a audiência, segundo fontes do Departamento de Justiça, citadas pela agência de notícias internacionais Associated Press.

Mandela
Frank Lindh, pai do americano do Taleban, disse ter ficado satisfeito com o acordo. Em conversa com o filho, ele afirmou que John deveria estar preparado para enfrentar os anos na prisão.
"Nelson Mandela [ex-presidente da África do Sul" passou 26 anos preso, e eu expliquei isso a meu filho", disse Frank Lindh.
Marilyn Walker, a mãe, afirmou que o filho foi ao Afeganistão "para satisfazer sua sede pelo islamismo". "Ele não foi ao Afeganistão com o objetivo de lutar contra os Estados Unidos", acrescentou a mãe do condenado.


Com agências internacionais


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